Quadrilhas usam “terceirizados” para trazer drogas e 11 mil presos por tráfico em MS são “mulas”

Dos 14.126 presos por tráfico de drogas em Mato Grosso do Sul, 11.256 não fazem parte de associações ou organizações criminosas para o tráfico de entorpecentes e “caíram” transportando os entorpecentes após serem contratados pelos grandes narcotraficantes.

Segundo a Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública), o alto número de presos por tráfico que não fazem parte de uma organização criminosa é registrado em Mato Grosso do Sul porque o Estado é utilizado apenas como corredor para o transporte das drogas, com lideranças permanecendo nos grandes centros do País, como Rio de Janeiro e São Paulo.

Do total de presos por tráfico de drogas apresentado pelo CNJ, os homens com idade entre 30 anos e 40 anos que não participam de alguma associação para o tráfico representam a maioria. Ao analisar os dados por faixa etária e gênero, fica evidente que a maioria presa por esses crimes são homens jovens e adultos.

O maior número de presos por tráfico de drogas está na faixa etária de 18 anos a 29 anos, com um total de 3.139 indivíduos, sendo 232 mulheres e 2.749 homens. Esse cenário se repete nas faixas etárias subsequentes, com predominância masculina.

A divisão por gênero também revela uma presença significativa de mulheres entre os presos por tráfico e associação para o tráfico. Embora em menor número, a presença feminina é notável em todas as faixas etárias consideradas.

O sociólogo Silvino Areco explica que os líderes de organizações criminosas muitas vezes utilizam jovens não membros das quadrilhas para contrabando de pequeno porte ou para servirem de isca para os policiais, para não comprometerem a organização.

Em diversas pesquisas que tratam sobre o tema, os autores revelam que ocorre uma crescente no recrutamento de jovens para essa atividade criminosa. Giovanni França, em uma pesquisa publicada na Revista USP, aponta que a expansão do narcotráfico em todas as regiões do Estado e a guerra entre as duas principais facções criminosas do Brasil pela disputa da hegemonia atacadista de drogas e armas na fronteira incidem diretamente nos recrutamentos de jovens e no número de encarceramentos em Mato Grosso do Sul.

Os dados do CNJ também revelam que o tráfico de drogas é o segundo crime com maior número de presos em Mato Grosso do Sul. Do total de 61.694 pessoas detidas, 14.139 foram condenadas por tráfico de entorpecentes. Tal delito fica atrás apenas do crime de roubo, que registra atualmente 17.168 apenados. Os especialistas entrevistados concordam que um dos principais motivos para o tráfico de drogas ter o maior número de presos no Estado é a fronteira com a Bolívia e o Paraguai.

O tráfico de entorpecentes, principalmente de maconha, cocaína e seus derivados, é forte em Mato Grosso do Sul em razão de sua posição geográfica. O Estado faz fronteira com dois mercados produtores: Paraguai e Bolívia. Nesse sentido, muitas prisões são efetuadas na região em função de o Estado ser um corredor de transporte para as regiões Sudeste, Sul, Norte e Nordeste. Logo, as organizações criminosas buscam ocupar posições estratégicas nas fronteiras, buscando o monopólio na distribuição.