Joaquim Nabuco, D. Pedro II, Marx e Dilma, uma breve consideração sobre o erro e sua repetição

Por: Ernesto Ferreira

Essa semana devo continuar meu encontro com o grande Joaquim Nabuco, um estadista do segundo Império que nos faz muita falta e, nesse sentido, vou trazer à vocês, meus caros leitores, um artigo da lavra desse extraordinário brasileiro, denominado “O erro do Imperador”, publicado em 1884, o que se segue é a transcrição de algumas de suas valiosas análises da Política daquele momento:
” Nem o imperador, nem sua família, distinguem entre Partido Conservador e monarquia. A experiência de outras casas reinantes não basta para separar nas testas coroadas essas duas entidades diversas. Napoleão também não conceberia Exército Francês como noção distinta do Império. Entretanto monarquia e Partido Conservador são forças não só diferentes, mas muitas vezes opostas. Os inimigos de uma instituição são, em sentido vulgar, os que a combatem, mas, em sentido exato, os que as destroem. O parasita está longe de ter ódio, deve ter mesmo amor, ao organismo que o alimenta e que ele arruína. A monarquia não pensa poder viver sem Partido Conservador, o Partido Conservador sabe que pode viver sem monarquia. Em todo o mundo vão-se soberanos e ficam os partidos. É duvidoso até que a forma monárquica seja forma conservadora. A forma conservadora é a oligarquia, da qual a realeza é instintivamente inimiga. O imperador, porém, está convencido do contrário e surpreendê-lo-ia muito quem lhe dissesse que se amanhã viesse a República, os primeiros republicanos seriam os conservadores, porque a República seria o fato consumado, que eles adoram; a força, que eles veneram; os empregos e as posições.” essa introdução do grande abolicionista foi seguida de brilhante análise da situação política do Império, com a queda do gabinete liberal do Sr. Dantas, realizada sob falsa e intensa campanha midiática, alegando que os liberais abolicionistas e seus seguidores pobres, desrespeitavam e ameaçavam as famílias dos frágeis senhores de escravos. A substituição do liberal Sr. Dantas foi apoiada pelo imperador, que instituiu o gabinete conservador do Sr. Saraiva. Esse foi o grande erro de Pedro II, que lhe custou o trono como todos nós sabemos, visto que, foram os conservadores que proclamaram a República, que em nossa infeliz nação, já nasceu velha.
Essa arguta análise de Joaquim Nabuco deveria ter sido lida à Presidenta Dilma Rousseff, que logo após se reeleger, nomeou o gabinete conservador do Sr. Joaquim Levy, acreditando que assim a deixariam governar em paz, bom também nesse caso sabemos o que se sucedeu… Os nossos anacrônicos conservadores, demonstraram pela enésima vez sua mentalidade reacionária e sua incapacidade de conviver com o que eles chamam de “a canalha”, isto é o povo pobre desse país, o mesmo que, junto com os liberais abolicionistas, ameaçava suas “frágeis famílias “( não parece atual isso?). Não há dúvidas de que veremos a seguir a destruição de muitas políticas públicas longamente construídas nesse país, feitas laboriosamente com a participação da maioria do povo brasileiro (lembrem-se dos parasitas, citados pelo Nabuco, que parecem ter amor, só que destroem o objeto amado).
Marx, baseado em Hegel, afirmou que a história só se repete como farsa, acho que este pode ser um desses casos. Mas, onde está a farsa, pode estar se perguntando o caro leitor; Ora, dessa vez, não há uma escravidão legalmente estabelecida e temos uma pequena imprensa livre, que denunciou tudo isso enquanto ocorria. A farsa da oligarquia usurpando o poder do povo está totalmente nua.