Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (18), revelam que as mortes durante ações policiais mais que dobraram em Mato Grosso do Sul nos últimos dois anos.
Em 2022, foram registrados 51 suspeitos assassinados, número que subiu para 133 no ano passado, representando variação de 160,8%. O documento ainda mostra que Mato Grosso do Sul é um dos seis estados onde nenhum policial morreu em confronto desde 2022.
Nas estatísticas, não é feita diferenciação entre Polícia Militar e Polícia Civil. O mapa difere de dados da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública), que repassou 43 mortes por intervenção policial em 2022, enquanto no ano passado foram 108, mesmo assim, o maior número na série histórica de 10 anos, aumento de 151,16% na comparação aos dois períodos.
A reportagem pediu posicionamento da Sejusp em relação à diferença dos números e em nota a Secretaria informou que “os dados que originam as estatísticas criminais são captados a partir do registro de boletins de ocorrências policiais, ficando disponíveis e públicos no site oficial da Sejusp, no link estatísticas on-line. Não podemos responder sobre a origem dos dados publicados pelo anuário”.
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, a diretora executiva do Fórum Samira Bueno explicou que no Centro-Oeste a opção de confronto ganhou espaço, em prejuízo ao trabalho de investigação.
Segundo ela, isso aconteceu tanto em Mato Grosso do Sul, onde predomina a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), quanto no Mato Grosso, com liderança do CV (Comando Vermelho).
“Esses estados sofrem com o crime organizado, é evidente. Muitas das rotas usadas pelo narcotráfico passam por esses estados”, disse, referindo-se às rotas, inclusive, na ligação com a Bolívia e o Paraguai.
Apesar de oficialmente a polícia usar o termo “confronto”, Mato Grosso do Sul não registrou mortes de policiais civis e militares em 2022 e 2023. Levando-se em conta apenas os dados do ano passado, o Estado figura no seleto grupo que inclui, ainda, Espírito Santo, Santa Catarina, Acre, Amapá, Tocantins e Roraima.
Nas estatísticas da Sejusp, em 2024 já foram registradas 40 mortes em confronto, destes, 21 ocorreram em Campo Grande e 11 na faixa de fronteira, todos eram suspeitos de crimes.
Desde o início de 2022, a função de investigar esse tipo de morte cometida por PMs passou a ser investigada pela própria Polícia Militar. Antes, era responsabilidade da Polícia Civil. Nem o Comando da PM, nem Diretoria Geral da Polícia Civil, Sejusp ou corregedorias dessas forças repassam informações sobre quantos servidores foram investigados realmente e punidos por mortes em serviço.