Nos últimos meses, o MinerWord ganhou as ruas de Campo Grande e está conquistando mais e mais simpatizantes a cada dia que passa. No entanto, essa “febre” já despertou a atenção das autoridades, pois, tudo indica que se trata de uma nova forma de “pirâmide”, ou seja, ganhar dinheiro fácil e rápido com a venda de um produto ou serviço, sendo que, quanto mais pessoas levar ao grupo, mais dinheiro ganhará, mas, para isso, você deve pagar uma taxa de adesão e uma mensalidade.
Essa possível nova modalidade de golpe já entrou na mira do MPF (Ministério Público Federal), que recebeu uma denúncia sobre a operação do modelo de negócio justamente sob a suspeita de possível golpe de pirâmide financeira ou esquema Ponzi. A acusação está em análise na Coordenadoria Criminal da Procuradoria da República nem Mato Grosso do Sul.
Sede inexistente
Para agravar o quadro, Cícero Saad e Jonhnes Carvalho, proprietários da MinerWorld, impedem qualquer acesso à sede da empresa, cujo local de operação fica na cidade paraguaia de Hernandarias. Eles alegam que no momento não é possível conhecer a sede porque “ainda está em obras”.
A dupla de picaretas ainda nega que o “negócio” seria uma nova modalidade de pirâmide e garantem que os lucros prometidos aos investidores se baseiam na mineração de bitcoins feita com supercomputadores no Paraguai e na China.
Mesmo com a negativa para mostrar as máquinas mineradoras em operação, Cícero e Jonhnes reafirmaram que a MinerWorld não é mais um esquema de pirâmide porque as pessoas não precisam enfiar mais gente em uma rede para garantir os ganhos. Eles chamam os ‘investidores’ de “vendedores ambulantes”, embora não mantenham qualquer vínculo trabalhista com os ‘miners’.
Segundo Cícero, a MinerWorld é uma mineradora de moedas digitais – não reconhecidas pelo Banco Central do Brasil, nem por outros bancos centrais mundo afora – e tem sede em Cidade del Este, no Paraguai, além de um Parque de Mineração na China. No entanto, os contratos feitos com os ‘vendedores ambulantes’ usa o CNPJ que aponta para um endereço em Campo Grande.
Enquanto isso, quem entra compra ‘planos’ de investimento com promessa de retorno que beira os 100%. Para entrar, os ‘miners’ devem pagar uma quantia que define o quanto eles lucram, e recebem um contrato assinado que usa dados fiscais de uma empresa no Paraguai. Apesar dos sócios negarem o perfil de ‘pirâmide’, quando conseguem colocar novos ‘miners’, eles ganham 10% do valor colocado no esquema pelo novo ‘investidor’.
Os donos, Cícero Saad e Jonhnes Carvalho, mostraram fotos de celular para provar a atividade fora do país, financiados por dinheiro de investidores principalmente brasileiros. Em uma delas, aparentemente dois homens de origem chinesa estão vestidos com um uniforme levando o emblema da empresa e a outra mostra a suposta unidade no Paraguai, com um terreno e uma placa caída, apoiada em árvores.
Pirâmides e risco
Para configurar pirâmide, o negócio deve se sustentar na captação de novos clientes, ao modo que a entrada de mais pessoas sustentasse todo o plano de negócios, e não as moedas. Quanto mais indicações houver, maior será o retorno, como viagens internacionais e carros de luxo, podendo ser caracterizado como um sistema fraudulento. Embora o Bitcoin possa ser emitido pelos próprios usuários, o software só permite a criação de 21 milhões de Bitcoins, e hoje há aproximadamente 11.700.000 Bitcoins em circulação, mais da metade do previsto.
O Banco Central do Brasil alerta que não se responsabiliza pelo uso das moedas criptografadas e lembra que lembra que elas não têm garantia de conversão para a moeda oficial e que não são lastreadas por ativo real de qualquer espécie. Para o detentor de moedas virtuais, o risco é a variação da cotação. O BC chama atenção para o fato de a pessoa perder tudo o que investiu porque a moeda pode ser reduzida a pó. E ressalta a possibilidade de esse tipo de instrumento ser utilizado em atividades ilícitas, pois complica as investigações de autoridades públicas.
As chamadas moedas virtuais não são emitidas nem garantidas por uma autoridade monetária. Algumas são emitidas e intermediadas por entidades não financeiras e outras não têm sequer uma entidade responsável por sua emissão. Em ambos os casos, as entidades e pessoas que emitem ou fazem a intermediação desses ativos virtuais não são reguladas nem supervisionadas por autoridades monetárias de qualquer país.
“Existe risco da moeda? Eu assumo esse risco. E quando entrega bitcoins, ela pode desvalorizar? Pode, mas você assume o risco de ganhar mais dinheiro e perder”, admite Jonhnes, ao comentar sobre os riscos e as garantias do investimento na empresa que ele garante ser paraguaia, apesar de usar o CNPJ de uma pequena empresa de assistência técnica de informática. “Apesar de ser pequena no papel, movimenta muito dinheiro”, diz.