Em reportagem do site Campo Grande News destrinchando a denúncia feita pelos promotores de Justiça do Gaeco contra três advogados, um servidor público e quatro presidiários, fica claro como um juiz foi “presenteado” com cartucho não deflagrado em Campo Grande e como advogados tentaram enganar delegado com a promessa de delatar colegas enquanto era suspeito de ser “pombo-correio” do PCC.
Na denúncia, o servidor do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), Rodrigo Pereira da Silva Corrêa, que era chefe de cartório da 1ª VEP (Vara de Execução Penal de Campo Grande), é apontado como infiltrado do PCC no Poder Judiciário. Ele foi afastado no ano passado após a sua senha ter sido utilizada para acesso aos dados pessoais do delegado Carlos Delano Gehring Leandro de Souza (titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios).
Em junho de 2020, o delegado relatou à Justiça, durante audiência da Operação Omertà, que havia sofrido pressões pela abordagem a Flávio Corrêa Jamil Georges, filho de Fahd Jamil Georges, também conhecido como “Rei da Fronteira”. Horas após o depoimento, os dados de Carlos Delano foram acessados. O delegado descobriu porque, por medida de cautela, realiza auditorias aos seus prontuários do Sigo (Sistema Integrado de Gestão Operacional).
Após o servidor da Justiça ser questionado sobre o acesso, surge na história o advogado Bruno Ghizzi, que procurou o delegado e esclareceu ser o autor da consulta. Nesta etapa, tentou enganar o titular da DEH, se propondo a ser delator da “Sintonia dos Gravatas”, advogados pagos pelo PCC para levar os salves, recados da facção, e administrar contas bancárias. Cabe destacar que essa modalidade de serviços foi adotada porque a unidade penal da Gameleira, a Supermáxima, tem regras rígidas.
Bruno Ghizzi se ofereceu para ser o “X9 dos advogados”, mas acabou preso em 25 de março, na Operação Courrier. O servidor Rodrigo Corrêa, que também segue preso, disse que deixava as senhas expostas em papel afixado no computador. A versão foi classificada como inverossímil pelo Gaeco e o servidor ainda passaria informações sigilosas sobre transferências. O TJ afastou o servidor em julho de 2021 “diante de seu possível envolvimento com integrantes da facção criminosa denominada Primeiro Comando da Capital– PCC, o que implica na provável infiltração da referida organização nos quadros do Poder Judiciário de MS”.
Na ocasião, o juiz Fernando Chemin Cury, responsável pela 1ª VEP, solicitou a troca de fechaduras do cartório e do gabinete. Ele se tornou alvo de ameaça do preso Ed Carlos Rodrigues Dias após ordenar sua transferência para o Presídio Federal de Rondônia. Em um requerimento datado de 28 de junho de 2021, o interno prometeu “resposta à altura” pelo que chamou de perseguição do magistrado. “Não sou sozinho, tenho quem lute por mim na rua nos Estados de MS e MG”, avisou.
Na sequência, uma munição calibre 3.57 foi encontrada na vertical em frente à residência do juiz. “Não bastasse a ostensividade das ameaças, há alguns dias um dos vizinhos do Magistrado Fernando Chemin Cury encontrou uma munição intacta que fora colocada em pé na frente da residência deste, em nítido ato intimidatório, a indicar que a organização criminosa possivelmente levantou o endereço do Juiz, tal como afirmara o denunciado ED CARLOS RODRIGUES DIAS (“HEITOR”)”.
“Que possa avaliar minha situação estou á 81 dias em inclusão Temporária Emergencial, que por lei é 60 dias, estou sendo Perseguido pelo Juiz da Vec de Campo Grande/MS, o Juiz Fernando Chemin Cury, esse Juiz se esqueci que estou preso no Estado do MS á mais de 6 anos, eu sei quem é o Juiz Fernando Chemin Cury sei onde Trabalha sei onde mora, essa perseguição dele para comigo é insana, como eu não Tenho perfil para ser incluído definitivo no sistema Penitenciário Federal; e nos próximos dias irei retornar ao sistema Penitenciário Estadual do MS, eu não ficarei de braços cruzados, isso não vai ficar assim, eu darei uma Resposta à Altura, contra as Perseguições do Juiz Fernando Chemin Cury e de Juízes no Estado do MG, não sou sozinho. Tenho quem lute por mim na Rua nos Estados do MS e MG, Minas Gerais já sentiu respostas, luto por Direitos.”
Ameaça de atentado também foi registrada contra Thalys Franklyn de Souza, promotor de Justiça do Gaeco. Segundo a denúncia, a investida contra o promotor aconteceria caso Edimar da Silva Santana (conhecido como Arqueiro) fosse transferido para presídio federal. O pedido do Gaeco foi feito em primeiro de julho e a transferência se concretizou em 2 de julho de 2021. Durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão na residência da advogada Inaiza Herradon Ferreira foi localizada anotação referente a diversos itens de armamento bélico, passíveis de utilização em crimes e execuções: “5 pistolas 9 mm, 1 conversor arma longa, 2 espingardas calibre 12, 291 munições 9mm, 69 “[munições] 12, 3 “[munições] .40 , 10 carregadores pistola, 04 coletes, empunhadura pistola”.
A advogada é apontada como integrante do “Sintonia dos Gravatas” e atendeu” Edimar Santana na véspera de sua remoção para o sistema penitenciário federal. A vinculação de Arqueiro com o PCC rendeu recente condenação da Justiça Federal de Ponta Porã a pena de 27 anos (porte e uso de arma de fogo, tráfico internacional de drogas, uso de documento falso e integrar organização criminosa armada e transnacional).
A operação Courrier denunciou oito pessoas. Os advogados Bruno Ghizzi, Inaiza Herradron Ferreira e Paula Tatiane Monezzi. O servidor Rodrigo Pereira da Silva Monezzi. O servidor Rodrigo Pereira da Silva Correa. Além dos presos Ed Carlos Rodrigues Dias, Cristhian Thomas Vieira, Douglas Fonseca Silva e Edimar da Silva Fonseca.
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