O MPE (Ministério Público Estadual) instaurou inquérito contra o banqueiro Cândido Botelho Bracher, que é ex-presidente do Itaú Unibanco, maior banco privado da América Latina, e sua esposa, Teresa Bracher, por suspeita de responsabilidade pelo maior foco de incêndio no Pantanal da Nhecolândia, no município de Aquidauana (MS), em julho do ano passado.
O casal de bilionários é proprietário da Fazenda Tupanceretã, que foi comprada da família Rondon, tem 25,6 mil hectares e, de acordo com um laudo anexado ao inquérito, teve destruídos 13,2 mil hectares pelo incêndio entre os dias 23 e 31 de julho do ano passado, período de forte estiagem em toda a região pantaneira.
O mesmo laudo aponta ainda que o fogo atingiu propriedades vizinhas, queimando a vegetação em 52.940 hectares. O inquérito, porém, informa que o foco da investigação é uma área de 267,7 hectares, na região onde o fogo teria começado.
A informação sobre a abertura do inquérito está na edição do diário oficial do MPE desta segunda-feira (19). O casal de banqueiros foi intimado a prestar esclarecimentos em ofício enviado na última quinta-feira (15).
Conforme a PMA (Polícia Militar Ambiental), em relatório concluído em 12 de agosto de 2024, cerca de três semanas após o início do incêndio, o incidente começou a partir de um caminhão que ficou atolado na areia e por conta da insistência do motorista em sair do atoleiro o veículo superaqueceu e pegou fogo.
Um dos funcionários da fazenda chegou a registrar boletim de ocorrência na delegacia de Aquidauana com estas informações. Depois disso, apesar da intervenção de funcionários da fazenda, brigadistas e bombeiros, o fogo saiu do controle e avançou durante cerca de uma semana.
A PMA fez seu relatório com base nas informações de uma funcionária da Fazenda Tupanceretã e até anexou uma série de fotos do caminhão incendiado ao relatório. Para os policiais, “salvo melhor juízo, não foram constatados indícios de práticas de queima com intenção que configure crime ambiental ou por omissão ao fato ocorrido na propriedade”.
O caminhão havia acabado de descarregar material de construção na sede da fazenda e estava retornando para a cidade. Porém, um laudo pericial concluído em 19 de outubro do ano passado e também anexado ao inquérito diz que no local onde supostamente começou o fogo não foi encontrado qualquer indício daquilo que pode ter desencadeado o incêndio. Ou seja, o perito diz não ter encontrado nenhum resquício do caminhão.
Ele descarta ainda a possibilidade de ter iniciado a partir de um raio ou a partir de rede de energia elétrica, que não existe no local. E, diz que “este relator descarta a gênese acidental, restando, todavia, a gênese culposa e proposital como hipótese mais provável para o surgimento do fogo”.
Na sequência, destaca que o incêndio “destruiu espécimes vegetais, não se descartando ainda que tenha causado a mortandade de parte da fauna local e colocado em risco a vida daqueles que participaram das equipes de combate”.
Ao fundamentar a abertura do inquérito, a promotora de Justiça Angélica de Andrade Arruda deixa claro que não existe, por enquanto, comprovação de que o incêndio tenha tido origem criminosa.
Porém, explica que a investigação é necessária, “mesmo não tendo sido possível constatar, nesse momento, que houve ato intencional ou culposo na ignição do incêndio, o que a princípio inviabiliza a responsabilidade administrativa e penal, ainda subsiste a responsabilidade civil que é “objetiva e por risco integral”, especialmente voltada à busca de prevenção de novos incêndios e de eventual reparação do dano”.
A Fazenda Tupanceretã não é a única propriedade dos sócios do Itaú no Pantanal de Mato Grosso do sul. Na região da Serra do Amolar, no município de Corumbá (MS), o banqueiro e a mulher aparecem como proprietários de mais de 64 mil hectares.
Tanto em 2020 quanto no ano seguinte estas terras apareceram no noticiário mundial por conta das intensas queimadas. Foi nas terras do banqueiro que foi feita a foto de um macaco bugio carbonizado que se destacou em uma série de fotos mostrando a devastação das queimadas no Pantanal em 2020.
A imagem ganhou a categoria Meio Ambiente do World Press Photo, a mais prestigiosa premiação de fotojornalismo do mundo. Em 2020, o fogo teve início em uma das propriedades da família. No ano seguinte, a fazenda dos Bracher foi atingida por um foco que começou em área vizinha.
Em meio às polêmicas, a família Bracher mantém uma atuação filantrópica na área ambiental e no combate aos incêndios no Pantanal. Teresa é fundadora do Documenta Pantanal e do Instituto Taquari Vivo, além de integrar o conselho do Instituto Acaia, SOS Pantanal e Associação Onçafari.
Em artigo publicado em abril de 2021, ela disse estar em “choque” com a cena do bugio carbonizado. “O que aconteceu é disruptivo e perturbador. De um bioma extremamente delicado, o Pantanal se converteu em um enigma da era da mudança climática”, escreveu.
Com patrimônio estimado na casa dos R$ 15 bilhões, Cândido Bracher foi CEO do Itaú Unibanco entre abril de 2017 e janeiro de 2021. Atualmente, ele é integrante do Conselho de Administração da instituição financeira, que fechou em 2024 com lucro de R$ 40 bilhões.
Seu pai, Fernão Bracher, foi presidente do Banco Central e vice-presidente do Bradesco. Além de ser sócio do Itaú, detém fatia da empresa americana de cartões de crédito, Mastercard. No passado, passou pelo Banco Itamarati, Banco da Bahia Investimento, Bahia Corretora, Banco de Desenvolvimento do Estado de São Paulo e pelo BBA, que era de seu pai, e se associou ao Itaú. Com informações do Correio do Estado