Após a descoberta de esquema de propina, Apae deixa 2,6 mil ostomizados sem bolsas coletoras

Paulo é coordenador técnico do CER/Apae desde 2015 (Foto: Reprodução | Redes Sociais) - CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS
Em decorrência do esquema de corrupção na Apae de Campo Grande, revelado em 29 de novembro do ano passado durante a “Operação Turn Off”, do MPE (Ministério Público Estadual), 2,6 mil pessoas ostomizadas estão sem as bolsas coletoras e urina ou fezes em Mato Grosso do Sul.

Em Campo Grande, a falta de bolsas ocorre há pelo menos três semanas, mas no interior do Estado há pacientes que estão à espera há pelo menos 45 dias, conforme Mayara Costa, voluntária da Associação dos Ostomizados de Mato Grosso do Sul.

Por conta desta falta de bolsas na Apae, a associação está prestando ajuda para cerca de 140 ostomizados que não conseguem bancar o custo das bolsas por conta própria.

A investigação do MPE apontou que o diretor técnico da CER Apae, Paulo Henrique Muleta de Andrade, que chegou a ser preso no dia 29 de novembro, tinha uma espécie de esquema para privilegiar uma das fornecedoras deste material e em troca disso recebia propina.

Com a descoberta, o contrato com essa empresa foi suspenso, mas a Apae, que continua recebendo dinheiro do Governo estadual para fazer as compras, não conseguiu encontrar de imediato outros fornecedores que pudessem atender à demanda dos cerca de 2,6 mil pacientes atendidos pelo SUS aqui no Estado.

O problema do desabastecimento foi denunciado pelo Conselho Municipal de Saúde de Campo Grande ao Ministério Público Estadual durante reunião na última terça-feira. Diante disso, a promotoria exigiu explicações da Apae. Em 2020, o valor anual repassado à Apae era da ordem de R$ 11,2 milhões.

Conforme informações repassadas ao MPE, depois da descoberta do esquema de corrupção, a Apae passou a fazer as compras com três empresas e a previsão é de que parte dos produtos seja entregue até o dia 26 de fevereiro. Porém, o reabastecimento total deve acontecer somente a partir de abril, acredita Mayara Costa.

Sem o fornecimento feito pelo poder público, por meio de convênio com a Apae, os ostomizados são obrigados a gastar em torno de R$ 1,5 mil por mês para a aquisição das bolsas.

Porém, como muitos não dispõem deste valor, acabam reutilizando as bolsas. Mas, conforme Mayara, isso acaba acarretando uma série de consequências, principalmente infecções das mais variadas. Além disso, impede que as pessoas saiam de casa e faz com que sofram uma infinidade de constrangimentos.

A maior parte dos pacientes que utilizam as bolsas de coleta das fezes são vítimas de câncer de intestino e muitas delas são obrigadas a utilizar pelo resto da vida, explica Mayara.

Ela destaca também que a quantidade de ostomizados aumentou muito durante a pandemia de covid, já que muitos infectados pelo vírus apresentavam problemas intestinais graves. Boa parte destes, porém, está conseguindo fazer cirurgia de reversão para voltar a ter uma vida normal.

 

O CASO

Alvo de mandado de prisão durante a operação Turn Off, na manhã desta quarta-feira (29), o coordenador técnico do CER/Apae (Centro Especializado de Reabilitação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), Paulo Henrique Muleta de Andrade, recebeu propina para favorecer as empresas dos também investigados Lucas Andrade Coutinho e Sérgio Duarte Coutinho.

Conforme apurou o Campo Grande News, Paulo teria iniciado a tratativa com os empresários em 2019 para favorecê-los nas compras realizadas para atender os pacientes ostomizados, com recursos provenientes dos convênios firmados com o Estado.

Paulo, que é fisioterapeuta e contratado da Apae desde 2015, receberia 4% das vendas efetuadas pelas empresas dos irmãos Lucas e Sérgio. No entanto, com receio de transferir o dinheiro para a conta bancária do coordenador, a propina foi paga em espécie no dia 16 de julho de 2019.

Toda a operação do grupo foi comprovada através de troca de mensagens interceptadas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) que também mostraram que a conduta dos investigados continuou nos anos de 2021 e 2022. Ainda na investigação, o favorecimento para as empresas de Lucas e Sérgio foi promovido por outra funcionária da Apae, no entanto, ela não foi alvo da operação.

Em nota, a Apae informou que não sabia de quaisquer irregularidades praticadas pelos funcionários dentro da instituição e que não compactua com nenhum tipo de ação que possa ter beneficiado de forma ilícita “quem quer que seja”. – COM INFOS – CAMPO GRANDE NEWS