A informação foi trazida à tona durante operação do MPE (Ministério Público Estadual) de São Paulo, que identificou 21 líderes do PCC que estão ocupando as posições de chefia da facção após a transferência de Marcola e outros para presídios federais, no início de 2019.
Segundo o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, é a maior operação contra a quadrilha e, durante os dois dias de ações realizadas em São Paulo e região da Grande São Paulo, Tuta não foi localizado. É considerado foragido e a pista seguida é a de que o novo líder do PCC está escondido em Mato Grosso do Sul.
Uma das hipóteses é a de que ele veio pessoalmente à fronteira do Estado com o Paraguai reorganizar as estruturas do PCC para distribuição de drogas e armas a todo o Brasil após lideranças locais, que passaram a cuidar da fronteira, terem sido flagradas pela PF.
A região da fronteira sofreu diversas operações da PF, com rotas (de tráfico) desmanchadas, lideranças flagradas e até negociações por territórios. Há uma carência de organização da facção neste momento. E é natural que quem ocupe o principal papel dentro da organização queira acompanhar de perto sua principal fonte de renda.
A presença de Tuta na fronteira vai além do comércio de drogas e armas. Isso porque, com Marcola e seu maior braço direito, Gilberto Aparecido dos Santos, o “Fuminho”, em cárcere federal, negócios como fazendas e revendedoras de automóveis do líder do PCC no Paraguai precisam de alguém para administrar.
Segundo o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, nove dos novos líderes identificados do PCC estão foragidos. Alguns deixaram rastros junto com Almeida na região da fronteira, ajudando na questão da logística. Ainda de acordo com ele, o material colhido durante a apuração da operação será entregue à PF.
Compartilhar informações para um trabalho conjunto ajudará, e muito, na luta para desarticular de vez a facção. O novo chefe se arriscou pelo crime A escolha de Tuta para liderar o PCC com o isolamento dos líderes é um prêmio por conta de seus serviços. Integrante da chamada “célula restrita” da facção, o acusado esteve à frente de ações consideradas ousadas da facção.
Entre elas estava a elaboração do assassinato de policiais militares e civis paulistas, membros da Secretaria de Estado da Segurança Pública e do Ministério Público, ambos de São Paulo, e, a mais audaciosa, um atentado contra o então governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Tuta morava em dois endereços de bairros de luxo de São Paulo e, segundo o MPE, tinha um documento falso de adido da embaixada de Moçambique, que lhe permite viajar como autoridade diplomática. Espécie de “grupo de inteligência” da facção, a célula restrita é responsável por levantar informações sobre os desafetos do PCC no Poder Público, como quantidade e nome de filhos, endereços de familiares, carros e até celulares.
O Gaeco paulista sabe que Tuta esteve em Mato Grosso do Sul pelo menos duas vezes, entre 2017 e 2019, e se utilizou do passaporte moçambicano diplomático para a entrada, alegando estar em turismo para conhecer o Pantanal. O objetivo, na verdade, foi o de fazer reuniões com a cúpula responsável pela fronteira. Após o último encontro de Tuta na fronteira, já com Marcola isolado, ele sugeriu a criação de uma nova estrutura para dificultar as investigações.
Foi quando surgiu o setor “raio X”, que fica logo abaixo da cúpula na hierarquia, agora chamada de sintonia final e que funciona como uma espécie de escudo, assumindo o controle publicamente para blindar os chefões. Essa ala ganhou notoriedade e hoje, na hierarquia, está acima dos chamados progressos, responsáveis pelo controle financeiro da facção.
Segundo o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, o que se observou nessas operações da PF em Mato Grosso do Sul foi o grande número de promoções realizadas pela cúpula dos novos raios X, em uma tentativa de dificultar a identificação dos reais chefões, fazendo com que integrantes de segundo escalão pareçam muito mais importantes do que realmente são. Com informações do jornal O Estado MS