Se estava ruim, vai ficar pior! Com prisão de Fahd, promotor vê hegemonia do PCC na fronteira

O promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) de São Paulo, vê o caminho aberto para controle total das fronteiras de Mato Grosso do Sul pela facção criminosa brasileira PCC (Primeiro Comando da Capital) após a prisão do empresário ponta-poranense Fahd Jamil Georges, 79 anos. Além disso, ele alerta que agora o grupo criminoso deve iniciar no Estado um modelo de atuação semelhante ao de São Paulo, onde foi criado. Ou seja, passar a executar autoridades que representam ameaça aos interesses da facção criminosa, como juízes, policiais, promotores e até agentes penitenciários.

Lincoln Gakiya enxerga a entrega do “Rei da Fronteira”, como era conhecido, por medo de ser executado como prova do crescimento da facção, principalmente no eixo Ponta Porã/Pedro Juan Caballero. “Quando o último homem que seria capaz de conter o avanço da facção na região se entrega com medo, é sinal de que a roda do poder na fronteira girou de vez”, declarou ao jornal O Estado MS. Ele lembra que por anos Fahd Jamil tentou a conciliação com o PCC, chegou a abrir mão de seus negócios, se aposentou, mas ao se entregar, sinaliza que o poder de fogo dos inimigos é muito maior.

O temor é justificável, pois, mesmo com Marcos Willians Herbas Camacho, o “Marcola”, apontado como principal líder do PCC isolado na Penitenciária Federal de Brasília (DF), o caráter prioritário dado ao estabelecimento em países como Paraguai e Bolívia garante, principalmente, a autonomia financeira da quadrilha ao abolir intermediários na busca por drogas e armas. E a chance de ganhar dinheiro de forma organizada na vida criminosa atraiu sul-mato-grossenses encarcerados. Dados do NEV (Núcleo de Estudos sobre a Violência) da USP (Universidade de São Paulo) apontam que o número de integrantes do PCC em MS saltou de 15 mil para pelo menos 21 mil entre 2016 e 2021.

Um exército montado por meio de táticas como a matrícula de supostos estudantes de Medicina em faculdades paraguaias ou trabalhadores da construção civil boliviana. “Uma mão de obra pronta para agir. E a atuação agora, sem desafetos, deverá seguir a tendência ocorrida em São Paulo, de incluir adversários entre as autoridades na lista de execuções”, disse o pesquisador Bruno Paes Manso, do NEV e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Historicamente, no sistema prisional, lembra Manso, o PCC copiou táticas usadas em SP por aqui em 2008, de protagonizar rebeliões em presídios como pano de fundo para executar integrantes de facções rivais ou independentes, obrigando a uma mudança do organograma prisional. Ações essas que culminaram no assassinato de Jorge Rafaat Toumani, aliado histórico de Fuad no lado paraguaio. “São os novos tempos se consolidando”, disse um integrante das forças de segurança pública estadual, que preferiu não se identificar.

Segundo ele, o domínio do PCC começou a ser definido bem antes, pelos idos de 2002, quando o Comando Vermelho, sob as ordens de Fernandinho Beira-Mar, já tinha tentado dominar a fronteira por Capitán Bado, executando membros da família Morel. O tempo passou e o isolamento imposto aos membros da facção carioca em presídios federais fez o plano ser abortado e ser aberta uma negociação para o avanço dos paulistas.

“Eles (o PCC) têm uma compreensão maior de domínio territorial, visando a um lucro maior sem os atravessadores, como o Fuad. A política deles é de dominação total mesmo do eixo Paraguai-Bolívia-MS para facilitar as rotas até São Paulo”, completou a fonte ouvida pelo jornal O Estado. “O PCC já está há anos na forma hegemônica. E a Polícia Civil tem combatido eles de forma constante dentro das nossas competências.

Até por isso acreditamos que em razão disso não há o que se temer. Nós fazemos esse trabalho de forma diária e não há um temor em relação às ações delas. Nós sempre buscamos que os policiais estejam trabalhando de forma tranquila, efetivo adequado, nossa função é combater o crime, pouco importando quem é o criminoso”, disse Giancarlo Miranda, presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Mato Grosso do Sul. Com informações do jornal O Estado MS