A extradição do brasileiro Luiz Henrique Boscatto pela Polícia do Paraguai para o Brasil pode revelar os vínculos de autoridades do país vizinho com o contrabando de cigarros na fronteira. A possível confissão dele pode complicar a situação de autoridades que faziam parte do governo de Horacio Cartes e do atual Mario Abdo Benítez.
Boscatto, que foi capturado no Aeroporto Internacional Silvio Pettirossi em 15 de março de 2019 pela Polícia, foi finalmente extraditado para o Brasil na última sexta-feira (24), por ordem do presidente da República, Mario Abdo Benítez.
A Interpol emitiu um mandado de prisão contra Luiz Henrique Boscatto pelos atos de contrabando, corrupção e associação criminosa que foram cometidos no Estado da Bahia e quando ele chegou ao Paraguai em um voo de São Pablo (SP), em março do ano passado, e foi preso.
Desde então, ele estava no Grupo Especializado, em Assunção, capital do Paraguai. Mas como ele não tinha contas pendentes com o Paraguai e, por isso, foi decidida a extradição dele ao Brasil, onde tem uma sentença de 36 anos de prisão para cumprir.
No Brasil pesa a acusação de ser um elo direto do tráfico de cigarros paraguaios para o mercado brasileiro, daí o grande interesse que a Justiça do Brasil tem em levá-lo, julgá-lo e, assim, atrapalhar uma poderosa rede de tráfego.
Para tentar reduzir sua sentença, acredita-se que em sua declaração Luiz Henrique Boscatto possa dar nomes de membros do grupo de contrabandistas de cigarros. Entre esses nomes podem aparecer alguns que teriam sido parte do governo de Cartes e outros que estariam no atual governo.
Tudo isso é apenas um momento transcendente, mas hoje poderíamos ter mais notícias do caso, já que haverá negociações entre o promotor e os advogados do detido para chegar a um acordo favorável para ambas as partes.
Além de ter vínculos com o comércio de cigarros, Luiz Enrique também é um personagem-chave para a Justiça do Brasil participar da Força-Tarefa da Lava Jato, que investiga o maior escândalo de corrupção no Brasil.
Embora Boscatto seja um dos grandes contrabandistas de cigarros da região de Salto del Guairá, capital do Departamento de Canindeyú, foi associado a Roque Fabiano Silveira, conhecido como “Zero Um”, e ambos são considerados pelo Brasil como parte de esquema de lavagem de dinheiro ligado a vários ilícitos em que o doleiro Dario Messer lidera, que por sua vez tem uma amizade com Horacio Cartes, que até o apresentou como seu “irmão da alma”.
Messer, mesmo durante o governo de Horacio Cartes, mudou-se impunemente para fazer negócios milionários. Portanto, Luis Henrique Boscatto, além de se envolver com a questão dos cigarros, também é suspeito de operar com os “doleiros”.
Por esse motivo, presume-se que, para evitar uma convicção volumosa, Boscatto possa negociar e dizer como foi tratado o esquema ilegal do qual ele é acusado. Isso implica fornecer nomes de autoridades e ex-autoridades que lhe deram proteção para se mover sem ser incomodado.