No dia 12 de fevereiro de 2012, o jornalista Paulo Roberto Cardoso Rodrigues, o Paulo Rocaro, era executado a tiros na fronteira do Paraguai com Mato Grosso do Sul. Passados 8 anos, no dia 12 de fevereiro de 2020, mais um jornalista, dessa vez Lourenço Veras, o Léo Veras, também foi executado por pistoleiros na região fronteiriça. Será coincidência ou há algo mais por trás desses assassinatos?
Só quem pode responder isso são as autoridades paraguaias e brasileiras. No caso de Paulo Rocaro, na época, pouco mais de um ano após o crime, a Polícia divulgou a informação de que um empresário teria mandado assassinar o comunicador por motivos políticos. O problema teria sido uma disputa interna dentro do PT.
Paulo Rocaro e Cláudio Rodrigues teriam tido uma discussão e o jornalista afirmado que realizaria matérias com o intuito de expor a ficha criminal de “Claudinho” e de como o crime organizado estaria trabalhando para se infiltrar no ramo da política na fronteira.
O mandante contratou Luciano Rodrigues de Souza e Hugo Estancarte para executarem Paulo Rocaro. E, na noite de 12 de fevereiro, quando o jornalista dirigia um Fiat Idea pela Avenida Brasil, em Ponta Porã (MS), cinco, dos 12 tiros disparados o atingiram. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.
Depois de exatos 8 anos, Léo Veras também foi morto por pistoleiros na noite da última quarta-feira (12). Ele já temia ser assassinado e, além de denunciar à Polícia que vinha recebendo ameaças, divulgou um vídeo pedindo que seus algozes não crivassem seu corpo de balas. A esposa da vítima disse que ele chegou a se despedir da família recentemente.
Em um vídeo que circula nas redes sociais, Léo Veras pedia que sua morte não fosse tão violenta, com tantos disparos de fuzil. Ele foi morto com 12 tiros em sua casa em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com Ponta Porã (MS).
No vídeo, Léo fala que espera que sua morte não seja com tantos tiros de fuzil, “por que aqui se um pistoleiro quer te matar, ele vem na sua porta, manda você abrir e te dá um tiro”. O jornalista estava em sua casa jantando com sua família quando os pistoleiros chegaram e invadiram a casa.
Léo Veras tentou correr, mas foi perseguido e assassinado com 12 tiros, sendo um na cabeça quando ele já estava caído no chão. Todos os tiros foram disparados pelas costas, o que indica que ele tentou fugir dos pistoleiros. Ele chegou a ser socorrido e levado ao hospital, mas não resistiu e faleceu.
Após o assassinato, a Polícia foi até a casa do jornalista e apreendeu o celular e computador de Léo para perícia e tentativa de descobrir as razões das ameaças que vinha sofrendo. A esposa contou à Polícia que ele estava muito nervoso e tenso nos últimos dias. Ela não confirmou a Polícia se ele vinha sendo ameaçado. Algumas características dos assassinos já foram repassadas para a polícia, que agora tenta encontrá-los.
Os três pistoleiros encapuzados estavam em um Jeep Grand Cherokee. Nos últimos dias, Léo Veras concedeu entrevista à emissora Record no programa Domingo Espetacular, em uma matéria especial a respeito do tráfico de drogas e violência na fronteira.
Ele estava tenso nos últimos dias e praticamente se despediu da família, temendo ser assassinado. Foi o que contou a esposa dele ao promotor de Justiça Marco Amarilla, responsável pelas investigações sobre a execução.
O promotor afirmou que conversou com a mulher de Léo Veras e com o sogro dele, também presente na casa quando os pistoleiros encapuzados invadiram o local para matar o jornalista.
Segundo Marco Amarilla, embora não tenha confirmado ameaças recentes ao marido, ela disse que ele estava preocupado, tenso, e se despediu da família nos últimos dias, como se já soubesse que seria morto. “Uns dias antes estava muito tenso, nervoso, calado, praticamente se despediu da esposa, da família”, afirmou o promotor.
Nesta quinta-feira (13), horas após a morte de Léo Veras, jornalista atuante na região de fronteira entre Paraguai e Ponta Porã, o Sinjorgran (Sindicato de Jornalistas Profissionais na Região da Grande Dourados) divulgou uma nota condenando o assassinato. Foi lembrada a morte de Paulo Rocaro.
O sindicato lamentou e repudiou o que chamou de atentado ocorrido contra o jornalista Léo Veras. “Esse golpe brutal atingiu também todos os profissionais da comunicação que atuam na fronteira Brasil-Paraguai, escancarando mais uma vez a insegurança vivida por quem pratica o jornalismo na região”.
Ainda na nota, o sindicato pede solução rápida do crime pelas autoridades paraguaias “já que a impunidade é mais uma forma de ferir o exercício livre da comunicação”.