A investigação do assassinato da jovem Lídia Meza Burgos, de 18 anos, pelo traficante brasileiro Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, o “Marcelo Piloto”, dentro do presídio Agrupación Especializada, em Assunção (PY), escancarou uma série de falhas de segurança da penitenciária, considerada a mais segura do Paraguai.
Segundo reportagem publicada nesta segunda-feira (2) pelo jornal “O EXTRA”, no inquérito do Ministério Público do Paraguai consta que nenhum funcionário da cadeia viu ou ouviu o traficante dar 53 facadas na vítima. Lídia Meza foi assassinada às 13h50 do dia 17 de novembro de 2018 com golpes dados por Piloto em sua cela com uma faca de cozinha, de ponta arredondada.
Antes, Piloto ainda tentou estrangulá-la, segundo a necrópsia. A cela ficava a 10 metros da recepção do quartel, com guardas de plantão. Nenhum dos nove policiais que prestou depoimento afirmou ter ouvido qualquer grito da cela. Foi o traficante quem “alertou” os guardas após o crime: o primeiro agente que chegou ao local disse que Piloto chamou os guardas à cena do crime batendo na porta da cela.
Apesar de o traficante ser considerado um dos presos mais perigosos do país, ele não era observado quando recebia visitas. Segundo guardas afirmaram ao MP paraguaio, várias câmeras de segurança do local sequer funcionam.
O soldado Blas Gómez, da Companhia Antimotins, um dos primeiros a entrar na cela, disse que Piloto usava uma camisa da seleção brasileira toda ensanguentada quando os agentes chegaram ao local. Na cela, os agentes apreenderam “facas de cozinha e pratos e copos de vidro, que, em teoria, são proibidos na cadeia”, segundo o agente.
No mês passado, a juíza Caroline Figueiredo, da 5ª Vara Federal Criminal do Rio, decretou a prisão de Piloto pelo crime. As investigações apontaram que ele matou Lídia para “postergar a sua extradição para o Brasil, prorrogando sua permanência” no Paraguai.
Aos primeiros policiais que chegaram à cela, Piloto disse que a vítima era uma “colega de trabalho” e que o crime havia acontecido por conta de “um desentendimento”. As investigações mostram que o relato era uma mentira. Segundo a denúncia do MPF, a jovem era uma “garota de programa que foi atraída pelo traficante para o local”.
De acordo com o inquérito, o assassinato foi premeditado: Piloto queria cometer um crime no Paraguai para não ser extraditado. Antes, seus advogados criticaram as prisões brasileiras num documento anexado ao processo de extradição do traficante na Suprema Corte de Justiça paraguaia: “os presídios federais têm por metodologia esgotar, submeter e quebrar sicologicamente seus internos”.
Segundo a investigação, Lídia Meza foi escolhida por Piloto num catálogo de prostitutas na internet. Nenhum dos parentes da vítima que prestou depoimento sabia que a jovem trabalhava como garota de programa. Ele havia chegada ao Paraguai da Argentina, onde parte de sua família mora, há menos de um ano. Precisando de um emprego, se mudou, sozinha, para Assunção e disse a parentes que trabalhava como cuidadora de idosos.
No dia do crime, Piloto havia combinado um encontro com uma amiga de Lídia, que morava no mesmo apartamento que a vítima. Pouco antes do horário acertado, o traficante cancelou e chamou Lídia. Antes de assassinar a jovem, Piloto ainda fez sexo com ela: a polícia encontrou sêmen na calcinha da jovem.