Na semana passada, o Exército e a Prefeitura de Campo Grande, responsáveis pela readequação do corredor sudoeste da cidade, que inclui as avenidas Marechal Deodoro e Bandeirantes e as ruas Brilhante e Guia Lopes, informaram, de forma conjunta, que as obras vão atrasar em pelo menos seis meses, ou seja, o prazo de 24 meses que vencia em fevereiro de 2019 vai até agosto do mesmo ano. Porém, o Blog do Nélio teve acesso à denúncia encaminhada ao MPE (Ministério Público Estadual) e MPF (Ministério Público Federal) que pode aumentar ainda mais esse período de retardamento da conclusão dessa importante obra para o trânsito viário da Capital, quiçá não suspendê-la de vez.
Segundo documentos entregues ao Blog do Nélio, o oficial do Exército responsável pelo processo licitatório para a escolha das empreiteiras que vão auxiliar os militares nas execuções de alguns serviços dessas obras no corredor sudoeste de Campo Grande é casado com a enteada do sócio-proprietário da Queiroz Engenharia Eireli, Paulo Sérgio de Queiroz, que foi a empresa vencedora do certame.
Carlos Augusto Fernandes e sua esposa Paula Souza Silvestre, aparecem em diversas fotos nas redes sociais desfrutando de momentos pessoais com o empreiteiro Queiroz e seu engenheiro que está responsável pela obra, Danilo Reis.
O fato de o oficial responsável pela licitação que escolheu a empresa para auxiliar o Exército nas obras de recapeamento das ruas de Campo Grande ser casado com a enteada de Paulo Sérgio de Queiroz sugere, portanto, favorecimento no negócio e isso precisa ser investigado pelo MPE e MPF. Afinal de contas, esse vínculo de parentesco do dono da Queiroz Engenharia Eireli com o servidor da entidade licitante afronta, por interpretação analógica, o disposto no artigo 9º, inciso III, da Lei nº 8.666/1993, mais conhecida como Lei das Licitações, que veda a participação, “direta ou indiretamente, da licitação ou da execução de obra ou serviço e do fornecimento de bens a eles necessários, do servidor ou dirigente de órgão ou entidade contratante ou responsável pela licitação”.
E agora MPE e MPF?
O Exército que tem uma imagem ilibada diante da população tem que explicar muito detalhadamente essa proximidade e o certame
Em tempos de tantas operações de combate à corrupção, os órgãos responsáveis por investigar tais irregularidades não podem deixar de apurar essa denúncia e o CMO (Comando Militar do Oeste) precisa também averiguar o fato para que tal ato não manche ainda mais o bom nome do Exército Brasileiro.
Atraso nas obras
Por meio de nota, enviada via assessoria de imprensa do CMO, quatro motivos são listados para explicar o atraso no cronograma das obras de readequação do corredor sudoeste da cidade, que inclui as avenidas Marechal Deodoro e Bandeirantes e as ruas Brilhante e Guia Lopes. O volume de chuva acima do esperado e as informações desatualizadas há décadas sobre a tubulação subterrânea são as principais dificuldades encontradas pelos militares no canteiro de obras, conforme o texto assinado pelo general de brigada José Carlos Braga de Avellar e pelo prefeito Marquito Trad (PSD).
Segundo os responsáveis pelas obras, o cadastro do sistema de drenagem, abastecimento de água e tratamento de esgoto, além da tubulação de gás e telefonia existentes nos arquivos da prefeitura estão desatualizadas desde as décadas de 1960 e 1970. Por isso, durante os trabalhos no canteiro, por várias vezes adutoras foram rompidas, precisaram ser reparadas e as equipes também tinham de aguardar a secagem do solo para retomar os trabalhos.
“O período de chuvas está mais longo e mais intenso do que indicava a série histórica”, continua o texto. Na nota, o Exército também destaca que a transição de governo atrapalhou o cronograma e depois porque demorou a disponibilizar os projetos executivos e outros detalhamentos da obra. As duas situações já foram solucionadas, segundo a prefeitura e o CMO.
O convênio entre Exército e Prefeitura de Campo Grande foi firmado em agosto de 2016, ainda na administração do ex-prefeito Alcides Bernal (PP), e prevê o recapeamento de 12 quilômetros: 5 quilômetros na Avenida Marechal Deodoro, 4 quilômetros na Avenida Bandeirantes, 600 metros na Rua Guia Lopes e 3 quilômetros na Rua Brilhante. Do total do convênio, R$ 24 milhões serão executados diretamente, ou seja, pelo próprio Exército, enquanto o restante será terceirizado, com obras como boca de lobo.
Tanto o empreito Queiroz como o Exército foram contactados pelo Blog mas até o fechamento dessa matéria nenhum dos dois responderam as nossas ligações.