PF revela que narcotraficante de MS pagaria a propina que derrubou desembargador de São Paulo

A Polícia Federal revelou que o narcotraficante ponta-poranense Antônio Joaquim Mota, o “Motinha”, seria o responsável por paga propina ao desembargador Ivo de Almeida, do TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo), para beneficiar o também narcotraficante Romilton Queiroz Hosi em uma sentença judicial.

Diálogos entre advogados e interlocutores da negociação da propina revelam que no dia 7 de outubro de 2020 um deles viajou para Ponta Porã (MS) para “falar com o pessoal lá”. Dois dias depois, esse mesmo advogado diz que “lá a mala está pronta, agora é só você ir na área aí”.

Não muito crédulo nessa informação, o outro advogado pergunta “será que o menino aí é firme para pagar ou vai querer parcelar?”. Em resposta, vem uma informação que mostra todo o poderio daqueles que iriam pagar a propina ao desembargador paulista, mas que também despertou o interesse da PF por este poderoso narcotraficante.

“Tá de brincadeira né? O cara é bilionário. Tem 50 mil boi. Tem oito mil alqueire, alqueirão de soja. Tem uns 20 ou 30 helicópteros e avião. Esquece. Cocaína então, deve ter mais de seis, sete toneladas estocadas na fazenda”, respondeu o homem identificado pela PF como Dr. Luiz Manna.

Essas descrições, por sua vez, remetem automaticamente ao chamado “Clã Mota”, que atualmente é comandado por Antônio Joaquim Mota, ou “Dom”, como gosta de ser chamado em referência ao personagem do filme “Poderoso Chefão”, Don Corleone.

Na região de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, o transporte de cocaína utilizando helicópteros é “exclusividade” da família Mota. No ano passado, “Motinha” conseguiu escapar de duas operações da Polícia Federal na região de fronteira.

Em ambas, ele utilizou helicópteros. A suspeita é de que tenha informantes infiltrados nas forças policiais. O pai dele, que tem o mesmo nome, porém, foi preso em 20 de fevereiro deste ano em Ponta Porã e transferido no mesmo dia, desta vez em um helicóptero da PF, para o Presídio Federal de Campo Grande.

Desde que a PF começou a investigar o envolvimento da tradicional família de pecuaristas e agricultores de Ponta Porã e do Paraguai, o grupo já perdeu pelo menos 13 helicópteros. Oito deles se envolveram em acidentes ou foram abatidos pelas forças policiais na região de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai. Os demais foram apreendidos em oficinas ou hangares ligados à quadrilha.

O caso mais recente ocorreu na última terça-feira (18) quando um helicóptero com 244 quilos de pasta-base de cocaína foi interceptado a tiros na região norte do Paraná. O piloto, um homem de 52 anos, foi preso e levado para Londrina (PR).

A aeronave havia saído da região de Ponta Porã e foi interceptada por três helicópteros das forças de segurança em ação envolvendo equipes da PM paranaense e agentes da PF em Ponta Porã e Naviraí (MS).

A mala à qual se referiam os investigados pela PF seria para pagar a propina de R$ 1 milhão para beneficiar o narcotraficante  Romilton Queiroz Hosi, que está preso desde 2019 em São Paulo e que pretendia ser transferido para uma prisão em Campo Grande, conforme revelou investigação da “Operação Churrascada”, deflagrada na última sexta-feira pela PF em São Paulo.

O curioso é que o narcotraficante pagaria a propina ao desembargador Ivo de Almeida, segundo a PF, somente para ser transferido. Isso porque possivelmente tinha a certeza de que uma vez em Campo Grande, conseguiria escapar mais uma vez do sistema prisional.

Em 2002, fugiu pela porta da frente do Instituto Penal de Campo Grande. A Justiça chegou à conclusão de que pagou propina a servidores públicos. Um agente penitenciário chegou a ser demitido.

No ano seguinte, em 17 de novembro de 2003, meses depois de ser preso em decorrência da apreensão de 449 quilos de cocaína em Rio Verde (MS), escapou das mãos de nove policiais militares que o levavam para uma audiência judicial no fórum de Campo Grande.

A conclusão das autoridades é de que Hosi havia repassado propina de um milhão de reais aos policiais para facilitar a fuga. Cinco PMs chegaram a ser condenados pela Justiça, mas a pena maior foi de apenas 3 anos e cinco de prisão.

Romilton Queiroz Hosi foi recapturado somente 16 anos depois, em 2019, e desde então está preso em São Paulo. A transferência só não se concretizou porque o desembargador paulista ainda não havia conseguido convencer seus colegas de Câmara para efetivar a transferência e assim receber a mala de dinheiro prometida pela família Mota. Com informações do Correio do Estado