As investigações da Polícia Federal no âmbito da “Operação Carbono Oculto” identificaram que a Duvale Distribuidora de Petróleo e Álcool, empresa que movimentou R$ 2,79 bilhões em 2021 para a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), tem uma filial “fantasma” na cidade Iguatemi (MS).
De acordo com o site Campo Grande News, o crescimento extraordinário da empresa está ligado à entrada de Daniel Dias Lopes, condenado por tráfico internacional de drogas, e ao aporte financeiro de Mohamad Hussein, o “Primo”, e Roberto Lemos, o “Beto Louco”, apontados como líderes de um esquema de lavagem de dinheiro do PCC.
Os três tiveram prisão decretada na semana passada e seguem foragidos, com nomes incluídos na lista vermelha da Interpol. Conforme o inquérito, “Primo” assumiu informalmente a Duvale após a cassação da licença de sua empresa anterior, a Copape/Aster, pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
Fundada em 1988 e registrada como inativa até então, a distribuidora começou a movimentar altíssimos valores em suas contas, levando o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) a emitir nove relatórios de inteligência financeira. Um deles aponta 24.229 depósitos em dinheiro fracionado, totalizando R$ 31,7 milhões entre outubro de 2020 e fevereiro de 2021.
O crescimento multimilionário da empresa possibilitou a abertura de filiais em Porto Velho (RO), Iguatemi, a 412 quilômetros de Campo Grande, e Feira de Santana (BA). Vistorias da PF nesses endereços não localizaram nenhuma operação em funcionamento. “Todo esse volume de recursos não tinha lastro fiscal e vinha do tráfico internacional de drogas”, afirma o relatório da Operação Tank, uma das três deflagradas na última quinta-feira.
Lopes, que cumpriu pena em regime fechado em presídios dominados pelo PCC, teria consolidado laços com a facção e outras frentes do crime organizado, incluindo operações de tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, atividade que segue em expansão.
A descoberta do superfaturamento relâmpago adiciona um novo capítulo à Operação Carbono Oculto, que na semana passada mobilizou 1,4 mil agentes para cumprir 315 mandados em oito estados, incluindo Mato Grosso do Sul, onde o esquema envolveu empresas em Dourados e sete em Iguatemi. A operação investiga crimes como fraude fiscal, adulteração de combustíveis, lavagem de dinheiro e sonegação de tributos, com movimentação financeira estimada em R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024.
As investigações apontam que o dinheiro de origem ilícita foi inserido em fintechs e fundos de investimento, dificultando o rastreamento e dando aparência de legalidade às operações. Entre os bens adquiridos com esses recursos estão usinas sucroalcooleiras, fazendas, caminhões para transporte de combustíveis e imóveis de alto padrão, no Brasil e no exterior.
A PF, a Receita Federal e o Ministério Público de São Paulo reforçam que a atuação conjunta entre os órgãos é essencial para combater o pilar financeiro do crime organizado, destacando que o uso de fintechs e fundos imobiliários pelo PCC representa uma mudança no perfil da lavagem de dinheiro, antes feita com dinheiro físico, agora integrada ao mercado financeiro formal.