A Polícia Federal já né mais a mesma. Passados dois anos de todo o foguetório em torno da Operação Lama Asfáltica, tudo continua como antes, ou seja, ninguém foi punido e os poderosos envolvidos continuam livre, leve e soltos. Alguns até voltaram a ter pretensões políticas novamente de tão confiantes que estão com a impunidade.
Na prática, o único resultado apresentando foi jogar na lama as principais lideranças políticas sul-mato-grossense, mesmo assim, nada que o tempo não dê jeito, não é mesmo? Outra coisa que a Operação resultou foi aumentar a indignação da sociedade com corrupção, mas, para por aí mesmo, pois a prática continua a ser executada no Estado e, como podemos observar, em mais escalada ainda.
Além disso, a inoperância da PF é corroborada pela complacência do Tribunal de Justiça, que, apesar do sumiço de R$ 2 bilhões dos cofres públicos, ainda mantém sob segredo o curso das investigações, se é que ainda são feitas. O certo é que, nesses 24 meses, não se tem nenhuma sentença por parte da Justiça sobre as denúncias e todos os 180 envolvidos estão soltos, com atestado de idoneidade e até em campanha em busca de apoio popular para as eleições de 2018.
Com exceção da prisão preventiva, que durou poucos dias, do ex-secretário estadual de Obras, Edson Giroto, e o do empresário João Alberto Krampe Amorim, mais ninguém foi detido. O ex-governador André Puccinelli (PMDB) só usou tornozeleira por seis dias e já está pronto para outra, tendo até confidenciado aos mais próximos que virá forte para disputar a sucessão de Reinaldo Azambuja no pleito do próximo ano. Alguém duvida?
Para agravar ainda mais a situação, o MPE (Ministério Público Estadual) divulgou balanço surpreendente da Lama Asfáltica, em que foram ingressadas 49 ações civis públicas por improbidade administrativa, oito ações penais, 14 cautelares penais e cíveis.
O órgão ainda revelou, para surpresa geral, que já denunciou 180 pessoas e 39 empresas. Os promotores de Justiça que integram a Força-Tarefa, instituída em outubro de 2015, miram a recuperação de R$ 2,090 bilhões desviados dos cofres públicos, sendo que R$ 314 milhões já estão indisponíveis, R$ 1,5 bilhão segue em análise e R$ 272 milhões são alvo de recurso (o juiz negou e o MPE recorreu).
Os dados são espantosos, porque o órgão ministerial não fez ampla publicidade dos fatos. Não apontou quais obras tiveram irregularidades. O MPE não revelou quem são os acusados de corrupção, quais os crimes cometidos e quantas organizações criminosas agiram para causar R$ 2 bilhões em prejuízos ao erário público estadual.
A sociedade segue no escuro sobre quem praticou a corrupção em Mato Grosso do Sul, porque não houve nenhum detalhamento de que ações foram apresentadas à Justiça pelos promotores.
Apesar da lei da delação premiada, em vigor desde 2013, o MPE não foi capaz de conseguir nenhum acordo de colaboração para desvendar o suposto esquema criminoso que corrói as finanças das administrações públicas no Estado.
Por enquanto, a única exceção é o ex-prefeito Gilmar Olarte, o primeiro na história da Capital a ser preso, que continua usando tornozeleira eletrônica. Está solto, mas o pastor sofre mais por ser novo na política, do que por não ter se adaptado o modus operandi da organização criminosa.