Agora está respondido. Apesar de o ex-secretário chefe da Casa Civil Sérgio de Paula afirmar desde que a bomba estourou que não sabia de nada sobre o esquema de propina paga por empresários das áreas de frigorífico e curtume para obter junto ao Governo do Estado as licenças para continuar funcionando, áudios gravados pelos proprietários das empresas que teriam sido extorquidas mostram ele colocando José Ricardo Guitti Guimaro, mais conhecido pelo apelido de “Polaco”, como negociador do esquema.
O ex homem forte da gestão de Reinaldo Azambuja foi gravado pelo empresário José Alberto Berger, que denunciou suposto esquema de extorsão para cobrança de propina em troca de benefícios fiscais no Governo, dando um “toque” para que “Polaco” fosse procurado na tentativa de recuperar concessões. No áudio, Sérgio de Paula é flagrado orientando o empresário para que converse com “Polaco”, que foi gravado recebendo R$ 30 mil em espécie para facilitar a vida do curtume de José Berger.
A gravação complica a versão do ex-secretário de que não indicou ou autorizou qualquer contato do empresário com “Polaco”. No entanto, “Polaco” admitiu as conversas alegadas pelo empresário, em um boletim de ocorrência que foi registrado no Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco e Resgate a assaltos e Sequestros), ainda em janeiro deste ano, quando confessou que intermediou uma reunião de Berger com servidores da Sefaz.
A nova gravação apresentada pelo empresário flagra uma conversa com o então secretário da Casa Civil, em novembro do ano passado, em que, conforme ele, Sérgio de Paula o orienta a procurar “Polaco”, uma pessoa que teria um bom trânsito com interlocutores do governo.
Segundo Berger, ele tentava resolver o cancelamento de uma autorização para operar no Estado, quando teria sido “extorquido” para conseguir resolver a pendência burocrática da empresa. O empresário acusa Sérgio de Paula de participar ativamente do suposto esquema e diz que chegou a pagar R$ 500 mil em dinheiro vivo para o grupo.
Após os pagamentos a integrantes do governo, a situação fiscal da empresa foi resolvida, mas a extorsão, diz Berger, permaneceu. Ele pontua que resolveu preparar os flagrantes ao perceber que os supostos achaques continuariam e o áudio divulgado agora teria sido gravado em novembro do ano passado.
“Deixa eu te falar, Sérgio. Protege ‘nós’, Sérgio”, pede Berger ao então chefe da Casa Civil de Reinaldo Azambuja. “Põe o ‘Polaco’ no circuito”, orienta De Paula.
Quando o empresário pergunta o motivo para colocar um terceiro na conversa, Sérgio responde tentando disfarçar do que falava: “Porque sim. Se tava […] Você… Tal, tal, tal… põe o ‘Polaco’ no circuito. Ué…”
O empresário, segundo ele, ainda tenta tirar de Sérgio uma declaração mais explícita sobre a propina, mas o então homem forte do governo tucano se esquiva:
– Em que sentido?
– ‘Ué’… ‘Polaco’, me ajuda nesse negócio aí. O Polaco conversa bem com esse povo, aí. Vai por mim! Eu… eu dou toque. Tá? Não estou pedindo pra você fazer isso, tô dando um toque pra você.
E o caráter ilícito da conversa sugerida pelo ‘toque’ fica implícito na sequência: “Agora, chama o cara pessoalmente. Não vai falar isso por telefone!”, ensina De Paula.
O então chefe da Casa Civil ainda ‘valoriza’ o assunto a ser resolvido. “Mas vem cá? Um assunto tão simples desse?”, questiona o empresário, quando é abruptamente interrompido por De Paula: “Não é simples! Zé Alberto, se fosse simples, você tava aqui?”
Na sequência, uma gargalhada e Sérgio volta à orientação original: “O ‘Polaco’ conversa com esse cara 24 horas. Deixa eu sentir, eu vou passar ali e entregar isso aqui pra ele, só pra ele sentir”, diz.
A conversa ainda inclui a confissão de que o assunto seria tratado de forma não oficial: “Deixa o ‘Polaco’ trabalhar isso nos bastidores: ‘Polaco’, me ajuda num negócio aí. Cê fala só isso pra ele”, ensina De Paula ao empresário que denunciou o suposto esquema de propina.
Na reportagem do Fantástico, vídeo gravado na sala do empresário, mostra a entrega de dinheiro a Polaco. O dono da Braz Peli, cuja fábrica fica no Núcleo Industrial, em Campo Grande, disse ter gravado o vídeo em questão por ter se decepcionado com o modelo imposto a ele de conquistar o que chamou de direito, o benefício fiscal.
A extorsão custou ao empresário, segundo ele, em torno de R$ 500 mil. Ainda assim, a Braz Peli perdeu o benefício, garantia devolvida por força de uma liminar, decisão judicial provisória.
A gravação apresenta três pessoas falando, sendo que um dos interlocutores teve os áudios suprimidos a pedido de Berger. As intervenções foram sobrepostas com um ‘bipe’ e não interferem no contexto. No início da conversa é possível ver Sérgio marcando, ao telefone, de visitar uma pessoa, que segundo o empresário seria o próprio “Polaco”.