Documentos do MPF (Ministério Público Federal) do Brasil revelaram que Sergio de Arruda Quintiliano Netto, mais conhecido como “Minotauro”, e sua esposa, Maria Alciris Cabral Jara, subornaram autoridades policiais e funcionários do Senado no Paraguai. Essa informação vem dos telefones e computadores que foram apreendidos com os dois no ano passado.
O poderoso traficante de drogas tinham em troca do suborno o conhecimento prévio dos procedimentos das autoridades de segurança do país viiznho. Por exemplo, um bilhete de identidade paraguaio original, mas com uma identidade falsa para “Minotauro”, serviu para que ele pudesse se registrar como um “advogado” no Brasil.
Após o assassinato em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com Ponta Porã (MS), do narcotraficante e contrabandista Jorge Rafaat Toumani, mais conhecido como “Rei da Fronteira”, em 15 de junho de 2016 e a expulsão para o Brasil do narcotraficante brasileiro Jarvis Chimenes Pavão, que cumpria pena em Assunção, capital do Paraguai, em dezembro de 2017, ambos “chefões” do narcotráfico no país vizinho, um terceiro elemento surgiu na disputa pelo controle do tráfico de drogas e armas na fronteira do Paraguai com o Brasil: Sergio de Arruda Quintiliano Netto, o “Minotauro”.
Documentos da Procuradoria da República de Ponta Porã revelam que “Minotauro” tinha controle total do narcotráfico na fronteira por meio de suborno de funcionários públicos no Paraguai, o que era feito junto com sua esposa e advogada Maria Alciris Cabral Jara. A Polícia Federal do Brasil comprovou esses dados após a prisão de ambos: primeiro de Maria Cabral e depois de “Minotauro”, em procedimentos realizados no ano passado em Camboriú (SC).
As autoridades brasileiras apreenderam em poder dos dois telefones celulares – um Samsung e um iPhone -, além de um laptop que os dois usavam juntos. Nesses dispositivos foram encontrados arquivos, conversas e fotografias sobre as atividades ilegais do casal, que controlava uma rede criminosa na fronteira entre o Brasil e o Paraguai.
Segundo o MPF, quem abastecia com informações os dispositivos era Maria Cabral. Por exemplo, no computador, os procuradores da República encontraram um formulário com o nome “Despesas de Funes”, que seria uma despesa para pagar funcionários do Paraguai, onde os pagamentos mensais são registrados para as autoridades paraguaias.
As propinas eram pagas para funcionários ligados aos órgãos de combate aos crimes de narcotráfico e econômicos, incluindo até a unidade de inteligência da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai). Os dados encontrados se referem a subornos que seriam pagos entre o início de 2018 e meados de 2019.
As informações que os criminosos receberam foram basicamente alertas dos procedimentos que seriam executados contra eles. Entre os documentos, também é relatado que, por exemplo, o “Minotauro” comprou cédulas de identidade da Polícia Nacional do Paraguai com outros nomes. Primeiro, foi o nome de Celso de Matos Espíndola e, quando algumas das autoridades locais no Paraguai o “capturaram”, “Minotauro” teve de “comprar” outra identidade falsa. Dessa vez, seu nome passou a ser Mario César Medina. Isso aconteceu em março de 2019.
Com seu documento paraguaio (original, mas com uma identidade falsa), “Minotauro” chegou a se tornar “advogado” e conseguiu se registrar com esse nome na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Além disso, sua esposa alugou, com a identidade falsa, um hangar no Brasil para que os voos entre o Paraguai e o Brasil fosse mais fáceis.
O casal controlou todos os pagamentos que eles fizeram e deixou evidências de quais casas de câmbio operavam no Paraguai. Dentro dos telefones e do computador, havia também evidências de execuções e fotografias de armas de fogo. Todos esses dados foram enviados ao Ministério Público do Paraguai, por meio do Escritório de Assuntos Internacionais. Houve um atraso impressionante de 13 dias entre a recepção no Paraguai e a remoção de Hugo Volpe, vice-ministro de Política Penal do Ministério da Justiça, na segunda-feira, 20 de janeiro, um dia após a fuga maciça de prisioneiros do PCC em Pedro Juan Caballero.
De acordo com o MPF, também há indícios de que Maria Alciris Cabral Jara corrompeu ou tentou corromper pelo menos dois membros do Ministério Público da República do Paraguai, “um dos quais é precisamente o coordenador da ECI (Equipe de Investigação Conjunta) no Paraguai”, que, em meados de 2019, era precisamente Hugo Volpe.
O ministro da Senad, Arnaldo Giuzzio, lamentou que tudo o que o Brasil envia até agora seja “sem nome”. “Entendemos que uma instituição é nomeada, mas é muito difícil determinar quem teria recebido propinas”, afirmou Giuzzio. Ele observou que eles estão fazendo uma espécie de “união com flechas”, de modo a combinar as datas dos subornos com algumas intervenções que eles fizeram no Senad.
“Nós já tínhamos descoberto um funcionário de uma parte sensível que dava informações a um determinado setor criminal. Ele foi automaticamente demitido e preso em vias públicas. Agora ele é processado por isso”, disse ele, lembrando que, há alguns dias, no contexto das requisições e controles na fronteira, do lado paraguaio e brasileiro, três pessoas foram presas, uma delas a que estava se posicionando como um substituto para o “Minotauro”. “Seria Edson Barbosa Salinas, também conhecido como Salinas Ryguasu”, disse o ministro.