O pastor Jesus Dalnivo Coelho Gorgs, 40 anos, que prestou depoimento à Polícia trazendo nas mãos a Bíblica Sagrada menos de 24 horas depois de manter a mulher em cárcere privado e transmitir todas as agressões contra ela em uma live no Facebook, deverá responder por tortura por mantê-la trancada dentro do quarto do casal enquanto a ameaçava com uma tesoura.
O homem teria cortado a roupa, várias mechas do cabelo da esposa e a agredido, tudo para que ela “confessasse” um caso extraconjugal que ele afirmava que a mulher mantinha. Os rompantes foram filmados e transmitidos pelo Facebook. De acordo com a delegada Maíra Pacheco Machado, da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), o caso era investigado como lesão corporal, entretanto, após o depoimento da vítima, a delegacia decidiu mudar para tortura.
“Ele, a todo momento, queria que ela confessasse uma traição que não existiu, [estava] apenas na cabeça dele. Ele ameaçava com a tesoura e, durante surtos, cortava o cabelo ou a roupa dela como uma forma de punição. E filmava tudo isso e postava nas redes sociais”, declarou a delegada.
Depoimento
Se isso já não fosse suficiente, o verdadeiro lobo em pele de cordeiro teve a cara de pau de dizer aos policiais que a esposa tinha lhe drogado com Rivotril (remédio com efeito sonífero) e anfetaminas por quatro meses para poder ter encontros amorosos com o suposto amante dentro da residência do casal.
Ele ainda afirmou que a briga com a mulher começou quando viu o suposto amante no quarto do casal. Tudo aconteceu em sobrado na Rua Cláudia, no Giocondo Orsi, bairro de classe média de Campo Grande.
A Polícia Militar foi chamada no fim da tarde de ontem (12) e o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) decidiu invadir o quarto onde Jesus mantinha a mulher refém. Ele foi desarmado e preso, enquanto a vítima foi levada para hospital.
Em depoimento prestado na Deam, ao lado do advogado Luthero José da Silva, o pastor disse que a esposa os trancou no cômodo e escondeu a chave quando ele pediu a separação e disse que iria embora. Ele alega que a vítima não queria deixá-lo sair.
Embora os vídeos na rede social mostrem claramente Jesus Gorgs segurando o celular e filmando a mulher seminua, ele nega que tenha divulgado as imagens na Internet. Mais uma vez, joga a culpa para a vítima e a acusa de ser autora da gravação.
O pastor diz que descobriu o caso da mulher há dois meses e que durante as discussões do casal, ela fazia questão de falar o modo como fazia sexo com o amante. Segundo ele, naquela manhã, a mulher o xingou de “corno”, “pastorzinho de m…” e “falso profeta”.
No início da tarde dessa quinta-feira (12), a foto do perfil da vítima no Facebook foi trocada, postando mechas do cabelo dela. Depois, a página foi excluída. Jesus afirmou, por fim, que foi a vítima quem cortou o próprio cabelo e que ela estava com a tesoura para atacá-lo, mas ele conseguiu tirar a arma da mão da mulher.
Todos os outros depoimentos contradizem a versão do pastor. Os primeiros policiais militares que chegaram ao local registraram em boletim de ocorrência que Jesus “estava irredutível quanto a causar mal à vítima, afirmando várias vezes que ia furar os olhos dela”.
Um casal que pertence a mesma congregação a qual pastor pertencia contou à delegada Thais Cavalcanti Franca, da Deam, que dormiu na casa de Jesus e esposa para apaziguar os ânimos. Na manhã de quinta-feira (12), trancado no quarto, o homem dizia ter descoberto a traição, que cortaria o cabelo da mulher, a mataria e depois se suicidaria.
Ainda segundo a testemunha, o pastor afirmava que faria vídeos da esposa e que acabaria com a reputação dela porque divulgaria as filmagens nas redes sociais.