Reportagem publicada nesta quarta-feira (19) pelo site UOL revela que o Porto de Antuérpia, na Bélgica, é o preferido pelo ex-major da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, Sérgio Roberto de Carvalho, 63 anos, mais conhecido como “Major Carvalho” ou “Escobar Brasileiro”, um dos maiores narcotraficantes do mundo, para enviar toneladas de remessas de cocaína do Brasil para a Europa.
Segundo a matéria, as autoridades belgas apreenderam no ano passado 90 toneladas de cocaína no Porto de Antuérpia procedentes da América do Sul. No Porto de Roterdã, na Holanda, o 2º na preferência do Major Carvalho, foram encontradas outras 70 toneladas, sendo que ambas as apreensões foram consideradas recordes.
Além do Major Carvalho, outros grandes traficantes brasileiros ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital), como os foragidos da Justiça André Oliveira Macedo, 47 anos, o “André do Rap”, e Suaélio Martins Lleda, 56 anos, começaram em 2013 a exportar em contêineres carregamentos de drogas com destino ao porto belga.
Documentos sigilosos da Polícia Federal aos quais a reportagem teve acesso mostram que das 69 tentativas de envios de drogas da quadrilha do “Escobar Brasileiro” para a Europa, entre os anos de 2017 e 2020, 14 tinham como destino final o porto de Antuérpia. Em todos esses eventos, a cocaína foi apreendida ou no Brasil ou na Bélgica.
Em segundo lugar na escolha do Major Carvalho para exportar droga ao Velho Continente aparece o Porto de Roterdã, na Holanda. E foi justamente naquele país que um importador de cocaína ligado ao “Escobar Brasileiro”, identificado como Stefaan Bogaerts, foi assassinado. O crime aconteceu em 21 de setembro de 2017, duas semanas após a apreensão de 780 quilos de cocaína no Porto de Paranaguá, no Paraná.
Bogaerts foi morto com tiros de fuzil. Ele sofreu uma emboscada enquanto aguardava a chegada de um homem com quem teria marcado uma reunião. O carro usado pelos assassinos foi encontrado carbonizado minutos depois do crime. Segundo as autoridades holandesas, o homicídio tinha características de execução praticada por mafiosos e relacionada ao narcotráfico, ou seja, ao não recebimento da droga apreendida no Brasil.
Os 780 quilos de cocaína estavam escondidos em meio a uma carga de tubos no contêiner TOLU8964155. Investigações realizadas pela Polícia Federal no Paraná concluíram que o carregamento e a exportação da droga foram coordenados pelo Major Carvalho. Foi a partir do porto de Paranaguá que o “Escobar Brasileiro” e seus comparsas tentaram exportar 49 toneladas de cocaína para a Europa nos últimos três anos.
A Polícia Civil calcula que o Major Carvalho movimentou R$ 2,25 bilhões no período. A documentação da Polícia Federal também mostra que além de Antuérpia e Roterdã, os outros portos europeus escolhidos pelo Major Carvalho para exportar cocaína são os de Leixões (Portugal); Barcelona (Espanha); Livorno e Gioia Tauro (Itália), Hamburgo (Alemanha) e Le Havre (França).
Lavagem de dinheiro
As investigações da PF apontam ainda que o Major Carvalho lavou parte do dinheiro arrecadado com o tráfico de drogas até com a importação para o Brasil de milhões de materiais de combate à Covid-19. Segundo a Polícia Federal, o Major Carvalho fretou na China o Boeing 747-400F, de 400 toneladas, com 10 milhões de máscaras de proteção contra o coronavírus, além de materiais hospitalares também chamados de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual).
A aeronave pousou no dia 11 de junho de 2020 no aeroporto internacional de Florianópolis e foi recebida com festa por empresários e políticos. Era o auge da pandemia. Havia 25 anos que um Boeing desse porte não aterrissava em Santa Catarina. Agentes federais encontraram em documentos judiciais e em um telefone celular apreendido com a irmã do Major Carvalho, indícios de que o “Escobar Brasileiro” tentou fechar com o governo de São Paulo a importação de 36 milhões de máscaras de proteção, avaliadas em R$ 104,4 milhões.
De acordo com os federais, a negociação só não deu certo porque houve atraso na entrega dos produtos e a nota de empenho foi cancelada pelo governo paulista. O “Escobar Brasileiro” é considerado um dos maiores narcotraficantes do mundo. Ele é dono de empresas – inclusive aéreas – e de imóveis de luxo em Portugal, Espanha e Emirados Árabes. Há suspeitas de que ele esteja escondido na Europa com uma amante brasileira e naturalizada espanhola.
Uma mulher apontada pela Polícia Federal como secretária-executiva do Major Carvalho está presa em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Ela foi denunciada à Justiça pelo Ministério Público Federal pelos crimes de associação ao tráfico de drogas e organização criminosa.
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