Em menos de três meses, a Maternidade Cândido Mariano, em Campo Grande, já acumula duas denúncias de morte, negligência e descaso no atendimento a gestantes. Em 2025, a unidade esteve envolvida em dois casos de bebês que nasceram mortos e em outro caso, ocorrido em março, em que uma jovem de 19 anos, quase perdeu o filho após peregrinar por três maternidades em busca de atendimento.
A demora no atendimento, mães com dores e falta de sensibilidade médica, fazem as gestantes procurarem a imprensa para relatar os casos. Em março deste ano, foi quando houve a primeira denúncia de descaso. A mãe relatou que a filha de 19 anos passou por três maternidades, inclusive a Cândido Mariano, mas foi impedida de realizar a cesariana, mesmo com fortes dores e o desejo expresso de não seguir com o parto normal.
De acordo com a mãe, os hospitais alegaram falta de vagas e afirmaram que a indução do parto só poderia ser feita após 41 semanas, contrariando a Lei que garante à gestante o direito de escolher o tipo de parto após a 39ª semana.
A jovem permaneceu horas em sofrimento até que, na noite do dia 28, foi novamente levada à Maternidade Cândido Mariano e, somente então, submetida à cesariana. O bebê nasceu bem, mas o caso quase terminou em tragédia.
No dia 27 de julho, o pequeno Levi, filho de Darlene Maciel, de 27 anos, e Erick de Souza, nasceu morto após a família alegar demora no atendimento durante o trabalho de parto na mesma maternidade.
O casal contou que Darlene deu entrada na unidade por volta das 2h30 da madrugada, já sentindo fortes dores. Às 5h, os médicos constataram três centímetros de dilatação e pediram que ela aguardasse a troca de plantão, prevista apenas para as 7h. Nesse intervalo, o bebê ainda apresentava batimentos cardíacos, mas, quando a mãe parou de sentir os movimentos, nenhuma ação imediata foi tomada.
Somente por volta das 9h a paciente foi encaminhada ao centro cirúrgico, onde os médicos constataram que Levi havia evacuado dentro do útero, sinal de sofrimento fetal, e estava morto. Darlene sofreu uma hemorragia intensa e precisou ter o útero retirado, ficando impossibilitada de ter outros filhos.
O laudo apontou parada cardíaca, sofrimento fetal agudo e descolamento de placenta oculto como causas da morte. A família, no entanto, atribui o óbito à demora na condução do parto. À época, a Maternidade Cândido Mariano não se manifestou sobre o caso.
Menos de três meses depois, em 16 de outubro, foi a vez de Ravi, que também nasceu morto na Maternidade Cândido Mariano, em um parto cercado por denúncias de violência obstétrica e tratamento desumano.
Segundo o boletim de ocorrência, a mãe, Cláudia Batista da Silva, entrou em trabalho de parto no dia anterior, por volta das 11h, e foi encaminhada à sala de parto apenas às 17h30, mesmo com os batimentos cardíacos do bebê normais. O parto, porém, só foi iniciado na manhã do dia seguinte, quando ela ainda estava com seis centímetros de dilatação, o que não é suficiente para o parto normal.
Durante o procedimento, os médicos teriam pedido ao marido, Eduardo de Souza, que ajudasse a “puxar” o bebê. Ele relatou que a cabeça do filho saiu deformada e com coágulos, e que o corpo da criança foi entregue de forma brusca e fria à mãe. Após 40 minutos de tentativas de reanimação, o óbito foi confirmado.
Segundo Eduardo, um dos médicos chegou a dizer: “Vocês são jovens, podem fazer outro.” A frase, considerada cruel pela família, acentuou o sentimento de indignação e revolta. Em nota, a Maternidade Cândido Mariano negou falhas e afirmou que o caso envolveu uma distocia de ombro, complicação obstétrica “grave e imprevisível”. A instituição lamentou a morte, mas garantiu que não identificou indícios de negligência, afirmando que o caso será apurado internamente pelas comissões de ética e óbito.
Até o momento, a Maternidade Cândido Mariano não se manifestou sobre o caso de Levi e o de março. Em relação à morte de Ravi, a instituição reafirma que “não houve falha no atendimento”, mas que o episódio será analisado internamente.