Após ataques, delegado Fábio Peró classifica ato de “fantasia e desespero da defesa”

O delegado de Polícia Civil Fábio Peró foi um dos nomes mais atacados ontem (18) no 2º dia de julgamento dos acusados pelo assassinato do acadêmico de Direito, Matheus Coutinho Xavier, em 2019. De férias, o delegado garante que preferiu não saber do teor dos depoimentos, mas, não conseguiu escapar das informações do júri popular lendo mensagens enviadas por colegas via WhatsApp.

Segundo entrevista ao site Campo Grande News, ele ouviu a versão já repetida várias vezes pelos envolvidos, depois do fechamento do inquérito, que o chamam de torturador e usuário de drogas. Para o delegado, colocar a Polícia Civil no foco é um jogo “sujo” e já esperado, que considera “pura fantasia e desespero da defesa de quem não tem defesa”.

Fábio Peró integrou a força-tarefa e trabalhou para denunciar grupo comandado pelo empresário campo-grandense Jamil Name, acusado de formar organização criminosa em Campo Grande e que morreu vítima de Covid-19 quando estava no Presídio Federal de Mossoró (RN).

Nesta terça-feira, os primeiros ataques ao delegado vieram de Eliane Batalha, ao responder perguntas de advogado do marido e ex-guarda civil Marcelo Rios, julgado sob a acusação de arquitetar o assassinato do ex-capitão PM Paulo Xavier, o “PX”, pai de Matheus, fuzilado por engano aos 20 anos.

Durante as investigações e fase processual, Eliane apresentou duas versões sobre o envolvimento do marido com a família Name. Primeiro, admitiu o vínculo com o crime. Dias depois, disse ter sido torturada psicologicamente dentro do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco e Assaltos e Sequestros).

A mulher, que chegou a ser considerada testemunha-chave no caso, ontem voltou a sustentar que usaram até os filhos do casal para obrigá-la a mentir. O menino, com 7 anos em 2019, teria, inclusive, chamado Peró de “monstro”.

Peró ri ao ouvir a transcrição de parte do depoimento e fala que a “tática é velha para descredibilizar a investigação e os policiais”. Marcelo foi o primeiro a ser preso do grupo hoje em julgamento. Foi pego em maio de 2019 com o arsenal que seria dos Name.

Segundo Peró, dias depois Eliane procurou o Garras com medo, após ser ameaçada. “Nós atuamos o tempo todo para proteger essa mulher. Ela pediu ajuda, queria entrar no programa de proteção à testemunha. Fomos até a casa dela e a tiramos de dentro do carro de pessoas que poderiam ter acabado com ela. Trouxemos para o Garras e demos abrigo”, diz.

Irritado com a mesma história repetida por Eliane, Peró chega a dar detalhes sobre como ela e os filhos foram tratados. “O que a minha equipe comia, eles comiam. Buscava lanche na melhor padaria da região. Um dia vi que o menino estava mais triste e falei que na volta do almoço ia trazer um presente para ele. Dei de presente toda a coleção do Toy Story que tinha comprado para o meu filho nos Estados Unidos. Eles só deixaram o Garras quando quiseram, eu mesmo liguei para o pai dela (Eliane) para vir buscar ela e os filhos”, afirma.

O delegado diz que não sabe se por “medo ou por dinheiro”, em novo depoimento gravado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) no dia 22 de maio de 2019, a testemunha negou tudo o que disse aos delegados e promotores e passou a alegar tortura. “Falavam que iam arrancar a minha cabeça”, repetiu Elaine na tarde de ontem durante júri popular.

“Eu já sabia que seria alvo desse grupo. Por isso, resolvi me afastar. Depois de tudo que enfrentei durante esse processo, fui diagnosticado com grave doença cardíaca. Não quero mais passar por isso. Eles vão fazer de tudo para acabar com a credibilidade de uma investigação exemplar”, rebate.

Na sequência, as acusações contra Peró continuaram, mas em depoimento de Marcelo Rios. Apesar de negar envolvimento na morte de Matheus, ele admitiu ser o responsável pelo arsenal apreendido na casa do Bairro Monte Líbano, que deu o start à Operação Omertà. No entanto, alegou que foi contratado por outro réu da semana, Juanil Miranda, apontado no processo como um dos pistoleiros pagos para a execução de PX.

Marcelo foi ainda mais fundo no ataque contra o delegado, para negar que tenha confessado em algum momento participação no plano para matar: “Peró cheirou cocaína, tomou uísque na minha frente, enquanto me batia”, disse.

Em outro momento, foi questionado pelo juiz: “O senhor confirma o que os policiais disseram aqui?”, o réu colocou mais uma vez em dúvida a lisura do processo. “Excelência, o Garras é todo monitorado por câmeras. O senhor acha que se eu tivesse falado alguma coisa, eles não teriam apresentado essa filmagem?”.

Peró nega que a sala de depoimento tenha câmeras e que há muitos anos não bebe nem cerveja. “Cansei de todo esse desespero da defesa. Não tem como salvar os réus e apelam, fantasiam. Eu só espero que venha a condenação logo”.