Após ficar conhecido como o paladino da Justiça e “arrotar” que era “ficha limpa” na campanha eleitoral para governador em 2018, o juiz federal aposentado Odilon de Oliveira terá de mudar o discurso caso saia mesmo candidato a prefeito de Campo Grande ou de alguma cidade do interior do Estado no pleito de 2020 depois da instauração do processo administrativo disciplinar por parte do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF 3) para apurar a conduta dele diante da revelação de que seu ex-assessor e primo Jedeão de Oliveira destruiu provas e documentos da Justiça Federal quando soube que seria demitido em 2016.
Em entrevista ao jornal Correio do Estado, o magistrado aposentado ainda pensa que está por cima da “carne seca” e declarou que o processo aberto pelo TRF 3 não muda em nada seus planos para as eleições de 2020. Na interpretação dele, o fato de já estar aposentado faz com que não caiba mais punição com relação aos fatos investigados. “Eu acho que não prejudica na política. O processo administrativo não manda nada, só que tem que encerrar os procedimentos. Aquele processo do funcionário malfeitor, com relação ao furto e à apropriação, terminou O tribunal tem que verificar qualquer dúvida e é normal. Eu não sou mais juiz. Se o fato for procedente, teria que me readmitir. Se fosse um furto/ apropriação, daria demissão. Só estou citando exemplos, não estou envolvido”, destacou.
Estranhamente, na época em que disputou a eleição para governador, Odilon de Oliveira não tinha a mesma avaliação em relação às denúncias contra os seus adversários – no caso o ex-governador André Puccinelli e o atual governador Reinaldo Azambuja – e exigia o rigor da lei contra eles, que, em 2018, estavam passando pela mesma situação que o juiz federal aposentado está enfrentando hoje com a Justiça. É a velha máxima do que nada como um dia após o outro e, agora, o magistrado está sentindo na pele como é desagradável ser vidraça.
No entanto, alheio ao processo, Odilon disse ainda que existem mais investigações por conta de irregularidade atribuída ao seu primo, do qual ele evita falar o nome. “Tem mais coisa, vazamento de senha. Foi pego com o ex-diretor da secretaria uma senha minha com a letra dele, anotada com a letra dele. Tem umas coisinhas pequenas. O que não pode é ficar dúvida, nem para mim nem para a União”, afirmou ao jornal.
De acordo com o portal Consultor Jurídico (Conjur), no relatório do corregedor do TRF 3, desembargador Carlos Muta, funcionários relataram que, no dia 17 de junho de 2016, Jedeão ficou três horas picando papel. Foram ouvidos dez funcionários sobre o comportamento de Odilon e da juíza substituta Monique Marquiori Leite. A magistrada foi inocentada. “Eu próprio, quando apurei, disse que ela não tinha nada a ver com nada, nenhum funcionário tem. Com relação ao desvio de dinheiro todos foram inocentados, menos ele”, disse, citando indiretamente seu primo. Ainda conforme o Conjur, a manifestação do corregedor para instauração do processo foi deferida por 15 dos 18 desembargadores do Órgão Especial do TRF 3.