O empresário campo-grandense Jamil Name Filho, 44 anos, mais conhecido como “Jamilzinho” e que está preso desde o dia 27 de setembro de 2019, disse, durante interrogatório sobre a execução do ex-chefe de segurança da Assembleia Legislativa, subtenente PM Ilson Martins Figueiredo, 62 anos, ocorrida em junho de 2018, que, “na fronteira, o silêncio não vale nem ouro, vale diamante”.
Ele é réu junto com pai, Jamil Name, 83 anos, o padrinho, Fahd Jamil Georges, 79 anos, e um ex-funcionário da família Name, o ex-guarda civil metropolitano de Campo Grande Marcelo Rios, 44 anos. A acusação atribui o crime à vingança pela morte de Daniel Alvarez George, filho de Fahd Jamil e primo de consideração de Jamil Name Filho, em maio de 2011.
Outros suspeitos de participação no desaparecimento também foram mortos em situações semelhantes. Quanto a um deles, Alberto Aparecido Roberto Nogueira, mais conhecido como “Betão”, o inquérito redundou em denúncia contra Fahd Jamil, acatada há poucos dias pela Justiça, em Bela Vista (MS), onde o caso aconteceu, cinco anos atrás.
A frase de Jamilzinho sobre a lei do silêncio na região fronteiriça ao Paraguai foi dada em resposta aos questionamentos do magistrado responsável pelo caso, Aluizio Pereira dos Santos. O magistrado quis saber se, no convívio com Fahd Jamil, na cidade de Ponta Porã (MS), colada a Pedro Juan Caballero, o réu ouviu falar de alguma intenção de vingar a morte de “Danielito”.
Foi negativa a afirmação sobre isso, acrescida da declaração sobre o padrinho ser homem de poucas palavras. Depois veio a análise sobre como se sobrevive “na fronteira”. Jamilzinho citou ainda que Fuad é um homem idoso, doente, que havia ficado sete anos foragido, depois de condenações judiciais por tráfico e lavagem de dinheiro na Justiça Federal.
Segundo seu argumento, nessa época, o padrinho perdeu a mãe, sem poder se despedir, e quando retornou ao Brasil, com as condenações anuladas, as visitas feitas não eram para falar de coisa triste, como do primo desaparecido. Minha relação com meu padrinho é de amor”, afirmou.
Sobre a vítima, confirmou conhecer Figueiredo, dizendo duvidar do envolvimento dele em crimes como a morte de “Danielito”, o que é apontado pela força-tarefa da operação Omertà como motivação para a vingança por meio da execução. Jamilzinho foi perguntado, ainda, sobre o arsenal apreendido em imóvel da família, depois da prisão de Marcelo Rios, em maio de 2019. Esse fato é considerado embrião da Omertà.
O réu negou que ele e o pai tenham relação com armas de grosso calibre. “Não existe nada que me ligue a essas armas”, afirmou. Jamil Name também participou da sessão desta quinta-feira (26), feita por videoconferência direto da penitenciária de segurança máxima de Mossoró (RN). Como a defesa já havia informado em peça processual, invocou o direito ao silêncio.
Os advogados de Jamil Name querem que seja declarada a insanidade mental dele, sob alegação de estar senil. A saúde dele é tratada como frágil, como argumentação defensiva tentando convencer a Justiça a colocá-lo em prisão domiciliar. As condições do patriarca da família Name foram bastante citadas por Marcelo Rios, que foi o primeiro a ser ouvido. O ex-servidor da segurança pública em Campo Grande foi denunciado por colocar em prática o plano para executar Ilson Martins Figueiredo.
No depoimento desta tarde, o mais longo entre os três, Marcelo Rios gastou boa parte do tempo falando das condições físicas de Jamil Name, que segundo ele não consegue “nem tomar banho sozinho”. Negou ter conhecido “Danielito”, o filho de Fahd Jamil. Sobre a acusação de intermediar a encomenda da morte do chefe de segurança da Assembleia Legislativa atribuiu tudo a uma armação contra todos os réus.
Nesse ponto, ele e Jamilzinho usaram argumento parecido, o de que nenhuma das armas apreendidas no paiol atribuídas ao grupo foi identificada como a usada na execução em questão. Rios repetiu a versão de ter sido torturado no Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros) quando de sua prisão. “Queriam que eu falasse que é seu Fuad”, disse.
Outro tema ao qual recorreu, diante da provocação da defesa, foi sobre a anotação em papel higiênico entregue por um colega de presídio, apontado como prova de plano para assinar autoridades do Judiciário e da Polícia Civil. Fahd Jamil também estava com interrogatório marcado para hoje, mas não pode participar. Ele foi transferido do Garras, onde cumpre prisão preventiva, para hospital particular, para cirurgia cardíaca de emergência.
A nova data para o depoimento foi marcada para 17 de junho. Depois disso, a ação penal vai para a fase em que acusação e defesa fazem suas alegações finais. Na sequência, o juiz decide se manda os denunciados a júri popular. Há outros três acusados pelo assassinato de Ilson Martins Figueiredo, o filho de Fahd Jamil Georges, Flavio Correa Jamil Georges, o funcionário da família Melcíades Aldana e o ex-guarda civil metropolitano Juanil Miranda Filho. Todos estão foragidos e tiveram o processo desmembrado. Com informações do site Campo Grande News