General de MS revelou à PF que tratou sobre prisão do Ministro Alexandre de Moraes

O general da reserva Laércio Vergílio, 69 anos, revelou à Polícia Federal em Campo Grande (MS) que trocou mensagens escritas e por áudios com o militar reformado Ailton Gonçalves de Moraes Barros em que mencionou a uma eventual prisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

 

O fato veio à tona com a quebra de sigilo telemático das investigações relacionadas à tentativa de golpe de Estado orquestrada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

 

O general foi um dos alvos da operação Tempus Veritatis, que culminou com 25 investigados, convocados no dia 22 de fevereiro para prestar depoimentos que ocorreram simultaneamente, para evitar qualquer forma de comunicação entre os interrogados.

 

Em frente à sede da PF na Capital, ele chegou a conceder entrevistas e disse que estava doente em tratamento, como também negou qualquer participação na intentona golpista que corria pelos bastidores por parte de um núcleo de militares após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter vencido as eleições presidenciais de 2022.

 

Ainda, conforme o depoimento, ao ser questionado sobre sua proximidade com o militar reformado Ailton Gonçalves Moraes de Barros, respondeu que serviram juntos na brigada de paraquedistas no Rio de Janeiro e também no 9º GAC, em Nioaque, no ano de 1999.

 

Apesar de ter dito que não falava há um ano com Ailton, não sabendo ao certo indicar quando foi a última vez que trocaram mensagens e se trataram de algum assunto que envolveu o golpe de Estado, Vergílio negou ter abordado qualquer tema que fora das “quatro linhas da Constituição”.

 

E minimizou, dizendo tratar-se de conversas acerca de sua preocupação com a situação política no país, negando qualquer tentativa de golpe e sim, da possibilidade da implementação da Garantia da lei e da ordem (GLO). Para que desta forma Bolsonaro permanecesse no poder.

 

Já que nas trocas de mensagens, ele teria apontado o general Freire Gomes, o comandante do Exército, como “legalista”, por ter dito a Bolsonaro que o prenderia se ele seguisse adiante com a tentativa de romper com a democracia.

 

Portanto, a única maneira de conseguir o apoio que o presidente precisava teria que ocorrer por meio de amparos legais para dar andamento com a intentona golpista.

 

Em outro trecho da conversa chega a dizer que o comandante do Exército “não resistiria a uma boa conversa de rapó”. O assunto teria saído de um grupo de WhatsApp de coronéis e generais da reserva que Virgílio não soube dizer quem teria enviado a mensagem.

 

“INDAGADO sobre o que quis dizer quando afirmou que o General FREIRE GOMES “não resistiria a uma boa conversa de rapó” respondeu QUE quando disse que FREIRE GOMES “não resistiria a uma boa conversa de rapó”, quis dizer que FREIRE GOMES aceitaria e acataria um argumento embasado juridicamente na Constituição”

 

No celular de Ailton, a Polícia Federal ainda encontrou três áudios, sendo que no dia 15/12/2022 a seguinte mensagem foi enviada para Ailton, em que Vergílio comenta que se encontram no “limite longo da ZL” e arremata “vamos dar passagem perdida”.

 

Os investigadores pediram que explicasse a linguagem militar usada da mensagem, o general contou que “Vamos dar passagem perdida” significa a necessidade de uma tomada de decisão imediata em relação à articulação dos militares envolvidos na trama golpista.

 

E acerca do termo “ZL” é um linguajar usado por paraquedistas que significa “Zona de lançamento”. O que em linhas curtas significa que precisavam agir rapidamente.

 

Em outro áudio chegou a nortear o conceito da missão pedindo que Ailton passasse o áudio para o “Zero Uno” (apelido usado para se referir ao presidente Bolsonaro).

 

“O meu próximo áudio agora, assim, vai te dar o conceito da operação, entendeu? O conceito da operação. Que tem que ser executado. Num… num… num tem mais, assim: não, será, que não será, o que que vai… Foda-se! Agora, entendeu, é ação. Então, esse próximo áudio, também, além do ZERO UNO, aí tem que ser passado pra todo aquele pessoal que você passa sempre, entendeu? Então agora, negão, é… assim… a… Já estamos em guerra, né? Só que agora é a… assim… Temos que executar essas ações. Vou dar o conceito da operação. É… A execução eu não tô mais em condições de fazê-la, senão eu ia até aí pra comandar essa porra aí dessa operação que eu vou falar agora pra você”

 

Acerca da “operação especial” nega que tenha sido em referência a golpe de Estado e sim, a GLO até que a “ordem fosse reestabelecida”. Neste ínterim, estaria a prisão do Ministro Alexandre de Moraes em áudio que seria enviado mais adiante.

 

A conversa prosseguiu e em uma quinta-feira, precisamente no dia 15 de dezembro, Vergílio enviou outro áudio dizendo que a pressão contra o comandante do Exército Freire Gomes devia persistir até que ele aderisse à intentona golpista e fizesse um depoimento à nação.

 

Porém, apesar de tentar emplacar o discurso de que tudo deveria ser amparado juridicamente, chegou a afirmar que no caso de Freire Gomes não aderisse ao golpe do então presidente Jair Bolsonaro, o jogo deixaria de ser “dentro das quatro linhas” partindo para outras medidas.

 

“Então é… O que que nós temos que fazer? Então até sexta-feira, até amanhã à tarde, então, fazer um pronunciamento. Ou o FREIRE GOMES, ou BOLSONARO, né? De preferência o FREIRE GOMES. Aí será tudo dentro das quatro linhas. Não o sendo, vai ser fora das quatro linhas mesmo. Nós já estamos no limite longo da ZL. Não vamos ter mais como lançar. Vamos ter que dar passagem perdida. E aí?  Como é que vai ficar o Brasil? Entendeu? Como é que vai ficar a moral dos militares do glorioso Exército de Caxias?”

 

“Então a primeira coisa é essa, é… é… é… é… Pro… Esse pronunciamento, ou do FREIRE GOMES ou do BOLSONARO até amanhã à tarde. E também, até amanhã à tarde, todos os atos, todos os decretos da ordem de operações tem que já estarem prontos. E como é que tem que ser? Pô, é… Não é tão difícil. O outro lado tem a caneta. Nós temos a caneta e temos a força. O braço forte e a mão amiga. Qual é o problema? Entendeu? Quem é que tá jogando fora da… das quatro linhas? Somos nós?  Não, não somos. Então nósvamos ficar dentro das quatro linhas até tal ponto ou linha. Mas agora nós estamos o que? É… Já… É… Fadados a nem mais lançar. Vamos dar passagem perdida? Então, se preciso for, vai ser fora das quatro linhas”.

 

Ao admitir sair “fora das quatro linhas”, Vergílio entra na prisão do Ministro Alexandre de Moraes, que seria levado preso pelos Kids Pretos, em Goiás (GO). “E aí nessa ordem de operações, na… na… nos decreto, na… assim… nas portarias que tiverem que ser assinadas, tem que ser dada a missão ao comandante da Brigada de Operações Especiais de Goiânia de prender o ALEXANDRE DE MORAES no domingo, na casa dele, como ele faz com todo mundo. E aí, na segunda-feira, ser lida a portaria ou as portarias, o decreto ou os decretos de garantia da lei e da ordem, e botar as Forças Armadas, cujo comandante supremo é o Presidente da República para agir, senão nunca mais nós vamos limpar o nome do glorioso Exército de Caxias. É isso aí”.

 

Sobre a referência constante a ZL e “não ter mais como lançar” apontou que naquele momento, como se encontravam na segunda quinzena de dezembro e no início de janeiro, Bolsonaro teria que passar a faixa presidencial, ao ver dele, qualquer levante tardio seria golpe de Estado.

 

Para o general, as conversas que teve com Ailton não passaram de transmissão de sua opinião como cidadão e militar reformado. Apesar de ter mencionado a prisão do Ministro, negou ter qualquer conhecimento que estava prevista para ocorrer no dia 18 de dezembro de 2022.

 

“Não sabe se o Comandante da Brigada de Operações Especiais, General de Brigada CARLOS ALBERTO RODRIGUES PIMENTEL, teria anuído com o respectivo plano de execução de plano de execução de prisão do Ministro MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES; QUE nem mesmo sabe se ele tomou conhecimento dessa opinião que deu para um amigo em uma conversa particular; QUE nem mesmo conhece o Comandante da Brigada de Operações Especiais, General de Brigada CARLOS ALBERTO RODRIGUES PIMENTEL ou a Brigada”.

 

Laércio Vergílio entrou para a reserva remunerada em 31/12/2000 como Coronel, de acordo com a lei vigente no período, recebeu a patente de General de Brigada, assim como soldo referente ao cargo. Teve formação pela Academia Militar de Agulhas Negras, em Rezende no Rio de Janeiro, em 1976, passou também pela Formação de Oficiais de Carreira do Exército. Com informações do Correio do Estado