A candidata à prefeitura de Campo Grande, Rose Modesto (União Brasil), enfrenta críticas ao adotar uma estratégia que já lhe é familiar: o vitimismo. No segundo turno das eleições de 2024, Modesto tem reiterado acusações de que é alvo de fake news e ataques pessoais, uma tática que, ironicamente, reacendeu discussões sobre seu passado político, especialmente sua citação na operação “Coffee Break”, um escândalo que parecia adormecido.
Esse padrão de vitimização não é novo em sua trajetória política. Em 2016, quando concorreu à prefeitura pela primeira vez, e em 2022, quando disputou o governo de Mato Grosso do Sul, Rose seguiu uma narrativa semelhante, se apresentando como alvo de perseguição. Agora, a candidata, que se coloca como vítima de fake news, está involuntariamente jogando luz sobre episódios que muitos eleitores já haviam esquecido, como o caso “Coffee Break”.
Em 2013, a Câmara de Vereadores de Campo Grande cassou o então prefeito Alcides Bernal, e o nome de Rose foi mencionado nas investigações conduzidas pelo Gaeco e pelo Ministério Público. Durante as apurações, uma gravação veio à tona, na qual Rose Modesto aparecia em uma conversa descontraída com Gilmar Olarte, que assumiria a prefeitura após a queda de Bernal. A troca de palavras, onde Rose se referiu a si mesma como “a morena mais bonita de Mato Grosso do Sul”, embora tenha sido minimizada na época, deixou marcas em sua imagem pública. Agora, esse passado volta à superfície em meio à campanha, provocando desconforto para a candidata, que se esforça para se desvincular do escândalo.
Apesar das tentativas de desviar o foco, o vitimismo de Rose acabou esbarrando em uma controvérsia que envolveu sua própria campanha. Dias antes do primeiro turno, uma agência de comunicação que trabalhava para sua equipe foi alvo de uma operação policial contra a produção de fake news. O episódio levantou questionamentos sobre a narrativa de Rose, que se coloca como vítima de desinformação, enquanto a própria campanha foi associada à propagação de notícias falsas.
Além disso, Rose carrega em sua bagagem política outros momentos de desgaste. No passado, ela apoiou projetos polêmicos, como a privatização de serviços de saúde, e manteve uma postura contrária às reivindicações dos professores, grupo ao qual pertenceu e que lhe rendeu inicialmente o apelido de “Professora Rose”. Com o tempo, no entanto, a candidata se afastou dessa identidade, adotando um posicionamento mais pragmático e menos alinhado com pautas sociais que anteriormente defendia.
A estratégia de se colocar como vítima, enquanto tenta reescrever sua narrativa política, soa, para muitos, como um movimento eleitoral calculado. Rose, que acreditava ter sua candidatura “no papo”, viu suas expectativas desmoronarem ao ser superada pela atual prefeita, Adriane Lopes, no primeiro turno. Essa não é a primeira vez que Rose experimenta um revés eleitoral: em 2016, ela também ficou em segundo lugar no primeiro turno, perdendo para Marquinhos Trad no segundo. E em 2022, quando tentou o governo estadual, terminou em uma distante quarta colocação.
O vitimismo exagerado de Rose Modesto, longe de protegê-la dos ataques que afirma sofrer, tem, na verdade, exposto mais vulnerabilidades do que ela poderia imaginar. Ao trazer à tona polêmicas do passado, ela enfrenta dificuldades em convencer o eleitorado de que é a melhor escolha para liderar Campo Grande.
Enquanto isso, suas acusações de perseguição política acabam ecoando como uma tática repetitiva, que já não surte o mesmo efeito de outrora. O eleitor campo-grandense, atento e experiente, observa com cautela esse jogo político, em que a tentativa de desviar o foco pode acabar jogando contra quem tenta desesperadamente resgatar a confiança perdida.