O promotor de Justiça Militar Marcos José Pinto denunciou, no último dia 30 de julho, 11 oficiais e praças do Exército lotados no quartel do 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado, localizado no município de Bela Vista (MS), pela morte do soldado Vinícius Ibanez Riquelme, 19 anos, e também por agressões a recrutas durante período de treinamento na unidade militar.
Os denunciados são o 2º tenente do Exército Thiago Mauri Marçal, o 2º tenente do Exército Victor Augusto Albuquerque Barros, o 3º sargento do Exército Gustavo Doré Gonçalves, 3º sargento do Exército Arthur Castelani Lopes, o 3º sargento do Exército Breno Gonçalves Salles, o 3º sargento do Exército Lucas Romero Silvestre, o cabo do Exército Everton Marim Figueiredo, o cabo do Exército Luiz Eduardo Coronel Siqueira, o soldado do Exército Weverton da Silva Dias, o soldado do Exército Cleison Rodrigues Marinho e o soldado do Exército Marcos Vinícius Irala dos Santos.
O soldado Vinícius Riquelme morreu no dia 27 de abril na Santa Casa de Campo Grande, enquanto os outros recrutas chegaram a ficar internados depois da instrução física ministrada pelos 11 oficiais e praças do Exército no quartel de Bela Vista.
Na declaração de óbito, foram indicadas como causa da morte choque, necrose centro-lobular, distúrbio hidro-eletrolítico, desidratação, síndrome infecciosa e realização de exercícios físicos rigorosos.
Ainda segundo a denúncia, “por certo o óbito do Sd Ex VINÍCIUS foi motivado por uma série de fatores, conforme já mencionado, que integram os autos: realização de exercícios físicos sem descansos apropriados, trotes em grande número de recrutas, ingestão de alimentos inadequados (alho e cebola), e não previstos na instrução, castigos físicos em recrutas (como rastejos sem previsão na Ordem de Treinamento, e batidas com galho de árvore em recrutas), restrição de água e alimento, em especial na prova de sobrevivência (era previsto), ocasião em que o Sd Ex VINÍCIUS estava “exausto e desidratado” (depoimento do SD EX HENRIQUE FRANÇA – evento 59, testemunha 11), estando o Sd Ex VINÌCIUS “desde o segundo dia do acampamento mal” (depoimento do Sd Ex BAZAN – evento 62, testemunha 16), culminado com o teste positivo para o vírus Influenza, a que já estava acometido (documento de f. 484, do IPM), culminando em processo de óbito como em síndrome respiratória”, diz a denúncia.
Além da morte do soldado Vinícius Riquelme, os oficiais e praças do Exército são acusados de maus-tratos quando agrediram com socos e chutes outros recrutas no treinamento. O Ministério Público Militar relatou que os acusados expuseram a saúde dos recrutas, obrigando-os a comer alho e cebola crus, agredindo-os com galhos de árvore e forçando-os a rastejar.
Um dos recrutas relatou que ao procurar atendimento por dores na coluna foi tratado de maneira desrespeitosa. “O Sd PINTO (f. 154, da Sindicância) relatou que estava com muita dor na coluna, e quando foi até a ambulância foi recebido pela Sgt JENNIFER dizendo de forma desrespeitosa “o que você quer aqui?” e “na minha ambulância você não entra, se depender de mim você não vai baixar, se precisar vou te acompanhar na marcha”, mesmo assim o atendeu e indicou medicamento para a dor”, trouxe outra parte da denúncia.
Após a morte do recruta, além de seus familiares denunciarem que a ‘desidratação’ e ‘esforços exaustivos durante os exercícios físicos’ feitos por ele, famílias de outros militares denunciaram coação supostamente praticada por militares para que soldados recrutas compram enxoval específico ao ingressarem no serviço militar.
Vinícius Riquelme passou por treinamento de campo com o grupo do 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado de Bela Vista entre os dias 22 e 26 de abril. No último dia, os soldados voltaram em marcha, a pé, quando o recruta não suportou e caiu ao chão desmaiado.
Ele foi levado para a ambulância e depois para a enfermaria do quartel, onde ficou por 4 horas até ser transferido para o hospital local São Vicente de Paulo. O hospital solicitou ‘Vaga zero’ para Campo Grande e às 19h30 daquele dia ele foi encaminhado para a Santa Casa da Capital, onde morreu às 6h45 do dia seguinte.
“Eles foram forçados a comer alho e cebola com casca, ficaram durante horas expostos ao sol quente sem beber água, não foi autorizado atendimento no local do treinamento aos recrutas que estavam se sentindo mal, ou seja, houve omissão por parte dos responsáveis”, informou o advogado na época da morte do soldado.