Presentão de Natal! Quem vai fechar o buraco de R$ 1 milhão dos “tatuzões” na tentativa de roubar o BB?

Desde a manhã de segunda-feira (23) a Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança) tem um abacaxi para descascar depois que impediu um dos que poderia ser o maior roubo a banco da história de Mato Grosso do Sul e do Brasil. O que fazer com o túnel de quase 70 metros de comprimento cavado pelos assaltantes para chegarem o cofre da central do Banco do Brasil em Campo Grande (MS).

Como já tinha informado anteriormente, o risco do túnel desabar é muito alto, pois a estrutura utilizada pelo grupo criminoso é precária, deixando nas mãos das autoridades esse pepino. Como fazer para tapar o maldito buraco? Afinal de contas não basta apenas colocar a terra retirada pelos bandidos, pois, como tem um cofre nas proximidades, é preciso concretar o entorno.

Enfim, algo terá de ser feito e rápido, pois nunca se sabe quem pode tentar se beneficiar da “estrutura” deixada pelos marginais para dar prosseguimento ao audacioso plano de roubar o cofre da central do BB, que movimenta em torno de R$ 200 milhões, nos melhorias dias.

Semelhanças

A respeito da tentativa de roubo, a Polícia Civil investiga o envolvimento de integrantes do grupo com o furto de R$ 164 milhões do Banco Central do Brasil em Fortaleza (CE) ocorrido em 2005. Os dois crimes tiveram algumas semelhanças entre si, como, por exemplo, a escavação de um túnel para chegar ao dinheiro, o uso de cal para encobrir impressões digitais e o alto nível de organização.

Também chama atenção a origem dos envolvidos no plano de furtar a central do Banco do Brasil em Campo Grande. Todos vieram de outros Estados, do Sudeste e do Nordeste brasileiro. Se o plano dos bandidos tivesse se concretizado, os policiais da Delegacia de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestro (Garras) acreditam que a ação poderia ser o maior furto a um cofre bancário do Brasil. A estimativa é de que havia, pelo menos, R$ 200 milhões nos cofres da instituição (conforme os volumes financeiros movimentados nesta época do ano).

O delegado do Garras, João Paulo Sartori, afirma que os trabalhos de inteligência seguem adiante e algumas pessoas ainda serão chamadas a depor. Entre elas, estão os donos dos imóveis alugados pelos bandidos para que o plano fosse executado. Além do galpão comercial no Bairro Coronel Antonino onde a passagem subterrânea foi aberta, outras seis casas foram usadas como dormitórios desde maio, quando o roubo começou a sair do papel. Eles trocavam de entreposto para dificultar a identificação e localização do grupo.

Quando o esquema foi desmantelado, os ladrões estavam no Bairro Zé Pereira, em uma casa grande, com piscina. O grupo teria alugado, ao todo, oito imóveis em Campo Grande. Toda essa estratégia gerava custos para o grupo. Sartori afirma que eles gastavam em média R$ 21 mil por semana com a ação criminosa desde maio, o que resulta em aproximadamente R$ 630 mil, bancados pelo resultado de outros crimes, que o delegado não quis revelar. Se somados a outros gastos logísticos, a estimativa dos policiais do Garras é de que os gastos tenham atingido R$ 1 milhão para estruturar toda a ação.

O mentor do grupo, segundo a Polícia, é Renato Nascimento de Santana, 42 anos. Ele foi morto durante a operação para impedir o roubo, no último fim de semana. A Polícia suspeita que esse nome possa ser falso, já que um dos comparsas disse tê-lo conhecido na cadeia e esse nome não é fichado. Depois de reunir os oito membros da equipe, eles encontraram o imóvel perfeito para dar sequência ao plano.

Sartori não detalha se tiveram uso de informação estratégica, mas, além de ficar praticamente do outro lado da rua da central do Banco do Brasil, que abastece de dinheiro as agências do Estado inteiro, o caminho até a caixa-forte era em linha reta, desviando apenas dos postes e tubulações de água, quando existiam. O local tem um galpão com bastante espaço para armazenar os sacos de terra removidos do chão, já que a vizinhança poderia desconfiar se visse todo aquele material sendo removido diariamente.

Além de ser o mentor, Renato colocava a mão na massa e participava do revezamento na escavação. O trabalho era manual e feito com ajuda de pás. Participaram dessa tarefa os pedreiros Francisco Marcelo Ribeiro, 41 anos, natural de Santana do Acaraú (CE); Wellington Luiz dos Santos Junior, 28 anos, nascido em Iperó (SP); e Gilson Aires da Costa, 42 anos, natural de Campos Sales (CE), que, inclusive, foi candidato a vereador naquele município em 2016.

Lourivaldo Belisário de Santana, 51 anos, natural de Sertânia (PE), era o especialista do grupo. Ele já havia tentado fugir da cadeia escavando um túnel e tem passagem por roubo. Lourivaldo entendia de topografia e ajudava a orientar o trajeto. Robson Alves do Nascimento, 50 anos, é de Floresta Azul (BA), mas tinha uma loja de materiais de construção em Cuiabá (MT). A mulher dele, Eliane Goulart Decursio de Brito, 37 anos, era a contadora do grupo, segundo a Polícia.

José Williams Nunes Pereira da Silva, 48 anos, que também foi morto durante a ação, era o responsável pela segurança. Ele é do Maranhão e tem passagem por roubo a banco em São Paulo, quando foram levados R$ 6 milhões de uma agência da Caixa Econômica Federal. Bruno Oliveira de Souza, 30 anos, é paulista e tinha como função dirigir o caminhão com as notas quando elas fossem roubadas. Ele foi baleado e está internado na Santa Casa.

A quadrilha que tentou furtar o Banco do Brasil em Campo Grande usava equipamento complexo para executar o plano audacioso. Na fachada do galpão, foi instalada uma câmera para monitorar possíveis campanas da polícia. Eles tinham ainda um bloqueador de sinal de celular para evitar rastreamento dos chips do dinheiro roubado. Os escavadores usavam um estetoscópio para checar se iriam se deparar com tubulações de água e uma pequena câmera para monitorar a superfície e ver aonde eles estavam chegando.

Sartori acredita que, se não tivessem sido impedidos, teriam conseguido cometer o crime no fim de semana, já que estavam praticamente embaixo do cofre. O túnel tem inicialmente seis metros de profundidade, mas segue com inclinação de aproximadamente 30 graus, de modo que o fim da passagem é rente ao chão. O caminho só não foi completamente em linha reta porque eles desviavam de postes e canos de água.

Passaram por debaixo de uma oficina mecânica e da Rua Alegrete, antes de chegar à central do Banco do Brasil. Usariam um macaco hidráulico industrial para abrir uma fenda na sala onde fica o dinheiro. Quando a polícia constatou que o grupo estava quase cumprindo seu objetivo, organizou uma operação para acabar com o plano.

Parte dos agentes do Garras invadiu o imóvel no Zé Pereira, o restante estava no galpão e viu quando Bruno deixou o local dirigindo o caminhão, seguido por José e Renato em uma caminhonete. O grupo foi interceptado algumas quadras depois. Bruno tentou atropelar um policial. José desceu atirando. A polícia revidou e todos os bandidos foram atingidos.