Menos de 18 horas após o início da greve dos motoristas do transporte público em Campo Grande, a cidade já começou a sentir os efeitos, especialmente entre os trabalhadores que dependem dos ônibus para se deslocar.
Com a paralisação que entra para o segundo dia, muitos optaram por utilizar aplicativos de transporte, como Uber e 99, que tiveram seus preços elevados em até 140%. A diarista Elizaneia Costa de Assis Gonçalves, de 57 anos, relatou que a corrida que normalmente custa R$ 25 subiu para R$ 60. “Trabalho aqui há mais de 18 anos e, desde a pandemia, venho de Uber. Hoje foi um choque”, comentou.
O designer gráfico Antonio Rissato também enfrentou dificuldades. Ele se preparou para usar um aplicativo, mas os preços estavam exorbitantes. “Geralmente pago entre R$ 8 e R$ 10 para ir de moto, mas hoje cheguei a pagar R$ 30. De carro, chegou a R$ 70”, disse. Apesar do impacto financeiro, ele compreende a greve como uma consequência de problemas acumulados que afetam tanto os usuários quanto os trabalhadores.
Além dos altos preços, os usuários enfrentaram longas esperas para conseguir um motorista e um trânsito caótico nas primeiras horas do dia. Vinícius, que esperou mais de 20 minutos para conseguir um motorista, relatou: “Tudo ficou atrasado. Os preços subiram, o que é normal pela demanda, mas isso complica muito a vida.”
Sofia Bento, que costuma usar transporte coletivo, decidiu ir de carro da família, mas também enfrentou congestionamentos. “Saí de casa às 7h20 e cheguei ao trabalho às 7h52. Nunca demorei tanto”, contou.
Apesar do aviso prévio sobre a greve, a paralisação foi total, desrespeitando uma decisão judicial que permitia apenas 30% dos motoristas a aderirem à greve, sob pena de multa diária de R$ 20 mil.
A audiência de conciliação entre o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e o Sindicato está marcada para esta terça-feira (16).
Situação do Consórcio Guaicurus
Em nota, o Consórcio Guaicurus informou que enfrenta dificuldades financeiras, impossibilitado de honrar compromissos salariais e operacionais devido à inadimplência nos repasses da Prefeitura. A empresa destacou que a falta de regularização dos pagamentos compromete a continuidade e a qualidade dos serviços.
Durante uma coletiva de imprensa, a Prefeitura de Campo Grande negou qualquer débito com o Consórcio Guaicurus, afirmando que já repassou mais de R$ 35 milhões este ano, incluindo R$ 19 milhões para gratuidades e R$ 15 milhões em vale-transporte. A administração municipal criticou a concessionária por não cumprir suas obrigações com os funcionários.
Membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Transporte Coletivo se manifestaram sobre a paralisação. A vereadora Luiza Ribeiro considerou inaceitável que uma empresa de grande porte alegue falta de recursos para cumprir compromissos básicos. Já a vereadora Ana Portella pediu a rescisão do contrato com o Consórcio Guaicurus, afirmando que a situação atual é resultado de má gestão.

