Seria cômico se não fosse trágico, mas a tal Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada na Câmara de Vereadores de Campo Grande para investigar as permissões de exploração do serviço de táxi e mototáxi na cidade contratou o filho do casal que tem o segundo maior número de alvarás do serviço no município e também é dono de uma empresa de táxis.
A velha máxima de lobo em pele de cordeiro cai como uma luva na situação inusitada – para não dizer outra coisa – que o fato representa. Afinal, como os integrantes de uma CPI contratam para ajudá-los uma pessoa íntima da “máfia” dos alvarás de táxi em Campo Grande e dono de uma empresa de táxis, conforme o site consulta sócio?
Pois, foi exatamente isso que fizeram os integrantes da CPI, que são os vereadores Vinicius Siqueira (DEM) foto acima, Odilon de Oliveira (PDT), Veterinário Francisco (PSB), Pastor Jeremias (PTdoB) e Junior Longo (PSDB). Os nobres edis ganharam um novo “reforço” nas investigações com a chegada de Eduardo Juliace de Araújo, que é simplesmente filho do casal Orocídio de Araújo e Maria Helena Juliace de Araújo.
A dupla, para quem não sabe, ocupa o segundo lugar entre as famílias com mais alvarás de táxi em Campo Grande. Orocídio de Araújo, Maria Helena Juliace de Araújo, o irmão dela, Benevides Juliace Ponce, e a esposa dele, Gleicekermen Bogarim Godoy Ponce, têm juntos 39 carros.
Apenas o senhor Oracídio de Araújo é proprietário de 15 alvarás, enquanto a esposa Maria Helena Juliace de Araújo tem outros 6 alvarás, o irmão dela, Benevides Juliace Ponce tem mais 14 alvarás e a mulher dele, Gleicekermen Bogarim Ponce, tem outros 3 alvarás.
Alheios a tudo isso, os integrantes da CPI do Táxi passaram a contar, desde o dia 12 de setembro, com a “ajuda” do investigador de Polícia Civil Eduardo Juliace de Araújo, que foi colocado à disposição integral da Câmara de Vereadores, como pode ser confirmado por meio Decreto “P” nº 4.286, de 22 de agosto de 2017, publicado na edição nº 9.491 do Diário Oficial do Estado (DOE), de 12 de setembro de 2017.
Além de ser o filho do casal integrante da máfia do táxi, outro detalhe é que, conforme denúncia enviada ao Blog do Nélio, o investigador seria o verdadeiro dono de alguns dos 21 alvarás nos nomes dos pais, inclusive com registros na Prefeitura.
Ou seja, o investigador vai se auto investigar e tentar denunciar a máfia da qual os pais fazem parte e, bem provavelmente, ele também integra, e que também é acusada de pagar propinas aos vereadores. Nos sites de notícias da Capital, a família Juliace de Araújo já foi denunciada várias vezes por tentar tomar pontos de motoristas de táxi autônomos e explorar os “curiangos” – motoristas contratados pelos verdadeiros donos dos alvarás para dirigir os táxis – com cargas de trabalho fora dos padrões aceitáveis.
A Comissão
Enquanto isso, a CPI do Táxi já ouviu 17 pessoas até o momento e encontrou irregularidades nos registros de alvarás. De acordo com o presidente Vinícius Siqueira, existem alvarás que foram redigidos à mão, sem autenticação de cartório.
Nos últimos depoimentos, foram ouvidos o diretor-presidente da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), Janine de Lima Bruno, o presidente do Sindicato de Taxistas, Bernardo Quartin Barrios, e o presidente do Sindicato de Mototaxistas, Dorvair Boaventura de Oliveira, mais conhecido como Caburé.
Janine, em seu depoimento, disse que, ao assumir o posto, verificou a precariedade da documentação referente aos alvarás e que solicitou um levantamento completo da situação e encaminhou à procuradoria do município. Mas sobre a concessão dos alvarás, Janine ressalta “Eu nunca vi ninguém negociando preço de alvará, existe um trâmite, a pessoa dá entrada na Agetran, e se os documentos necessários estiverem certo, a transferência é realizada. Além da lei municipal, há uma lei federal que permite a transferência”.
Para o presidente do Sindicato dos Taxistas, Bernardo Quartin, as transferências são regulamentadas dentro do órgão competente. “Atuamos dentro de uma legalidade proposta pelo município de Campo Grande”, afirmou. Já o líder do Sindicato dos Mototaxistas, Dorvair, defendeu a modernização da legislação e disse que defende a necessidade de reformulação. “A atividade do mototaxista começou em Campo Grande em 1997 regulamentada por esta Casa, a lei permite até duas permissões de alvarás para cada mototaxista, não há na nossa categoria concentração de alvarás”, declarou.
O relator da CPI, o vereador Odilon de Oliveira (PDT), disse que a CPI vem caminhando dentro do espírito proposto. “Nós já levantamos algumas incongruências entre os depoimentos e as documentações, o que pode nos motivar a tomar algumas medidas judiciais”, declara.