Muita pretensão ou fora da casinha? Mandetta admite que será candidato a presidência

Mandetta admite ser candidato a presidente; É muita pretensão!

Aposto que todo brasileiro queria ter a autoestima do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que já foi secretário municipal de Saúde de Campo Grande (MS) e ex-deputado federal pelo DEM. Agora, ele admitiu que pode ser candidato a presidente da República em 2022 e, em entrevista concedida ao Programa Ponto a Ponto, do canal BandNews TV, falou que vai “estar em praça pública lutando por algo em que eu acredito”.

No entanto, ele se esqueceu que a figura de “herói nacional” construída quando comandava o Ministério da Saúde em meio à pandemia mundial do novo coronavírus (Covid-19) está indo para o lixo. O TCU (Tribunal de Contas da União) colocou sob suspeita o contrato firmado entre o Ministério e a empresa Topmed Assistência à Saúde, pois pode ter havido sobrepreço de mais de R$ 100 milhões.

Além disso, em Mato Grosso do Sul, o ex-ministro da Saúde é réu no escândalo Gisa (Sistema de Gestão em Saúde), que aponta o desvio de R$ 8,1 milhões dos cofres da Prefeitura de Campo Grande quando era secretário municipal de Saúde na gestão do primo, atual senador Nelsinho Trad (PSD). O inquérito criminal foi encaminhado no dia 3 de março deste ano para a Justiça Eleitoral, sendo que o juiz Dalton Kita Conrado, da 5ª Vara Federal de Campo Grande, levou praticamente um ano e meio para declinar competência.

O inquérito foi aberto em 2015, quando Mandetta ainda era deputado federal, e tramitou por três anos no Supremo Tribunal Federal. Em agosto de 2018, o ministro Luiz Fux declinou competência para a Justiça Federal de Mato Grosso do Sul, seguindo novo entendimento da corte, de que o foro privilegiado ficou restrito aos crimes cometidos no exercício do mandato.

O inquérito chegou à 5ª Vara Federal no dia 20 de setembro de 2018. No primeiro despacho a respeito, em 4 de dezembro do mesmo ano, o juiz Dalton Igor Kita Conrado, determinou sigilo em decorrência da quebra de sigilo bancário e fiscal do ministro. Somente em setembro do ano passado, o inquérito foi enviado para manifestação do Ministério Público Federal.

A Procuradoria da República em Campo Grande levou cinco meses, no dia 27 de fevereiro deste ano, para dar parecer pelo encaminhamento da denúncia para a Justiça Eleitoral. Mais rápido, na terça-feira, o juiz Dalton Kita Conrado declinou competência para a 36ª Zona Eleitoral de Campo Grande, presidida pela juíza Gabriela Muller Junqueira.

Além da epidemia de dengue, o escândalo Gisa marcou a gestão de Mandetta como secretário municipal de Saúde de Campo Grande. Conforme a CGU (Controladoria-Geral da União), houve favorecimento no processo de implantação do sistema, fraudes e falhas contratuais. Lançado para modernizar o sistema de saúde da Capital, o programa nunca funcionou e serviu para desviar R$ 8,1 milhões dos cofres públicos – o valor atualizado é de R$ 14 milhões. A Prefeitura de Campo Grande foi condenada a todo o dinheiro ao Ministério da Saúde.

De acordo com denúncia do MPF, Mandetta atuou para garantir a vitória do Consórcio Contisis, composto por três empresas, mas que não tinha condições de implantar o sistema e subcontratou a empresa portuguesa Alert. Apesar do suposto desvio milionário ter ocorrido em 2010, a Polícia Federal começou a investigar Mandetta em 2015 e até hoje não conseguiu concluir a investigação em decorrência do jogo de empurra entre os integrantes do Poder Judiciário brasileiro.

Sonho

 Ainda na entrevista ao Programa Ponto a Ponto, do canal BandNews TV, o ex-ministro diz que o DEM, partido ao qual é filiado, acredita na mesma coisa que ele, ou seja, que tem chances de ser presidente da República. “Se o Democratas achar que deseja outra coisa, eu vou procurar o meu caminho. Eu vou achar o caminho. Como candidato, ou carregando o porta-estandarte do candidato em que eu acreditar. Mas que eu vou participar ativamente das eleições, eu vou”, declarou.

Questionado se queria dizer que participaria como candidato a presidente, ele respondeu: “A presidente, a vice-presidente”. Em seguida, o ex-ministro lembrou que outros cargos estarão em disputa em 2022, como o de governador, vice-governador e senador. E descartou a possibilidade de se candidatar a deputado federal – ele já cumpriu dois mandatos na Câmara dos Deputados.

Em seguida, Mandetta passou a falar como candidato ao criticar a polarização política no Brasil. “Em 2022, polarização, com certeza, não. Se a gente conseguir um grande acordo, um grande caminho pelo centro democrático – não por esse centro fisiológico aí que está fazendo essa nova base de sustentação (ao governo de Jair Bolsonaro)”, afirmou.

“Mas um centro bacana, que respeite as individualidades, que eu não tenha que decidir se o cara é gay, se o cara é hetero, se o cara é alto, se o cara é baixo. Você tem que respeitar as pessoas nas suas questões individuais”, continuou. “E promover a revolução de uma década. Porque essa, (de) 2010 a 2020, foi jogada na lata do lixo.”

Em agosto, o ex-ministro deve lançar um livro sobre a sua experiência como ministro da Saúde em meio à epidemia do novo coronavírus. Ele diz que pretende colocar o livro embaixo do braço e viajar pelo Brasil. Em abril, Mandetta foi demitido por Bolsonaro após destacar-se na gestão da pasta durante a pandemia. Eles passaram por um longo processo de embate antes da decisão do presidente.

Na época, Bolsonaro já ignorava orientações sanitárias e criticava medidas de distanciamento tomadas por prefeituras e governos estaduais, ao contrário de Mandetta, que defendia o isolamento social. O médico elogiou Sergio Moro quando o ex-ministro da Justiça deixou a pasta, uma semana depois de sua demissão. “O trabalho realizado sempre foi técnico. Durante a epidemia trabalhamos mais próximos, sempre pensando no bem comum”.

“Parabéns pelo trabalho Ministro @SF_Moro. O país agradece! Outras lutas virão!”, escreveu em sua conta no Twitter. Quando Mandetta ainda estava sob fritura no governo, a mulher do ex-juiz da Lava Jato, Rosangela Moro, saiu em sua defesa. No Instagram, ela postou uma foto acompanhada da mensagem: “Entre ciência e achismos eu fico com a ciência. Se você chega doente em um médico, se tem uma doença rara você não quer ouvir um técnico?”. “In Mandetta I trust”, completou. O post ficou poucos minutos no ar e foi apagado.