A delegada Ana Cláudia Medina, da Deco (Delegacia Especializada de Combate ao Crime Organizado), informou ao Blog do Nélio que o avião de modelo Beechcraft Bonanza, que caiu na manhã de ontem (15) em uma região de mata próximo ao Aeroporto Santa Maria, em Campo Grande (MS), e matou o casal de médicos Pedro Arnaldo Crem Montemor dos Santos, 67 anos, e Silvana Maria Pizzo Crem dos Santos, 65 anos, será remontado para tentar descobrir a causa da queda, mas há uma grande suspeita de que a aeronave poderia estar usando peças condenadas.
No ano passado, a delegada Ana Medina comandou uma investigação que descobriu o funcionamento de uma rede ilegal de desmanche de aeronaves de pequeno porte e, na época, a investigação foi motivada pelo acidente com o bimotor PT-ENM, alugado para a família dos apresentadores Luciano Huck e Angélica, que fez pouso forçado em 2015. Durante dois anos, a Polícia fez um grande trabalho de perícia e conseguiu provar como o esquema resultou na morte de inocentes.
A investigação da Polícia Civil descobriu um comércio ilegal, com uma rede de desmanche de aviões para reaproveitar peças. E tudo começou com um boletim de ocorrência alegando furto de hélices do estoque de uma oficina. No rastro das manutenções ilegais, a Delegacia de Combate ao Crime Organizado de Mato Grosso do Sul vistoriou 14 oficinas: oito eram clandestinas. Mais de 300 peças foram apreendidas e avaliadas em mais de R$ 2 milhões.
Os mecânicos investigados em Mato Grosso do Sul fizeram consertos e enviaram peças para aeronaves que voavam em outros seis Estados (MS, SP, RJ, RS, PR, BA). Entre os alvos da investigação está o avião PT-ENM, alugado para a família dos apresentadores Luciano Huck e Angélica. O avião bimotor fez um pouso forçado em maio de 2015, e a perícia, na época, apontou entre as causas do acidente pane seca e falhas na manutenção: os sensores de nível de combustível da aeronave estavam instalados invertidos nas asas e não sinalizaram para o piloto que o combustível estava no fim.
O acidente fatal
Agora, a delegada explica que, com os destroços que foram recolhidos no local do acidente na manhã desta quinta-feira (16), a Polícia vai tentar remontar a aeronave para tentar descobrir o motivo da queda. Diversas situações serão investigadas. Segundo Medina, as condições climáticas no momento do acidente eram ruins e a principal suspeita é de que o médico estava tentando retornar ao aeroporto quando o avião caiu. ”A neblina é pior que a chuva. Na chuva ainda dá para voar, mas com neblina não dá visão. Talvez ele tenha tentado ‘furar’ a nuvem, mas não conseguiu e tentava voltar ao aeroporto quando caiu”, disse.
Como é de pequeno porte, a aeronave não possuía caixa-preta e qualquer comunicação era feita por rádio. Porém, segundo a delegada, o piloto não tentou nenhum contato enquanto voava. O médico também não tinha habilitação para voar em mau tempo. Uma equipe do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), da Força Aérea Brasileira, esteve no local do acidente nesta manhã. Segundo a delegada, eles também estão na investigação para prevenir nossos acidentes.
A aeronave decolou por volta das 6h de quarta-feira, do aeroporto Santa Maria, na saída para Três Lagoas, com destino a uma fazenda no Pantanal. O avião sobrevoou aproximadamente 100 metros, deu três voltas em círculo e caiu. O impacto da queda foi tão forte que a aeronave ”cavou” um buraco no chão. A aeronave do médico tinha o CA (Certificado de Aprovação) válido até 26 de setembro de 2020. A IAM (Inspeção Anual de Manutenção) venceria somente no dia 13 de dezembro deste ano. A aeronave estava regular, portanto. Pedro tinha mais de 20 anos de experiência como piloto.