Mirabolante! Mesmo com ação da PF vítimas se recusam discutir versão dos assaltantes, por quê?

Rodrigo Azambuja e Ivanildo Barbosa

A rocambolesca história do roubo de uma “mala de dinheiro”, ocorrido dia 27/11, na BR-262, próximo a um acampamento de sem terras, em Terenos, que seria pagamento de propina ao administrador rural José Ricardo Guitti Guimaro, o Polaco, para que ele não firmasse um acordo de delação premiada, teve um novo capítulo nessa sexta-feira.

Isso porque foi preciso acionar a Polícia Federal para tentar localizar as vítimas do roubo, os empresários Ademir José Catafesta e Lucas Medeiros Catafesta. Eles estavam sumidos desde que vieram a tona as denúncias dos assaltantes, de que o dinheiro roubado seria de origem ilícita e destinado ao pagamento de propina, e pior, que a estratégia do assalto supostamente teria sido idealizada por Rodrigo Azambuja, filho caçula do Governador Reinaldo Azambuja (PSDB)..

Em uma ação conjunta entre o GECOC (Grupo Especial de Combate à Corrupção) e a Polícia Federal, foram realizadas ações para tentar localizar e conduzir coercitivamente Ademir José Catafesta e Lucas Medeiros Catafesta. Mas novamente as vítimas simplesmente não foram localizadas.

PF foi até a casa e empresa de Lucas Medeiros Catafesta em Aquidauana, mas ele não foi localizado. Mais tarde os policiais conseguiram localizá-lo em Campo Grande e ele foi conduzido até a sede das Promotorias de Justiça na Rua da paz. Não conseguimos confirmar se houve prisão do empresário.

Novo denunciado

Uma novidade foi revelada com o surgimento de um novo personagem na história, o despachante David Cloky Hoffamam Chita (foto destaque), que tinha contra si uma ordem judicial de condução coercitiva.

David Chita já estampou o noticiário policial em 2014, quando foi preso acusado de integrar uma quadrilha que roubava veículos novos do pátio da concessionária Fiat Enzo e depois registrava os veículos com uso de notas fiscais falsas. A Polícia Federal tentou, mas ele não foi localizado em sua casa, nem nas suas empresas.

 

Sinal de vida

Embora Ademir Catafesta não tenha sido localizado pela PF, acabou entrando em contato com a reportagem por telefone, quando informou que reside no mesmo endereço há mais de 40 anos, e só não foi localizado porque estaria em Santarém, no Pará, a negócio. Ele afirmou que retorna de viagem na próxima quarta-feira, quando procurará o Promotor de Justiça Marcos Alex Vera de Oliveira, que integra o GECOC, para responder todos os questionamentos.

 

GECOC e PF juntos

Muita gente estranhou essa parceria entre a PF, que é uma instituição federal, com o GECOC, que é um grupo ligado ao ministério público estadual. Embora parte das ações realizadas em conjunto sejam de interesse mútuo, a razão preponderante é que o GECOC, apesar de ter sido criado há mais de um ano, ainda não conta com uma boa estrutura. Atualmente a equipe de trabalho é formada por um promotor, um assessor, um técnico e um estagiário. Por outro lado a PF além de estrutura, também tem interesse na apuração das denúncias feitas principalmente por Luiz Carlos Vareiro, que é sócio de uma empresa acusada de pagar propina para conseguir contratos de obras públicas.

 

Ainda há mais por vir

A investigação contínua e outras diligências têm sido realizadas, de forma menos ostensivas, visando buscar provas que corroborem as informações prestadas por Luiz Carlos Vareiro ao promotor Marcos Alex e ao delegado da Cleo Mazzotti da Polícia Federal.

A oitiva ocorreu logo após ele ter sido preso, em razão do roubo do malote contendo aproximadamente R$300 mil, que estava sendo levado para José Ricardo Guitti Guimaro e seria pagamento para comprar o silêncio de Polaco, sobre outra investigação em andamento, da qual ele é acusado de ser o coletor de propinas cobradas de empresários de Mato Grosso do Sul.

Esse caso inclusive foi revelado no Fantástico pelo empresário José Alberto Miri Berger, que acusou o Secretário de Governo Sérgio de Paula e o próprio Governador do Estado, Reinaldo Azambuja, de cobrar propina para conceder benefícios fiscais. Sérgio de Paula pediu demissão por causa desse escândalo e Reinaldo Azambuja afirma que é inocente, e que tudo seria uma armação do empresário José Alberto, para tentar manter os incentivos fiscais, mesmo após ter sido descoberto um esquema de sonegação fiscal nas empresas dele.

Quanto ao caso do roubo do malote, Luiz Carlos Vareiro afirma que o plano foi idealizado pelo filho do governador, mas ele também acabou confessando que atua como laranja do arquiteto e empresário Reginaldo João Bacha.

Reginaldo Bacha confirma que manteve sociedade empresarial com Luiz Carlos, mas nega que ele tenha sido laranja. Quanto as acusações, ele justifica que são improcedente e afirma, sem revelar por quem ou onde, que Luiz Carlos Vareiro foi pressionado para dizer algumas coisas e depois coagido a assinar uma declaração que nem chegou a ler.

As declarações de Luiz Carlos Vareiro ao promotor Marcos Alex e ao delegado Cleo Mazzotti não foram registradas por escrito, mas sim gravadas em vídeo. Depois que ele foi apresentado na Depac Piratininga, para lavratura de prisão em flagrante por posse de arma, é que foi interrogado e suas declarações registradas em termo. Mas em nenhum desses momentos ele citou qualquer tipo de coação.

 

Próximos capítulos

Devem surgir novidades para engrossar (ou entornar) o caldo. Isso porque a Polícia Cívil também está realizando a apuração desses fatos. Uma viatura da DECO foi fotografada no fim da tarde de quinta-feira em frente ao Fórum de Campo Grande, embora tenha haja negativa de correlação com o caso, a reportagem apurou que foram autorizadas algumas medidas cautelares. Além disso há uma forte expectativa quanto a eventuais prisões dos delatores que denunciaram a articulação em torno do malote de dinheiro.

 

Polaco no Circuito

O que pode representar um importante avanço nas investigações é a chegada de um personagem essencial para esclarecimento da trama. Para elucidar as denúncias basta seguir o conselho do ex Secretário da Casa Civil Sérgio de Paula ao empresário Alberto Berger: Põe o Polaco no circuito, vai por mim, ué…