Caso Sophia: fotos e vídeos da menina e imagens perturbadoras de padrasto devem chocar júri hoje

Durante o julgamento pela morte de Sophia Ocampo, de 2 anos, serão exibidas fotografias e imagens fortes aos sete jurados e que comprometem em muito Christian Campoçano Leitheim, de 27 anos, e Stephanie de Jesus da Silva, 26 anos, que são padrasto e mãe, respectivamente, da vítima e acusados de serem os responsáveis pelo crime.

Marcado para começar amanhã (4) e terminar até quinta-feira (5), o tribunal do júri mostrará as fotos e os vídeos juntados pela investigação para retratar o contexto da vida e morte da menina, sendo que outros conteúdos extraídos dos celulares dos acusados podem ser usados pelas defesas na guerra de narrativas.

De acordo com o site Campo Grande News, a pedido do MPE (Ministério Público Estadual), o juiz Aluízio Pereira dos Santos, que presidirá o júri popular, proibiu a transmissão ao vivo das sessões. A intenção é preservar as imagens das crianças envolvidas naquele contexto familiar violento – Sophia e a irmã ainda bebê, além do filho de Christian.

O magistrado não permitirá também que acusação e defesa exibam nos telões do plenário do Tribunal do Júri “imagens, fotos sensíveis, etc.”. O conteúdo poderá ser mostrado aos sete jurados que contam cada um com seu computador. “O telão é apenas um recurso a mais de ampliação, mas todo o material está nos notebooks, permitindo aos jurados, únicos destinatários das provas, verem também com amplitude e qualidade”.

Imagens contidas nos relatórios da Polícia Civil e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado), por exemplo, são chocantes. Fotos encontradas nas galerias dos celulares mostram, por exemplo, Sophia desfalecida, tanto nas últimas horas antes de morrer, quando no ano anterior, quando a mãe a leva para socorro médico na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Coronel Antonino duas horas e meia depois de levar “surra” do padrasto.

No dia 16 de novembro de 2022, pelo WhatsApp, Stephanie conversa com Christian enquanto está no posto de saúde e revela preocupação com a quantidade de machucados que a filha tem pelo corpo. “Tá toda arregaçada”, descreve. Ela teme que alguém note marcas no pescoço da filha. “O f… é do pescoço, mas tomara que não tirem foto”.

Nesse momento, Christian começa a se justificar. “Eu dei dois cascudos nela só”, afirma. Em seguida descreve as técnicas violentas que emprega contra a garotinha. “Eu quase não bato. Eu brigo mais que tudo para não ter de encostar nela. Aí dei uns beliscos e uns tapas na mão e pés, porque dói e não marca”.

A mãe chega a levantar dúvida sobre um dos hematomas, mas não reclama das agressões admitidas por ele. “Mas o do pescoço é quando aperta, amor”. Ele justifica: “Quando eu vou levar para o quarto, eu sempre pego por trás do pescoço. Mas isso eu belisquei, não apertei”. E Stephanie se conforma: “Tá bom, amor. Eu sei como você faz”.

Há outras ocasiões em que a ré questiona o marido sobre marcas de mordidas e até um corte na cabeça da filha, mas, aparentemente, sempre aceita as explicações. Quando questionada pelo pai da menina, ela também conta histórias sobre quedas ao brincar, da cama e arranhões de gatos. Stephanie nega que alguém esteja “judiando” da criança. Veja no vídeo:

Em fevereiro deste ano, novo documento foi anexado ao processo trazendo detalhes dos métodos violentos empregados pelo padrasto – como tapas, “quebra-costela” e sessões de sufocamento – contra a enteada, além de refazer as últimas horas dela. Os apontamentos foram feitos pelo Gaeco, que deu suporte aos promotores do caso, com base nos diálogos travados no WhatsApp.

O relatório, assinado pela procuradora Ana Lara Camargo de Castro, coordenadora do Gaeco, desmente o principal argumento do acusado para se livrar da culpa pela morte da menina. No depoimento dado em juízo, no dia 5 de dezembro, Christian disse que passou o dia 26 de janeiro de 2023 dormindo, das 4h até por volta das 16h, sob efeito de drogas e álcool, e ainda que só tomou conhecimento que Sophia passava mal quando Stephanie o acordou no fim da tarde.

O réu, contudo, começa a usar o celular na data da morte da enteada, por volta das 12h. “Às 13h25min, ele (portanto, desperto) encaminhou mensagem para sua genitora, relatando que Sophia de Jesus Ocampo estava ‘morrendo de dor’”, registra o relatório. A análise aponta que a criança começou a apanhar do padrasto cerca de 24 horas antes de morrer.

“Ao que tudo indica, o sequenciamento observado, o acusado teria agredido fisicamente Sophia na data de 25 de janeiro de 2023, meados da tarde, quando já apresentava irritabilidade desencadeada a partir de lentidão da internet enquanto tentava se conectar para jogos on-line. O fato de o acusado considerar a vítima ‘endemoniada’, por ignorá-lo e recusar a se deitar, parece ter resultado na agressão que levou a criança a óbito”.

A procuradora explica que tomou a conclusão porque algumas horas depois de Christian “desabafar” com Stephanie sobre o comportamento da enteada, classificado por ele como teimoso, a menina começou a apresentar “os primeiros sintomas da fatal lesão sofrida por ela”.

Por volta das 18h, Sophia passou a vomitar e o padrasto culpou a mãe por ter permitido que a filha comesse vários pães no dia anterior. Ele diz que a menina “vomitou o colchão inteirinho” e continua: “O que ela fez foi vomitar, umas quatro vezes acho. Agora já era. Já vomitou o que tinha que vomitar. Acho que agora vai ficar só morrendo aqui”.

Nesse momento, o relatório exibe fotos encontradas nos celulares do casal que mostram Sophia bastante debilitada, já noite do dia 25. Na madrugada do dia 26 de janeiro, Stephanie procura na internet como fazer soro caseiro, também aponta o relatório.

Para o Gaeco, Christian dormiu por aproximadamente 7 horas, 5h às 12h, se levadas em conta as interações encontradas no aparelho de telefone dele.

Sophia aparece chorando ao fundo do áudio, enviado pelo réu a um amigo e pinçado pela perícia, o que significa que às 12h32 daquele fatídico dia, a menina ainda estava viva e o padrasto já havia acordado.

“Aliás, ao encaminhar áudio, via aplicativo mensageiro, é possível ouvir, ao fundo da mensagem, a vítima queixar-se de dor, enquanto Christian se gaba com o amigo sobre a prática de sexo com Stephanie na madrugada anterior”, considerou Ana Lara Camargo.

Christian Campoçano também é acusado de estuprar Sophia e a análise produzida pelo Gaeco revelou mais um detalhe perturbador da convivência do réu com as crianças da casa. Ele se masturbava no mesmo ambiente que os pequenos.

A constatação foi feita a partir de fotos e vídeos extraídos do celular do acusado. “O repositório do aparelho celular de Christian Campoçano Leitheim também revelou imagens de homem de pênis ereto, masturbando-se, no mesmo ambiente que uma criança o que teria ocorrido tanto no dia 19 quanto no dia 20 de janeiro de 2023, vale dizer, 7 dias antes do óbito da vítima”, registra a signatária do documento, afirmando ainda que se comparadas às imagens com outras fotos encontradas em laudo pericial que faz parte do processo, é possível concluir que “o referido homem é o próprio”.

Outro vídeo encontrado no conteúdo do celular de Christian mostra a bebê do casal sem roupa, aparentemente após um banho. As imagens foram interpretadas de maneiras diferentes por fontes que conversaram com a reportagem.

Há envolvidos no caso que acreditam se tratar de filmagem destinada à pornografia infantil, já que em algum momento há “foco” na região íntima da criança, enquanto a defesa de Christian afirma que quem pensa desta maneira, possivelmente, está tirando o vídeo do contexto, já que o áudio mostra o pai brincando com a filha antes de vesti-la.

“A defesa do Christian, ele refuta a utilização do acervo de imagens obtido a partir do acesso a celulares e meios e tudo mais, como sendo uma ligação ou uma comprovação de que ele tenha praticado qualquer ato sexual contra a Sophia ou mesmo uma criança que aparece em repetidas imagens, fotos e vídeos. Nós tivemos acesso a 13.385 páginas de um acervo pessoal, tanto da Stephanie quanto do Christian. Então, pegar as imagens que estão lá e trazer uma conotação sexual, isso por nós é refutado desde o início”, afirma Renato Cavalcante Franco, um dos advogados de Christian.