O ex-major PM Sérgio Roberto de Carvalho, mais conhecido como “Major Carvalho” e batizado de “Pablo Escobar Brasileiro” em referência ao narcotraficante colombiano Pablo Escobar, voltou a ocupar as manchetes dos jornais europeus.
Após a Interpol pôr fim à fuga de 13 anos em junho do ano passado, em um restaurante em Budapeste, na Hungria, com a ajuda de vários informantes, ele foi extraditado para a Bélgica e hoje é disputado por pelo menos cinco países para ser julgado por delitos de narcotráfico e lavagem de dinheiro.
Além da Bélgica, para onde foi levado e instalado em uma prisão chamada de “resort”, Major Carvalho tem pedidos de extradição feitos por Brasil, Estados Unidos e Espanha. A Interpol atribuiu ao traficante a entrada de cinquenta toneladas de cocaína na Europa.
Como empresário, ele administrou diversos negócios de importação de frutos do mar em Marrocos e Dubai e foi considerado o chefe de uma organização dedicada ao transporte de drogas em Portugal, Bélgica, Alemanha, Holanda e Espanha.
Sob sua identidade falsa, Major Carvalho não hesitou em fingir sua morte em 2020 para evitar uma condenação de 14 anos de prisão e multa de E$ 340 milhões na comunidade autônoma da Galícia, por uma operação de cocaína com a qual foi coroado como financiador de históricos narcos galegos.
Esses criminosos já haviam sido relegados ao segundo escalão do negócio, mas a proposta do ex-militar era uma oportunidade para recuperar seu status econômico, a principal garantia para os provedores sul-americanos.
Autoridades espanholas solicitaram à Bélgica a extradição do “Escobar brasileiro” para que fosse julgado pela Secção Quinta de Vigo. O tribunal havia solicitado o mesmo à Hungria. No entanto, a solicitação não foi respondida.
O alto tribunal galego confirmou as condenações impostas pela Justiça de Pontevedra aos 14 narcotraficantes que prepararam com Carvalho o carregamento de 1,7 tonelada de cocaína nas Rias Baixas, em agosto de 2017, a época dourada do capo brasileiro na Espanha.
Major Carvalho se apresentou aos narcotraficantes como um holandês radicado em Málaga chamado Paul Wouter, de 56 anos e nascido na Guiana, que utilizou seu avião privado para se deslocar por todas as partes desde Marbella, onde vivia em uma luxuosa mansão em que mantinha diversas reuniões com seus novos sócios. Seu papel no transporte de mais de 80 milhões de euros foi o principal contato com o fornecedor da cocaína e financiador, sem levantar nenhuma dúvida sobre sua verdadeira identidade.
Mas Wouter e seus soldados caíram numa operação policial que começou, um ano antes, com gravações no interior de veículos. Os agentes até conseguiram interceptar múltiplas interações que mantinham os membros do narcogrupo que os levariam a se reunir em um cemitério para coordenar a última fase da operação falida.
A polícia, após o embarque no Titan III, navio mercante de bandeira panamenha onde eram transportadas as drogas, indicou que se tratava de uma operação semelhante às “clássicas” perpetradas por organizações galegas na década de 1990. Os criminosos recuperaram os mesmos métodos para o transporte marítimo — “voltando aos seus velhos hábitos”, segundo os investigadores.
Depois de passar alguns meses na prisão, Wouter foi libertado sob fiança de 200 mil euros. No verão de 2019, o tribunal o declarou morto quando o Ministério Público de Pontevedra formulou a acusação contra ele para levá-lo a julgamento. Os juízes consideraram válido o relato de óbito por infarto decorrente de complicação de covid-19, bem como a cremação do seu corpo, atestada por um profissional de uma clínica de estética de Marbella, a qual frequentava regularmente.
Nesse mesmo estabelecimento, em uma suíte de luxo onde fazia regime de emagrecimento, Wouter havia sido preso em 2018. Mas, meses depois da comunicação da morte, quando já havia sido instaurado o processo relacionado ao tráfico de drogas, um processo judicial notificado de Curitiba, no Paraná, revelou a verdadeira identidade do capo: Sergio Roberto de Carvalho, nascido em 1958 e procurado por tráfico de drogas e lavagem de dinheiro desde 2009.
Curitiba alertou que havia indícios de que esse o empresário ainda estava vivo. As impressões digitais coincidiam, mas o caso passou despercebido. O passaporte de Wouter, apreendido pelo grupo policial Greco, foi emitido pelas autoridades do Suriname e considerado autêntico na investigação judicial na Galícia.