Gaeco revela que grupo paulista faturava R$ 64,8 milhões por ano com jogo do bicho

Investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) apontou que o grupo paulista denominado MTS faturava R$ 64,8 milhões por ano com o jogo do bicho em Campo Grande (MS), onde mantinha em operação 1.040 bancas de coleta das apostas.

Além disso, ainda conforme o Gaeco, o MTS usou os motoqueiros que ficaram desempregados com o desmatamento da organização liderada pelo empresário Jamil Name, que foi preso em 29 de setembro de 2019 e veio a falecer no cárcere devido a complicações da Covid-19.

Segundo o site O Jacaré, alvo da Operação Forasteiro, deflagrada em 26 de setembro do ano passado, o grupo era integrado por 25 pessoas que foram denunciadas pelo Gaeco no dia 9 de outubro de 2024. O processo tramita em sigilo na 6ª Vara Criminal de Campo Grande, comandada pelo juiz Márcio Alexandre Wust.

De acordo com o MPE (Ministério Público Estadual), a MTS contava com 26 motoqueiros que percorriam 26 linhas por dia. Em média, cada motociclista recolhia o dinheiro de 40 bancas de apostas por dia e, geralmente, cada uma faturava R$ 8 mil, gerando R$ 208 mil no total diariamente e R$ 5,4 milhões por mês.

O monitoramento e levantamento das bancas do jogo do bicho controladas pelo grupo paulista foi feito pela Decat (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Ambientais e de Atendimento ao Turista). Antes do Gaeco entrar na história, a organização criminosa também foi investigada pelo DRACCO (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado).

“E foi justamente o início de uma espécie de guerra pela tomada do controle do jogo de azar em Campo Grande, iniciada por uma outra organização criminosa que buscava ascender a esse posto de comando, que trouxe para o radar do GAECO a organização criminosa denominada MTS”, relatou o MPE.

Segundo o relatório da DECAT, naquela época, os levantamentos de campo apontaram que a MTS tinha 26 motoqueiros para recolher o dinheiro, os quais percorriam duas vezes ao dia suas linhas. Portanto, tratavam-se de 26 linhas ativas, sendo que cada uma tinha, em média, 40 bancas de apostas, o que totalizava um número estimado de 1.040 bancas.

“Assim, considerando que a Delegacia Especializada aponta que cada linha gerava, aproximadamente, R$ 8.000,00 (oito mil reais) por dia, o total das 26 linhas arrecadava, diariamente, R$ 208.000,00 (duzentos e oito mil reais). Nesse contexto, tendo em vista que as apostas ocorriam de segunda a sábado e, assim, tomando por base aproximadamente 26 dias de arrecadação, estima-se algo em torno de R$ 5.408.000,00 (cinco milhões, quatrocentos e oito mil reais) auferidos mensalmente”, concluíram.

Além dessa estrutura organizacional, o Gaeco apurou que o MTS utilizava imóveis alugados para servir de escritórios e até mesmo para guardar temporariamente valores arrecadados com o jogo do bicho.

“Esses escritórios são frequentados pelos líderes da organização criminosa, por seus gerentes e já o foram até mesmo pelos ‘recolhes’ e outros subalternos. Importante ressaltar que a organização criminosa tem por costume alterar o local de seu escritório justamente para dificultar eventual fiscalização dos órgãos de investigação, evidentemente daqueles que não estão corrompidos”, apontou.

Os motoqueiros experientes com a rota das bancas eram disputados pela suposta organização criminosa comandada pelo deputado estadual Neno Razuk (PL), que foi alvo da Operação Sucessione e virou réu na 4ª Vara Criminal de Campo Grande.

Para despistar a polícia, o MTS usava documentos falsos e até nomes de vítimas para alugar os imóveis. “Também por isso, alguns deles foram locados com a utilização de nomes e documentos falsos. Essa prática, cabe ressaltar, também era utilizada com os veículos que os integrantes do grupo criminoso, especialmente os mais graduados, conduziam, pois eram registrados em nomes de terceiros e eram constantemente trocados, inclusive, entre os próprios membros”, apontaram os promotores de Justiça.