Zona de guerra: PF e Força Nacional prendem familiares de Pavão prontos para atacar Minotauro

Em operação realizada na tarde de ontem (7) em Ponta Porã (MS), agentes da Polícia Federal e da Força Nacional de Segurança Pública prenderam o “clã” do narcotraficante brasileiro Jarvis Chimenes Pavão e, por tabela, impediram que fosse adiante um grande plano de vingança contra as ações encabeçadas pelo também narcotraficante brasileiro Sergio de Arruda Quintiliano Neto, 36 anos, mais conhecido como “Minotauro”, que é o atual “chefão” da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) na fronteira.

Na ação policial conjunta, foram presos o tio e um sobrinho de Jarvis Chimenes Pavão quando eles se preparavam, com uma dúzia de homens armados, para atravessar a fronteira de Ponta Porã (MS) para Pedro Juan Caballero, no Paraguai, onde a vingança contra Minotauro seria colocada em prática. A megaoperação aconteceu na residência do político brasileiro Francisco Chimenes, tio de Jarvis Chimenes Pavão, que atualmente cumpre pena em um Presídio Federal no Brasil.

A operação ocorreu na Vila Militar, em Ponta Porã (MS), a 500 metros da fronteira com Pedro Juan Caballero (PY)i, e foi executado por agentes da Polícia Federal e fuzileiros da Força Nacional de Segurança Pública, que é um comando de elite integrado por todas as agências de segurança do Brasil. De acordo com os dados obtidos pela reportagem, os principais detidos eram justamente Chico Chimenes, 60 anos, que foi candidato a prefeito de Ponta Porã na última eleição, e seu sobrinho Jonathan Chimenes, 37 anos, ambos brasileiros, mas este último também tem carteira de identidade paraguaia.

Preparações

O serviço de inteligência da Polícia Federal interceptou um relatório e percebeu que Chico Chimenes e Jonathan Chimenes estavam reunindo um grupo de pistoleiros para atravessar de Ponta Porã para Pedro Juan Caballero e efetuar a vingança contra a facção criminosa brasileira PCC liderada por Minotauro, que no Paraguai usa um documento em nome de Celso Matos Espíndola. Isso porque Minotauro foi o mandante do atentado realizado na terça-feira passada, em Pedro Juan Caballero, contra Pedro Chimenes da Luz, 24 anos, conhecido como Pedrinho, um dos sobrinhos de Jarvis Chimenes Pavão.

Pedrinho, no entanto, sobreviveu ao ataque graças à blindagem da caminhonete Ford F150 Raptor, que ele conduzia acompanhado por dois seguranças armados. Entre os 12 detidos, além de Chico Chimenes e Jonathan Chimenes, estão os paraguaios Rosalino Baez, 42 anos, e Javier Riky Baez Gonzalez, 22 anos, que supostamente seriam utilizados como atiradores, bem como os brasileiros Eudes Antônio Gonçalves Araújo, 26 anos, Marcelo Jarcem de Oliveira, 41 anos, e Cícero Novais da Silva, 43 anos.

Ainda durante a operação, foram apreendidas várias armas e munições de grosso calibre, bem como veículos e mais de US$ 60 mil em dinheiro. Após essa oportuna intervenção dos agentes brasileiros, a Polícia Nacional do Paraguai ficou em estado de alerta diante da possibilidade de que qualquer um dos lados quisesse se antecipar ao outro.

Preso

O principal afetado pela guerra do narcotráfico que eclodiu em Pedro Juan Caballero, Jarvis Chimenes Pavão, supostamente nem sabe exatamente o que está acontecendo com sua família porque permanece totalmente isolado no Presídio Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. O outrora grande “chefão” da frontera, que passou oito anos preso no Paraguai, de 2009 a 2017, já sofreu vários outros golpes nos últimos tempos devido ao assassinato sistemático de todos os seus “tentáculos”.

Por exemplo, algumas das vítimas da guerra foram seu secretário Paulo Jacques, baleado em Assunção, seu irmão Ronny Chimenes Pavão, falecido em Ponta Porã, seu sobrinho Willian Chimenes Bernal, morto com seu filho de 5 anos de idade em Assunção, e sua advogada Laura Casuso, foi eliminada em Pedro Juan Caballero.

Os membros do outro lado

A guerra declarada em Pedro Juan Caballero contra o clã de Jarvis Chimenes Pavão é comanda por pelo menos quatro principais representantes da facção criminosa brasileira PCC, que tenta ocupar a fronteira e é liderada por Minotauro. Ele era o homem de confiança do narcotraficante e contrabandista Jorge Rafaat Toumani, o “Rei da Fronteira”, e agora pretende reativar o negócio de seu chefe assassinado em 15 de junho de 2016.

Minotauro busca se aproveitar também da extradição de Jarvis Chimenes Pavão, que ocorreu em 28 de dezembro de 2017, e da captura de Elton Leonel Rumich da Silva, o “Galã”, em 27 de fevereiro de 2018 no Rio de Janeiro. Ele aproveitou-se do trânsito livre em Pedro Juan Caballero para se posicionar como o novo chefe, embora primeiro ele queira eliminar toda a oposição possível.

Sua última vítima foi a advogada Laura Casuso, mas ele também ordenou a tentativa frustrada de execução de Pedro Chimenes da Luz, o “Pedrinho”, sobrinho de Jarvis Chimenes Pavão. O principal aliado do Minotauro nessa guerra seria Adair José Belo, 47 anos, ex-policial militar e foragido de um presídio em Goiás.

A Polícia informou que Adair José Belo era marido de Josiane Vanessa Zilio, uma brasileira que foi baleada na frente de seus dois filhos em 31 de agosto de 2016, em Pedro Juan Caballero. Esse crime seria a principal motivação para o envolvimento dele nessa guerra do tráfico porque, supostamente, a ordem de matar sua esposa veio do clã Pavão.

Em vingança, Adair Belo ordenou o assassinato de Ronny Chimenes Pavão, irmão de Jarvis, em um atentado perpetrado em 14 de março de 2017 na cidade brasileira de Ponta Porã. Outro líder dessa organização seria Enildo Cristiano Mascarenha de Melo, 40 anos, o “Zula”, que havia sido preso em Assunção em 2004, na companhia de outro brasileiro e de um paraguaio.

Mais tarde ele foi investigado pelo ataque contra o político liberal Robert Acevedo, ocorrido em 26 de abril de 2010 em Pedro Juan Caballero. O último indiciado é Levi Adriani Felicio, 52 anos, alegado fornecedor de armas que supostamente operava com ambos os lados, mas que ultimamente teria tomado partido em favor do Minotauro.