Três meses antes de ser morta criança sofreu fratura e queimadura. Ninguém fez nada por quê?

A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) de Campo Grande confirmou que, três meses antes de ser morta pelo padrasto Christian Campoçano Leitheim e pela mãe Stephanie de Jesus da Silva, a menina de apenas 2 anos de idade foi levada ao posto de saúde do bairro onde morava com fratura na tíbia e até queimadura no braço.

Em novembro do ano passado, a menina deu entrada na unidade de saúde com dores e até vomitando, mas os sintomas não levantaram suspeita dos profissionais pelo fato de serem comuns, por exemplo, de uma virose. Diante da situação, durante o atendimento, não seria possível saber se ela era vítima de maus-tratos ou se tratava de uma simples intoxicação.

Dois dias depois desse atendimento, a criança retornou à unidade com fratura na tíbia. A mãe informou que a filha havia sofrido uma queda, também não sendo possível concluir se a menina teria sido vítima de agressão. A criança também chegou a ser atendida com queimadura no braço por café quente. Contudo, mais uma vez, não teria como saber se era um acidente ou proposital.

Sobre as idas frequentes ao médico, a mãe justificou à polícia que levava a filha quando apresentava sintomas gripais. Questionada, a Sesau explicou que os 30 atendimentos na unidade – informados anteriormente pela Polícia em boletim de ocorrência – se tratam de procedimentos que ela passou. Não sendo, então, 30 vezes que a menina foi ao médico.

Sobre o fato de as lesões não terem levantado suspeita na equipe médica, a Sesau pontuou que ocorreu em apenas uma das vezes, da fratura na tíbia, que foi justificada pela mãe por uma queda. “Os demais atendimentos não tiveram nenhum sinal de que ela poderia ter sido agredida. Em casos suspeitos, automaticamente os profissionais da unidade notificam os órgãos responsáveis. Como aconteceu, inclusive, quando ela deu entrada já em óbito”, explicou.

Ainda, de acordo com a Sesau, será aberto procedimento interno para apurar as circunstâncias que se deram os atendimentos à menina, “que deve correr paralelamente às investigações”. A criança morava com a mãe, o padrasto e outros dois irmãos (um deles filho de Christian com a primeira esposa), na Vila Nasser. A reportagem apurou que as crianças ficavam sob os cuidados de Christian Leitheim enquanto a mãe trabalhava.

Na noite de quinta-feira da semana passada, Stephanie da Silva chegou ao posto de saúde com a filha já sem vida. Foi então que as médicas evidenciaram lesões pelo corpo, inclusive nas partes íntimas da criança. Também perceberam que ela estaria morta havia cerca de quatro horas. Ela alegou que a menina estava passando mal desde o dia anterior, com dores na barriga, e que o padrasto batia como correção. Na data da morte, os dois afirmaram que a criança não foi agredida.

O pai biológico já havia feito denúncias à polícia e ao Conselho Tutelar, pois durante visitas observou machucados na filha. Ele e a avó materna já haviam pedido a guarda da menina na Justiça, segundo os vizinhos e familiares. A reportagem apurou que a primeira denúncia de maus-tratos contra a criança acabou sendo arquivada no ano passado por falta de provas.

O casal acabou preso em flagrante por homicídio qualificado, que depois foi convertida para preventiva, ou seja, por tempo indeterminado. Stephanie também foi autuada por omissão. A Polícia Civil ainda aguarda laudos para saber se a criança foi estuprada, já que no corpo foram encontrados indícios de violência sexual. Com informações do site Campo Grande News