Deputado que empunhou livro de Hitler em sessão pode responder na Justiça

O PSOL de Mato Grosso do Sul denunciou ao MPE (Ministério Público Estadual) o deputado estadual João Henrique Catan (PL) por ter exibido em discurso na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul o livro “Mein Kampf” – que em português significa “Minha Luta” – escrito pelo ditador nazista alemão Adolf Hitler, responsável por mais de seis milhões de mortes de judeus em campos de concentração na Europa.

 

Em sua defesa, o parlamentar disse ter usado a polêmica obra para criticar colegas governistas que reprovaram um requerimento de sua autoria, solicitando o acesso ao relato das contratações para cargos comissionados na gestão do governador Eduardo Riedel (PSDB). Na prática, de acordo com ele, estava apenas querendo comparar a suposta influência de Riedel sobre a Assembleia Legislativa com a que teve Hitler sobre o Parlamento alemão.

 

Em nota divulgada à imprensa, o PSOL sustentou que o deputado estadual, ao empunhar o livro “Mein Kampf”, o fez de maneira completamente demagógica e desnecessária. “Como forma de ilustrar seu argumento, acabou por legitimar um dos maiores símbolos da existência de uma ideologia que culminou nos horrores da 2ª Guerra Mundial e do Holocausto, ferindo princípios constitucionais do Estado Democrático de Direito e a dignidade do cargo”, reforçou a legenda.

 

O comunicado do partido acrescenta que, depois das críticas públicas que recebeu, João Henrique Catan afirmou que seu discurso foi distorcido e sua assessoria divulgou que o livro foi citado em um determinado contexto. Entretanto, para o PSOL, o contexto não diminui a gravidade do ato e, pelo contrário, demonstra que não tinha a menor necessidade de levantar na tribuna o “Mein Kampf”, ainda mais fazendo um desagravo ao nazismo quando disse que o juiz que “suspendeu a entrada e as vendas do Mein Kampf” tenha sido, “talvez, mais ditador do que Adolf Hitler”, ou ao comparar o atual Governo do Estado ao regime nazista.

 

“De forma deliberada e desmedida, portanto, João Henrique Catan acabou por propagandear a obra prestando um verdadeiro desserviço à sociedade, trazendo aos holofotes uma ideologia que vai de encontro aos objetivos da República Federativa do Brasil, mormente ao quanto previsto no art. 3º, IV, da CRFB/88”, afirmou o diretório do PSOL em Mato Grosso do Sul.

 

A representação ainda cita como fator preocupante relacionado ao tema o estudo divulgado no início de 2022, da antropóloga Adriana Dias, especialista no assunto, que identificou um crescimento de 270,6% no número de células neonazistas no Brasil entre janeiro de 2019 e maio de 2021. “Trata-se de grupos violentos e propagadores do racismo e da intolerância, demonstrando o perigo que essa ideologia representa para o nosso país”, finalizou.