Especialistas apontam que a tentativa desenfreada dos traficantes em desovar a produção no Paraguai pode estar relacionada ao recorde. É o que os policiais chamam de “supersafra”, ou seja, com as atividades de fiscalização do plantio da droga no país vizinho paralisadas durante o auge da pandemia da Covid-19, entre março e setembro, houve uma corrida dos traficantes para desovar o produto que se tornou farto.
Segundo o DOF-MS (Departamento de Operações de Fronteira de Mato Grosso do Sul), historicamente as apreensões crescem até 20% ao ano, enquanto neste o aumento foi quatro vezes mais. Como o Paraguai fechou suas fronteiras durante a crise causada pelo novo coronavírus, foram suspensas as operações conjuntas da Polícia local com as autoridades brasileiras.
Há pelo menos três anos está em vigor termo de cooperação que busca combater o plantio de maconha no país vizinho, que tem clima e solo favoráveis. O ciclo de cultivo dura aproximadamente 120 dias, tempo mais do que suficiente para garantir o estoque das quadrilhas visando abastecer o mercado, com demanda alta pela droga durante a pandemia.
De acordo com a Polícia Federal, a Operação Nova Aliança, como é chamada, tem de quatro a seis fases anualmente. Em 2020, porém, só uma fase foi realizada, em agosto. “Devido à pandemia, ocorreram restrições na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, o que impossibilitou a execução de, ao menos, três fases da erradicação do cultivo de maconha.
Com os trabalhos de fiscalização retomados no Paraguai, a realidade voltou ao normal nos números. Somente na última semana, por exemplo, a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai) desarticulou duas fazendas de plantação de maconha na área de fronteira de Mato Grosso do Sul, com mais de 12 toneladas da droga apreendidas.
Em uma das propriedades rurais, em Bella Vista Norte, o acampamento de 10 hectares contava com gerador de energia, podia abrigar até 15 pessoas e tinha, além do maquinário para prensagem, 30 quilos de sementes. Para o DOF, as informações da “supersafra” auxiliaram o trabalho de inteligência, no sentido de direcionar o policiamento pelas vias do Estado e, dessa forma, realizar as apreensões.
Com a pandemia, as estradas diminuíram seu fluxo, concedendo às autoridades formas mais abrangentes de fiscalização e identificação dos transportes feitos pelo tráfico. As duas maiores apreensões de maconha da história do Brasil ocorreram este ano, em Mato Grosso do Sul.
Em agosto, 33 toneladas da droga foram localizadas em uma carreta em estrada vicinal nas cercanias da MS-166, em Maracaju. Dois homens que estavam em um veículo fazendo a “segurança” da carga foram presos. O recorde anterior era de abril, quando 28 toneladas de maconha foram localizadas em Iguatemi, durante operação conjunta entre a PF e a Polícia Rodoviária Federal.