Vara de Iguatemi vai julgar 39 advogados acusados de serem “predadores” do Poder Judiciário

Advogado Luiz Fernando Cardoso Ramos, um dos apontados como líder em esquema, tira selfie em frente ao TJMS (Foto: Reprodução das redes sociais) - CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS

A Vara de Iguatemi será a responsável por julgar 39 advogados réus por participação em esquema milionário de advocacia predatória. Denúncia de milhares de páginas tramitava na 4ª Vara Criminal de Campo Grande desde junho do ano passado, desde que ordens de prisão e outras medidas cautelares foram determinadas para a deflagração da Operação Anarque, mas no dia 15 de julho, a juíza May Melke Amaral Penteado Siravegna declinou da competência para continuar julgando o caso.

A magistrada entende que como as duas organizações criminosas alvo do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) são lideradas por advogados de Iguatemi, é o juízo do município quem deve analisar o caso.

“Não se deve olvidar o fato de os delitos imputados aos acusados terem sido praticados, ao menos em parte, em diversos estados e comarcas da federação, porém eram gerenciados pelos líderes das duas organizações criminosas sediadas na Comarca de Iguatemi/MS, local da sede dos escritórios de advocacia dos réus Luiz Fernando e Alex Fernandes, de onde partiam não só as decisões, mas em grande parte os atos consumatórios das infrações penais, porquanto uma parte dos réus fazia apenas a captação das vítimas e documentos, sendo estes enviados aos escritórios de advocacia para que as ações fossem preparadas e protocoladas, via rede mundial de computadores, posto serem os processos digitais, em vários Juízos, inclusive na Comarca de Campo Grande”, explicou a juíza.

May Melke tomou decisão depois que parte das defesas prévias argumentou conflito de competência em busca de anular provas e enfraquecer a denúncia. Os advogados invocaram provimento do próprio Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul como argumento, mas a juíza entende que no momento do pedido das medidas cautelares, justificava-se que a 4ª Vara Criminal de Campo Grande tomasse decisões.

Os réus são acusados de organização criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva, falsificação de documento particular e falsidade ideológica. Segundo a investigação do Gaeco, eram duas organizações criminosas lideradas por Luiz Fernando Cardoso Ramos e Alex Fernandes da Silva, responsáveis por mais de 70 mil ações judiciais em todas as regiões do país, muitas delas consideradas temerárias (precipitadas) pelo Poder Judiciário.

Os advogados entravam com ações contra bancos, utilizando a premissa de que empréstimos consignados foram forjados e obtinham procurações de idosos, deficientes e indígenas. Ao final, cerca de 10% dos casos tinham procedência, quando não eram feitos acordos em massa com instituições financeiras.

Ainda conforme o Gaeco, com as decisões favoráveis aos clientes e acordos, os integrantes do grupo lucraram milhões. “Impende registrar que, apesar de explorarem pessoas em grave situação de pobreza e vulnerabilidade social (analfabetos, idosos, deficientes, indígenas etc.), as práticas criminosas das organizações criminosas revelaram-se extremamente rentáveis aos líderes, permitindo que movimentassem a astronômica quantia de R$ 190.862.481,86”, diz o Gaeco em parecer dado numa das ações derivadas da operação.

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