O jornal Folha de São Paulo revelou, nesta semana, que o inquérito da Polícia Federal que investiga a facada dada por Adélio Bispo no então candidato a presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), no dia 6 setembro de 2018, citou uma possível relação do grupo criminoso PCC (Primeiro Comando da Capital) com advogados do autor do crime.
Preso no Presídio Federal de Campo Grande desde 2018, Adélio Bispo foi alvo de dois inquéritos na PF, sendo que o 1º foi instaurado em setembro de 2018 e concluiu que ele agiu sozinho, por iniciativa própria, sem mandantes, enquanto o 2º foi encerrado em maio de 2020, teve a mesma conclusão.
Em junho de 2019, Adélio foi absolvido do ataque contra Bolsonaro por ser considerado inimputável, ou seja, incapaz de responder pelos atos que praticou. Por isso, sua pena foi convertida em internação psiquiátrica por tempo indeterminado.
Na época, quatro advogados atuaram na defesa de Adélio: Fernando Magalhães, Zanone Oliveira Júnior, Marcelo da Costa e Pedro Possa. Eles foram alvos de questionamentos, principalmente da família Bolsonaro, sobre quem pagava os seus para a defesa do autor da facada.
Segundo a reportagem da Folha, no período, investigadores sustentaram a tese de que a defesa aceitou o caso de graça em busca de notoriedade. O TRF-1 (Tribunal Regional da 1ª Região) autorizou a quebra de sigilo bancário e acesso aos dados de Zanone em 3 de novembro de 2021.
A decisão atendeu um pedido do então advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef. Depois de 22 dias, a PF reabriu o inquérito e decidiu retomar as investigações. Foi com a reabertura do inquérito que a PF encontrou, recentemente, supostos indícios de pagamentos feitos pelo PCC em 2020 a Fernando Magalhães.
A tese é sustentada em quatro pontos: Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) encontrou pagamentos fracionados de R$ 315.000 em 2020 à empresa de Magalhães; valor descoberto pelo Coaf é próximo à quantia mencionada por Zanone em depoimento à PF em 2018; registro no livro de contabilidade de Zanone com pagamento de R$ 25.000 com a rubrica “caso Adélio”; grupo de troca de mensagens de advogados no WeChat com nome “Adélio PCC”, encontradas no celular de Zanone.
Segundo a reportagem da Folha, a DIP (Diretoria de Inteligência) da PF, chefiada pelo delegado Rodrigo Morais, os indícios de pagamento feitos 2 anos depois do atentado são inconsistentes. Além disso, a repartição disse ter tido uma “pressão interna” para que caso tivesse avançado no período eleitoral….
O responsável pelo inquérito é o delegado Martin Bottaro, considerado um dos principais especialistas em PCC na PF. Ele assumiu as investigações depois do responsável pelos 2 inquéritos iniciais, Rodrigo Morais Fernandes, ser enviado para os Estados Unidos. O antecessor de Morais, o chefe de inteligência Alessandro Moretti, criticou a direção da PF que considerou como imprecisas os supostos indícios de pagamento do PCC a advogados de Adélio.
A Polícia Federal realizou em 14 de março uma operação de busca e apreensão para tentar avançar na apuração sobre a suposta relação da facção criminosa PCC com o pagamento da defesa de Adélio. Diferentemente do que ocorre na maior parte dos casos de grande repercussão, a deflagração da ação não foi divulgada pela comunicação da PF.
A operação foi autorizada em 11 de novembro pelo juiz Bruno Savino, da 3ª Vara Criminal de Juiz de Fora (MG), local onde Bolsonaro foi atacado. De acordo com a Folha, que teve acesso à decisão, a apuração se baseou na suspeita de pagamentos feitos a Fernando Magalhães. Segundo o jornal, foram 6 mandados de busca e apreensão. As medidas foram cumpridas no mesmo dia de outra operação realizada pela PF em Minas Gerais, contra traficantes….
De acordo com a decisão de Bruno Savino, a tese sobre a participação do PCC no financiamento do atentado “apresenta coerência porquanto a vítima, o então candidato ao cargo de presidente da República Jair Messias Bolsonaro adotou, durante todo o período de campanha eleitoral, forte discurso de combate à criminalidade no país”.
A medida só foi autorizada por Savino depois de um 2º pedido da PF. Um 1º havia sido negado, antes da eleição presidencial, porque o magistrado entendeu não haver os requisitos mínimos. Na 1ª solicitação, a PF elencava apenas o conteúdo do celular de Zanone Júnior como indício, mas não tinha ainda as informações sobre transações enviadas pelo Coaf.
O MPF (Ministério Público Federal), que também havia sido contra o 1º pedido, também manifestou-se a favor do 2º. Disse, no entanto, “não haver, ainda, indícios de que os titulares das 5 empresas utilizadas para a realização das transferências bancárias em favor da FM Costa Serviços Administrativos [empresa de Magalhães] tenham se associado ao executor do atentado [Adélio] para o fim da perpetração do delito”.
Na manifestação, o MPF pediu ainda à Justiça que as buscas fossem cumpridas pela PF com reserva “com vistas à preservação da imagem dos alvos e de forma a não fomentar fake news”. O advogado Fernando Magalhães afirmou ao jornal Folha de S. Paulo que os valores referentes aos honorários do caso Adélio são de responsabilidade de Zanone.
Além disso, afirmou que o grupo criado no WeChat, batizado de “Adélio PCC”, foi uma “galhofa impensada de um dos advogados”. “Pela minha seriedade e compromisso, repreendi de imediato, vez que o tema é sério e não me parecia aceitável tal brincadeira”, afirmou.
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