Investigações da Polícia Federal no âmbito da “Operação Ultima Ratio” revelaram que o juiz Aldo Ferreira da Silva Júnior, que foi aposentado após suspeita de peculato e corrupção passiva na 5ª Vara da Família e Sucessões de Campo Grande, recebeu R$ 1,1 milhão da fortuna ganha pela esposa, a advogada Emmanuelle Alves Ferreira da Silva, com o golpe aplicado contra um aposentado de Petrópolis (RJ).
A PF rastreou o destino dos R$ 5,5 milhões sacados da conta do carioca por determinação do juiz Paulo Afonso de Oliveira, titular da 2ª Vara Cível de Campo Grande e que está afastado por envolvimento no esquema de venda de sentenças. É a primeira vez que a PF encontra uma ligação entre o golpe milionário e o magistrado condenado administrativamente pelo TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) por corrupção.
Segundo o site O Jacaré, Emmanuelle Alves chegou a ser presa pelo Gaeco (Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado) e condenada a três anos de prisão pelo crime de estelionato pela juíza Eucélia Moreira Cassal, da 3ª Vara Criminal de Campo Grande, porém, a sentença foi anulada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).
No entanto, apesar de ser esposo de Emmanuelle e amigo de Paulo Afonso de Oliveira, Aldo Ferreira da Silva Júnior nunca chegou a ser ligado ao golpe. Agora, graças à quebra do sigilo bancário, a PF revelou que o magistrado recebeu R$ 1,1 milhão do dinheiro obtido pela esposa pelo golpe no aposentado.
Para sacar o dinheiro das contas do idoso, a advogada apresentou um fazendeiro fictício, com documento falso e assinatura falsificada para sacar R$ 5.507.310,25 no dia 20 de junho de 2018. Ela conseguiu sacar o dinheiro após o juiz Paulo Afonso de Oliveira ignorar os alertas da defesa do aposentado de que se tratava de uma fraude.
Desse montante, Emmanuelle transferiu R$ 275 mil para uma empresa do advogado Rodrigo Gonçalves Pimentel, filho do desembargador Sideni Soncini Pimentel, eleito presidente do TJMS. O advogado Fábio Castro Leandro, filho do desembargador aposentado Paschoal Carmello Leandro, recebeu R$ 105 mil. Todas as transações ocorreram no mesmo dia, segundo a PF.
Ainda houve repasse de R$ 80 mil para um cabeleireiro e R$ 20 mil para um advogado, que não é investigado na Operação Ultima Ratio. Ela ainda destinou R$ 1,866 milhão para uma conta pessoal e aplicou R$ 3,161 milhões. Dois dias após sacar o dinheiro, no dia 22 de junho de 2018, Emmanuelle fez transferência de R$ 550 mil para a conta do marido, Aldo Ferreira da Silva Júnior. Outros R$ 550 mil foram encaminhados para a Mana Agropecuária, empresa que tem o magistrado como proprietário.
Essa é a primeira vez que o juiz é envolvido no estelionato em que só a advogada foi investigada e condenada. Ele é amigo do juiz Paulo Afonso de Oliveira, que autorizou o saque, mas que sempre negou relações com o marido de Emmanuelle.
A PF descobriu que os dois juízes tiveram conta conjunta entre 2003 e 2006 no Banco do Brasil. Há uma suspeita de que houve pagamento de propina para o juiz e para o desembargador aposentado Júlio Roberto Siqueira Cardoso, que negou pedido do aposentado para suspender o saque e evitar o golpe.
Somente após a prisão de Emmanuelle Alves pelo Gaeco, o juiz e o desembargador recuaram e revogaram as decisões que permitiram o saque de R$ 5,5 milhões. Os dois são investigados por venda de sentença na Operação Ultima Ratio. Aldo é réu em três ações penais e em outras por improbidade administrativa em decorrência da Operação Espada da Justiça, deflagrada pelo Gaeco. As penais tramitam em sigilo na 4ª Vara Criminal, comandada pela juíza May Melke Amaral Penteado Siravegna.