Sem repasse da prefeitura, Santa Casa se aproxima de colapso e fala em risco de morte de 70 pessoas

Em razão da situação caótica dos últimos dias, a diretora-clínica da Santa Casa de Campo Grande, Izabela Guimarães, e o chefe do setor de ortopedia do hospital, João Antônio Pereira Mateus, registraram boletim de ocorrência ontem (26) contra a Prefeitura Municipal para denunciar o risco de morte ou sequelas graves de 70 pacientes internados na unidade de saúde.

Os dois representantes da Santa Casa mostraram também uma lista com os nomes dos 70 pacientes internados no setor de ortopedia e que precisam de cirurgias urgentes para não ficarem com sequelas ou morrer por falta de próteses e outros materiais.

“O gestor pleno da Saúde é o Município e a verba que deve ser paga ao hospital é insuficiente para o custeio das despesas mensais de acordo com as informações que são repassadas pela direção da instituição aos comunicantes médicos, cujo déficit já é de conhecimento tanto do Município como dos demais órgãos: Ministério Público, CRM (Conselho Regional de Medicina, SES (Secretaria Estadual de Saúde) e Sesau (Secretaria Municipal de Saúde)”, relataram no boletim de ocorrência.

Eles acrescentaram ainda que os pacientes não param de chegar e o setor está totalmente desabastecido, com estoque zerado, sendo que o quadro chegou ao limite ontem, mas há semanas a quantidade de insumos não é suficiente. A chefe da Sesau, Rosana Leite, afirmou ao site Campo Grande News que a pasta vai avaliar a possibilidade de transferir alguns pacientes de ortopedia da Santa Casa para o Hospital do Adventista Pênfigo, que tem contrato para a atender casos de baixa e média complexidade da rede pública.

“Vamos avaliar junto ao Estado o que fazer, vamos tentar também negociar com a Santa Casa. Precisamos analisar e vamos traçar uma estratégia”, afirmou a secretária, completando que os repasses “não são insuficientes”, ao mesmo tempo em que reconheceu serem necessários mais recursos. “A Sesau considera fazer um aumento. Estamos tratando do acréscimo de mais R$ 1 milhão nos repasses e o Estado ficou de ver quanto poderia aumentar. No total, a Santa Casa recebe aproximadamente R$ 35 milhões mensais”, falou.

A Santa Casa alega déficit financeiro e cobra na Justiça o bloqueio de R$ 46 milhões em verbas públicas da Prefeitura de Campo Grande, que deveriam ter sido repassadas durante a pandemia de covid-19, conforme o hospital. O juiz Marcelo Andrade Campos Silva, da 3ª Vara de Fazenda Pública, determinou que o depósito do valor seja feito em 48 horas.

Por meio de nota, a Sesau disse o seguinte:

“Quanto ao atendimento e assistência à saúde, a Secretaria Municipal de Saúde informa que está adotando medidas emergenciais para assegurar o atendimento adequado à população, inclusive ativou o Plano de Contingência adotando medidas diante do cenário atual, onde se registra aumento de atendimentos devido a doenças respiratórias e casos de baixa complexidade. Diante da superlotação nas UPAs, que estão operando próximas da capacidade, a Sesau passou a reorganizar fluxos, ampliar os pontos de atendimento e garantir assistência eficiente, seguindo os protocolos de regulação estadual e municipal. Todos os pacientes serão encaminhados conforme a urgência do caso, visando o atendimento no local mais adequado. Assim, os pacientes com necessidades específicas da Santa Casa, como politrauma e neurocirurgia, serão mantidos no hospital. Os casos compartilhados com outras unidades serão encaminhados conforme a capacidade das outras instituições, levando em consideração a lotação. A prioridade é assegurar a continuidade do atendimento e a segurança dos pacientes. A Sesau está em diálogo constante com a Santa Casa e outras instituições para encontrar soluções que garantam a continuidade do atendimento hospitalar. A Secretaria Municipal enfatiza que não há débitos pendentes, e todos os valores de repasse estão sendo cumpridos corretamente”.