De “chefe de quadrilha” a “chefe de cozinha” ! Giroto desabafa e diz que prisão é insalubre. Ô..coitado!

Preso desde 8 de maio de 2018, o ex-deputado federal e ex-secretário estadual de Obras, Edson Giroto, revelou, em entrevista ao site Campo Grande News, que é o cozinheiro da cela no Centro de Triagem, em Campo Grande (MS). A declaração durante mais uma audiência na 3ª Vara da Justiça Federal sobre ação da Operação Lama Asfáltica, que aponta lavagem de dinheiro e ocultação de bens.
No banco a espera para ser ouvido, Giroto afirmou que paga um “preço alto demais, imposto pelo sistema político… Caro para alguém que fez tanto pelo Estado”.
 Na cela 17, Giroto é um dos comandantes, repassando as regras estabelecidas pelos presos mais antigos, como ele. Além dessa liderança, exerce ainda função de cozinheiro, responsável pelo café forte e amargo e o reforço à mistura servida no Centro de Triagem. “A vida na cela é muito difícil, é um ambiente insalubre”, explicou o ex-deputado federal.
O lugar tem 24 camas e, eventualmente, o número de presos é maior. Quando isso acontece, Giroto diz que o detento “fica na praia”, ou seja, dorme no chão. Nesta terceira prisão, ocorrida em maio de 2018, chegou a usufruir da praia por dois dias. “A situação é insuportável, não tem ventilação, não tem janelas”, descreveu o ex-deputado, sempre com a anuência de ex-companheiro de cela, que também está na 3ª Vara da Justiça Federal, o ex-fiscal de obras da Agesul, Beto Mariano.
Para tentar amenizar a situação, Giroto disse que algumas mudanças foram estabelecidas. Na cela, não são aceitos usuários de drogas. Se entrar, os demais detentos tentam demovê-lo do uso, o que acaba resultando na saída voluntária. Também está vetada a entrada de pedófilos.
Os presos fizeram vaquinha e azulejaram o banheiro da cela. Antes, havia apenas uma ducha, mas outra foi instalada recentemente. Todo dia de manhã, o local é limpo com água sanitária. “No começo tinha preso com sarna, furúnculo, escorpião embaixo da cama, agora, acabou”.
Para evitar o acúmulo de papel higiênico, há regra que não pode ser desrespeitada: depois do “número 2” é obrigatório o banho. Giroto cita ainda que sempre chama a atenção para que os panos usados na limpeza estejam torcidos e limpos.
O ex-deputado também assumiu a função de cozinheiro. De manhã, prepara o café forte e sem açúcar, como gosta. “Forte e amargo” ressaltou Beto Mariano. Para esquentar usa um arremedo de “rabo quente” – aquecedor de água portátil, feito de maneira artesanal, com pedaço de madeira e fio de cobre.
Munido de fogareiro elétrico, prepara reforço para mistura, “que é muito ruim”, disse Giroto. Nas visitas, é pedido que as famílias levem carne assada ou frita. O ex-deputado corta a carne e mergulha e óleo, como uma conserva. Durante a semana, é usada na mistura.
Giroto preenche o tempo com leitura. Agora, está na trilogia “Uma Breve História da Humanidade – Sapiens” e recomendou à reportagem “Médico de Homens e de Almas”, que trata da história de São Lucas.Sobre o sistema carcerário, o ex-deputado diz que não existe reabilitação. “É mentira, quem fala isso, não sabe o que diz”.
Processo
Quem visse de longe a cena, imaginaria que alguém apenas conversava sobre a vida. Sem ressalvas, Giroto rememorou episódios da vida política, como os sábados em que ele e o ex-governador André Puccinelli (MDB), na época prefeito de Campo Grande, andavam pela cidade e, no dia seguinte, se reuniam para discutir os problemas da Capital.
“Trabalhava sem parar e dormia três horas por dia, esforço que não valeu a pena”, reclama o ex-secretário ao contar que também conhece todo o Estado, já que percorreu de carro 100% das regiões.
Como uma linha do tempo, Edson Giroto chega à eleição para prefeito, em 2012, quando foi derrotado pelo ex-chefe do Executivo municipal, Alcides Bernal(PP), fato considerado “uma das maiores frustrações”.
Aos poucos, o ex-secretário se defende de denúncias que envolvem seu nome e de sua família. Começa pela MS-430, que integra a lista de denúncias na Lama Asfáltica, com indícios de irregularidades na licitação, Giroto disse que ocorreu apenas uma alteração da execução do projeto original.
“Tivemos de mudar a estaca e o Miglioli [Marcelo Miglioli, que assumiu a secretaria em 2015] mandou o projeto original para a Polícia Federal”, que foi induzida ao erro, acusa o ex-secretário, afirmando que foi seu sucessor na pasta quem enviou relatórios sobre “falsas” irregularidades.
Sobre a mansão no Residencial Damha, o ex-secretário afirmou que comprou dois terrenos no local, mas vendeu um deles para construir a casa em uma das áreas. O outro terreno teria sido vendido em 12 vezes, com parcelas de R$ 100 mil, para uma pessoa cujo apelido é “Lito”. Todo dinheiro que entrava era aplicado na construção, afirma.
Ele chegou a pedir à Caixa Econômica empréstimo de R$ 1,05 milhão para investir na residência.
Outro valor recebido seria de um apartamento no Rio de Janeiro, de R$ 1,7 milhão, vendido na época da Copa do Mundo, em 2014, quando os imóveis foram valorizados. Os pagamentos foram depositados na conta de sua esposa.
“Se somar”, afirma, o valor é o apontado como propina. A mansão foi alvo da operação em 2015, quando a PF fez buscas. A moradia de luxo foi estimada em R$ 7 milhões, mais do que o triplo do patrimônio declarado por ele em 2012.
“Eu não sou mentiroso, eu vou falar qual foi meu erro, meu erro foi não ter declarado à Receita Federal”. O receio foi ter de pagar um valor alto à título de imposto. Apesar disso, o ex-secretário afirma que tem todas as notas fiscais de construção e documentos, reunidos porque pensava em disputar a eleição de 2012.
Durante todo tempo, Giroto lamentou o destino e deixou claro se sentir injustiçado.
Quando questionado se pensa em fazer delação premiada, apenas balançou a cabeça como quem analisa uma situação, mas respondeu que “está muito duro, estou pagando um preço muito alto”.