Grampos revelam que Marcelo Piloto monitorava entrega de fuzis e debochava da Polícia do Rio

Reportagem do jornal Extra, do Rio de Janeiro, revelou, neste fim de semana, o monitoramento que a Polícia Federal fazia de Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, o “Marcelo Piloto”. De acordo com a matéria, em 28 de abril de 2015, o Disque-Denúncia aumentou a recompensa por informações que levassem à captura de “Marcelo Piloto” de R$ 2 mil para R$ 10 mil.

Às 10h do dia seguinte, após ler uma reportagem sobre o aumento, o traficante — um dos maiores fornecedores de armas e drogas da facção criminosa Comando Vermelho —, à época escondido no Paraguai, debochou das autoridades brasileiras em mensagens de texto enviadas por celular a um comparsa: “Esses caras me amam. Não me esquecem. Mas tranquilo. Já tô acostumado”.

Piloto não sabia, mas o diálogo travado pelo BlackBerry Messenger, aplicativo de troca de mensagens pelo telefone, estava sendo monitorado pela Polícia Federal. Por cinco meses em 2015, as atividades criminosas do traficante — expulso do Paraguai na semana passada, após matar uma jovem no quartel onde estava preso — foram acompanhadas de perto pelos agentes.

As mensagens — obtidas com exclusividade pelo EXTRA — revelam que Piloto acompanhava em tempo real as remessas de armas e drogas que enviava do país vizinho. Através dos diálogos, que fazem parte de um processo em que o traficante responde por organização criminosa, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, a PF descobriu que Piloto criou uma complexa rede de depósitos em bancos para que pagamentos de comparsas chegassem até ele e emprestou uma metralhadora antiaérea para um traficante do Rio.

A arma, calibre .50, é citada pela primeira vez numa conversa entre Vladimir Queiroz, o Barney, homem de confiança de Piloto no Rio, e Ricardo de Castro Lima, o Fu, chefe do tráfico do Chapadão. Barney diz para Fu que Piloto “tá perguntando a visão da 50. Como vai ser pago”.

Fu responde que está “com muita dificuldade pra começar a pagar” porque “os canas tá sufocando a semana toda”. Na semana seguinte, Barney repassa o relato de Fu a Piloto, que pergunta: “Ele ‘tá’ usando, né? Você me disse que onde ele vai, ele leva junto com ele”. Barney responde positivamente. Piloto, então, diz que Fu pode ficar com a arma: “Tenho certeza que vai melhorar”. Fu foi preso e a metralhadora, apreendida pelo Bope numa casa do Complexo do Chapadão, em agosto de 2015. Essa foi a primeira vez que a polícia do Rio apreendeu uma arma do tipo.

Quadrilha tinha esquema para lucro chegar até Paraguai

A investigação da PF revelou que, para o dinheiro da venda de drogas, munição e armas chegar até Marcelo Piloto no Paraguai, eram usadas “contas de passagem” da quadrilha. As quantias arrecadadas no Rio eram depositadas em contas bancárias próximas às comunidades onde o grupo atuava e, em seguida, os valores eram sacados rapidamente em agências das cidades brasileiras que fazem fronteira com o Paraguai, como Foz do Iguaçu e Cascavel, no Paraná, e Ponta Porã e Dourados, no Mato Grosso do Sul.

As contas utilizadas pela quadrilha eram de pessoas físicas e também de empresas, como do ramo de petróleo, produção de eventos e calçados. A Justiça bloqueou, a pedido da PF, 79 contas bancárias usadas no esquema.

A contabilidade do grupo ficava a cargo de Leonardo Teixeira Cupollilo, o Botafogo, um dos principais comparsas de Piloto. O criminoso mantinha o chefe do grupo atualizado sobre os lucros da quadrilha e ainda as quantias depositadas em contas de laranjas. Botafogo também era responsável pelo recebimento, armazenamento e distribuição de armas e drogas que eram enviadas por Piloto.

Em junho de 2016, após a morte de um traficante que havia acabado de comprar três fuzis da quadrilha, Piloto pediu que Botafogo fosse até o Paraguai para fazer mudanças na logística do bando. “Compra a sua passagem para sábado. Quero mudar algumas coisas”, escreveu o chefe da quadrilha.

Logística do crime

Galpão do tráfico

Os carregamentos de drogas enviados para o Rio por Marcelo Piloto eram armazenados pelo grupo num galpão situado em Olaria, na Rua Doutor Nunes. O responsável pelo local era o traficante Barney.

Operação

Monitorando o grupo, no dia 28 de agosto de 2015, policiais federais interceptaram um caminhão que entrava no galpão. No veículo havia três toneladas de maconha.

Comparsa morto

Barney estava dentro do galpão e tentou reagir ao cerco policial. Ele acabou baleado nas nádegas por um disparo. Marcelo Piloto foi avisado da ação da polícia por um dos comparsas e conseguiu pedir a Botafogo que fosse até o local para conferir o que havia acontecido: “Acho que deu ruim. Estão dentro do galpão. Tampou tudo de cana lá agora”, escreveu.

Drogas

A investigação revela que a quadrilha de Piloto movimentava grandes quantidades de drogas. Em outra ocasião, o grupo enviou para o Rio 4,5 toneladas de maconha.

Marca inusitada

As drogas de Piloto eram adesivadas com a imagem de uma pista em formato de “S”, marca do piloto Ayrton Senna, morto em 1992. No aplicativo que usava para trocar mensagens com a quadrilha, o bandido usava o apelido “Ferrari”.