A medição feita nesta semana no município de Ladário marcou 7 centímetros, sendo que os órgãos ambientais do Estado já consideram 35 cm como estiagem.
O Paraguai é um dos principais rios da bacia do Pantanal e o pesquisador Carlos Padovani, que trabalha na Embrapa Pantanal e há anos acompanha o comportamento dos rios de Mato Grosso do Sul, diz que o cenário é preocupante.
Ele destacou que tem chovido, mas a chuva não tem influenciado no nível dos rios porque é necessária muita chuva para infiltrar no solo e encher nos rios. As chuvas estão irregulares e está fazendo muito calor, o que também contribui para que a chuva seja insuficiente.
O pesquisador lembra que logo mais, nas próximas semanas, encerra-se o período chuvoso e começa a estiagem propriamente dita, só que os rios não encheram o suficiente para atravessar esse período com tranquilidade.
No Rio Miranda, a última vez que a água tocou a ponte que atravessa o município de Bonito foi em 2018. Ano de cheia histórica, em que ribeirinhos tiveram que desocupar casas e contar com a força física para carregar pertences até as partes mais altas.
Os ciclos naturais de chuvas estão desregrados e provavelmente atrapalharão a pesca nos próximos dois anos. Como os pescadores antigos explicavam e a gente aprendeu, não tem desova se o rio não enche. Peixe de escama cresce num tamanho bom para pesca em um ano e o de couro, em dois anos.
Este mês de março, que normalmente é de cheia para o rio, não trouxe as chuvas volumosas esperadas. A organização SOS Pantanal, que realiza pesquisa junto aos ribeirinhos, registrou a situação e publicou nas redes sociais um vídeo que viralizou.
Nele, o pesquisador Gustavo Figueirôa relaciona o que está acontecendo como consequência do desmatamento e degradação de áreas de Cerrado, Mata Atlântica e do Pantanal, falta de curvas de nível e matas ciliares em propriedades rurais próximas e o aquecimento global, que causa aumento das temperaturas e altera o ciclo de chuvas.
Como o Rio Miranda é afluente da Bacia do Paraguai, níveis de rios “vizinhos” como o Ladário servem de referência para medição. A régua da Marinha aponta que é a pior seca desde 2017, e que o nível já esteve mais de três vezes maior.
A 150 quilômetros dali, o Pantanal compartilha das consequências da seca histórica também no Rio Paraguai, o responsável pelas inundações que regem a vida no bioma.
A situação é monitorada com atenção desde o início deste ano. O pesquisador em geociências do Serviço Geológico do Brasil, Marcus Suassuna, explicou que os níveis estão abaixo da média em todos os principais afluentes – Alto Paraguai, Cuiabá, Taquari, Miranda, Palmeiras, Aquidauana.
Ele disse que foi um mês de fevereiro que está entre os piores do histórico em alguns locais importantes da calha principal do Rio Paraguai, inclusive em Cáceres (MT) e Porto Murtinho (MS).