Estudo inédito realizado pelo WWF-Brasil aponta que a instalação de 59 PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) no Pantanal pode gerar prejuízo mínimo de R$ 7,04 bilhões à sociedade, além de provocar uma série de impactos econômicos e socioambientais.
Especialista de Conservação do WWF-Brasil, Silvia Zanatta esclarece que atualmente 58 usinas estão em operação e outras 65 estão previstas. Porém, o estudo, com base na metodologia da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico), considerou um recorte de 59 empreendimentos, sendo 54 localizados no Mato Grosso.
De acordo com a especialista, embora cerca de 90% dos empreendimentos estejam localizados no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul torna-se a região mais impactada pelas PCHs. Ela afirma que as represas nos rios no Pantanal Norte acabam interrompendo a chegada das águas na parte Sul, ou seja, geram problemas ambientais na planície do Pantanal.
“Esses empreendimentos degradam a qualidade da água, retêm sedimentos essenciais para a fertilização natural do bioma e reduzem a capacidade de sequestro de carbono das áreas alagáveis. São perdas incalculáveis”, conclui a especialista.
A análise, baseada em dados da ANA e da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), utilizou a metodologia oficial de ACB (Análise de Custo-Benefício) do governo federal. Segundo a análise, a instalação das PCHs resultaria em prejuízo líquido de R$ 2,20 bilhões.
Já a alternativa de investir em um mix de fontes renováveis não hídricas, formado por 50% de energia eólica, 42% de solar, 4% de biomassa e 4% de biogás, garantiria a mesma potência firme (409,55 MW) e ainda geraria retorno positivo de R$ 4,84 bilhões.
A comparação entre os cenários mostra que seria possível dobrar a capacidade de geração limpa e, ao mesmo tempo, economizar R$ 531,88 milhões, de acordo com o estudo, evitando prejuízo total estimado em R$ 7 bilhões.
O estudo também levou em conta os efeitos das mudanças climáticas. Dados da ANA indicam que a vazão dos rios da BAP deve cair 16% até 2055. Como as PCHs dependem diretamente do fluxo hídrico e não possuem reservatórios de acumulação, a tendência é de redução significativa na geração.
“Investir em PCHs no Pantanal não é apenas ambientalmente arriscado, é uma decisão economicamente ineficiente. Além de gerar perdas bilionárias, destrói cadeias produtivas consolidadas, como a pesca e o turismo”, afirma Alexandre Gross, líder de Infraestrutura e Transição Energética do WWF-Brasil.