Por Edmondo Tazza – Ponta Porã
No Hospital Regional de Ponta Porã, as cirurgias eletivas voltaram a ser suspensas, sem data de retorno e o Grupo Gerir pode “abandonar o barco”
A situação do Hospital Regional de Ponta Porã continua alarmante e sem uma solução iminente para um curto espaço de tempo. Pelo contrário, segundo fontes do Governo do Estado, o atendimento pode levar ainda mais seis meses para ser normalizado. As cirurgias eletivas [aquelas em que não há urgência] voltaram a ser suspensas e sem data de retorno, enquanto os gestores do HR cobram os repasses que o governo está devendo e sem os quais, médicos, colaboradores e fornecedores também ficam sem receber.
Não bastassem os entraves burocráticos e políticos que dificultam o repasse de verbas dos cofres estaduais para o custeio do contrato com a Organização Social Gerir, administradora da unidade hospitalar, alguns médicos têm se utilizado de uma pressão considerada desumana até por outros profissionais da saúde e isso tem encontrado eco no plenário da Câmara Municipal de Ponta Porã.
Esta semana, segundo denúncia dos familiares, três pacientes tiveram suas cirurgias suspensas por falta de anestesistas que, dizem as próprias vítimas, se negaram a trabalhar enquanto não receberem os salários atrasados.
Diante desse comportamento, é de se considerar que o Juramento de Hipócrates – feito por todo profissional de Medicina por ocasião de sua formatura – mais parece um “juramento de hipócritas”. Senão, veja um trecho do juramento original:
“(…) prometo solenemente dedicar minha vida ao serviço da humanidade; a saúde e o bem-estar de meu paciente serão a minha primeira consideração; respeitarei a autonomia e a dignidade do meu paciente; manterei o maior respeito pela vida humana; não permitirei discriminações de idade, doença ou deficiência, credo, origem étnica, gênero, nacionalidade, afiliação política, raça, orientação sexual, posição social ou qualquer outro fator que interfira entre meu dever e meu paciente (…); não utilizarei meu conhecimento médico para violar direitos humanos e liberdades civis, mesmo sob ameaça”.
Parece piada, mas, não é. E, enquanto isso, dezenas, quiçá mais de uma centena de pacientes, agonizam de dor, sentem cada vez mais sendo agravados os seus problemas de saúde, mas, são mantidos numa fila, aguardando por um procedimento cirúrgico que não tem data para ser realizado.
MELHORIAS
As melhorias físicas e funcionais agregadas ao Hospital Regional “José de Simone Neto”, assim que o Grupo Gerir assumiu a administração, há um ano, são inegáveis. Todavia, ainda existem ajustes e mudanças a serem feitas para que a “máquina” funcione como todo mundo quer.
Entretanto, como afirmam alguns vereadores, entre os quais os peemedebistas Daniel Marques e Farid Afif, o problema é muito mais a falta de “vontade política” do que essencialmente carência estrutural, financeira ou de recursos humanos. É verdade
que o acordo inicial previa uma contrapartida dos municípios que integram o leque atendido pelo Hospital Regional (Ponta Porã e mais 10 cidades da região), a ser descontada nas parcelas de repasse do ICMS, com desconto na fonte. Mas, até agora isso não saiu do papel.
Diante desse imbróglio todo e do jogo de empurra-empurra entre o Grupo Gerir e o Governo do Estado, o clima tem se tornado mais tenso a cada dia. A pressão vem de todos os lados: pacientes e familiares gritando cada vez mais alto em busca de um atendimento de saúde com qualidade; vereadores e lideranças de oposição batendo e criticando sem cessar, para que o governo pague os atrasados e pare de gastar recursos públicos em publicidade e, além disso, repetidas paralisações de atividades de médicos e funcionários (foram três este ano) por falta de pagamento completam o conjunto dessa obra grotesca e preocupante que é o quadro da saúde pública na fronteira.
São fortes os rumores de que o Grupo Gerir [apesar de sua assessoria negar] vai abandonar a administração do Hospital Regional de Ponta Porã. Outras organizações sociais já teriam enviado propostas para assumir a gestão e, ainda haveria interesse de um grupo de médicos que estaria formando uma cooperativa para administrar o hospital. Mas, esta última hipótese, está sendo considerada por muita gente como “um tiro no pé”. “Se estando fora da gerência os médicos integram o que a gente chama popularmente de “Máfia Branca”, que seria do futuro HR com os médicos literalmente no comando”? Ao que consta ninguém tem a resposta. (Edmondo Tazza – MTE/MS – 1266)
Legendas:
1 – Hospital Regional de Ponta Porã volta a suspender cirurgias eletivas
2 – Reforma do hospital não refletiu em melhoria no atendimento à saúde pública
3 – Vereador Farid Afif tem criticado constantemente o serviço oferecido pelo Hospital Regional
4 – Vereador Daniel Marques usa a tribuna para corar “inércia” de seus pares