Cascalhos de Areia: trocas de e-mails entregaram esquema de fraude pilotado por empreiteiras

No âmbito da “Operação Cascalhos de Areia”, deflagrada pelo MPE (Ministério Público Estadual) no último dia 15 de junho para apurar um rombo de R$ 300 milhões nos cofres da Prefeitura de Campo Grande (MS), relatório revelou que a troca de e-mails entre funcionários da empresa Engenex possibilitou a verificação da ordem cronológica em que os dados iniciais da planilha de produção de campo eram manipulados ou alterados.

 

Segundo reportagem do Correio do Estado, conforme dedução do MPE, as alterações eram efetuadas no âmbito da empresa Engenex, bem como no âmbito da Prefeitura de Campo Grande, ou seja, as medições das obras, fraudadas como meio de aumentar a arrecadação das empreiteiras tinha o consentimento da Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura de Campo Grande).

 

O relatório deixa a entender que quem media as obras eram os funcionários das empreiteiras e não os servidores da Sisep, como deveria ocorrer. Além da Engenex, surgem como empreiteiras suspeitas a ALS, do empreiteiro André Luís dos Santos, o “Patrola”, e ainda a JR, do vendedor de queijo Adir Paulino Fernandes.

 

No dia da deflagração da operação na semana passada, enquanto investigadores do MPE cumpriam mandados de buscas e apreensão nas casas e empresas dos implicados, Adir Fernandes foi preso porque acharam na sua chácara em Terenos (MS) uma arma sem registro e, na delegacia, um estranho depoimento deixou a entender que ele seria “laranja” de alguém.

 

Até agora, pelos rumos da investigação do MPE, Patrola seria o chefe do esquema e Adir Fernandes, que disse ter salário de R$ 2,5 mil mensais obtidos com a venda de queijos, seria seu “laranja”, pois, a empresa que está em seu nome, mantém contratos milionários com a Prefeitura de Campo Grande.

 

A empreiteira Engenex tem como donos Edcarlos Jesus Silva e Paulo Henrique Silva Maciel, tio e sobrinho, enquanto a outra empreiteira investigada pelo MPE é a JR Comércio e Serviços Ltda., que teria como dono Adir Fernandes, que é sogro de Edcarlos Silva.

 

“Há elementos de convicção que demonstram a prática de possíveis crimes contra a administração pública e lavagem de dinheiro envolvendo contratos para a execução de manutenção de vias não pavimentadas”, trouxe o relatório do MPE, que apurou também a locação de maquinários e veículos correlatos à Prefeitura.

 

Segundo o promotor de Justiça Humberto Lapa Ferri, o suposto esquema das empreiteiras ocorre desde “o início da gestão municipal atual (2017) até a presente data”. Neste período, Campo Grande teve duas gestões: Marquinhos Trad (PSD), que administrou a cidade de janeiro de 2017 a 2 de abril de 2022, e Adriane Lopes (PP), a atual prefeita que assumiu o mandato no mesmo dia da renúncia do então prefeito.

 

Boa parte do relatório dedica-se aos indícios de fraude quanto às medições e pagamentos efetuados às empreiteiras. Nota-se no estudo do MPE que as empreiteiras faziam para receber dinheiro da Prefeitura seria mais ou menos assim: a dona ou dono de um imóvel contratasse um pedreiro para rebocar seis cômodos da casa. No fim, o serviço era feito pela metade, ou nem isso, e, a obra, ainda que inacabada, tinha de ser paga, 

 

No mês de junho de 2021, segundo a planilha ‘relatório de produção de campo’, a empresa Engenex Construtora efetuou o transporte e aplicação de 1.986 metros cúbicos de material/revestimento [que pode ser cascalho], o que equivale a cerca de 110 cargas de 18 metros cúbicos, nas ruas dos bairros Riviera Park e Jardim São Conrado.

 

Segue o relatório: já na planilha criada pela Prefeitura de Campo Grande, no mês de maio de 2021, a empresa Engenex teria transportado e aplicado 5.022 metros cúbicos de material/revestimento, o que equivale a 279 cargas de 18 metros cúbicos.

 

O desfecho do narrado no relatório: “em resumo, as alterações efetuadas consistiram no aumento do quantitativo de itens que possuem maior valor agregado e manutenção do quantitativo de itens menor valor”.